sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A Beleza Não Necessita de Loucuras (#stopthebeautymadness)

Redes sociais: esse lugar mágico de interação social com desconhecidos e com o desconhecido, está sendo invadida cada vez mais por desafios. Depois do Desafio do Gelo, para chamar atenção para a ELA (doença grave que pouca gente tinha conhecimento antes do tal desafio congelante ~literalmente~), o que estourou essa semana foi o nem tão importante assim desafio da foto sem make, sem filtro. Uma tentativa de fazer com que as mulheres vejam o quanto elas são bonitas sim, sem maquiagem, cada um do seu modo, sem precisar seguir o padrão típico mundial.
Parece bobagem, eu sei. Com tanta causa pra se lutar, pra que perder tempo com tirar a maquiagem e postar pros seus amigos a sua cara lavada, cheia de mancha, espinha e defeitos que você odeia, não é mesmo? Eu que raramente uso maquiagem – digo, raramente mesmo – não vi problema nenhum em participar e colocar lá no Instagram minha cara de quem nem liga pra opinião dos outros sobre minha ausência de base, corretivo, batom, lápis de olho, rímel, o diabo a quatro.
O desafio #stopthebeautymadness é só uma forma mais leve de tentar falar pras mulheres que todas são bonitas sim, de qualquer jeito. Com cabelo blackpower ou chapinado. Com cachos ou sem volume. Cheios de produtos ou ao natural. Que a gente é bonita sim, acordando ou saindo para uma festa. De salto ou com tênis no pé. De calça jeans ou vestido. Parece uma puta bobagem, mas muita mulher só se sente bonita produzida. Só se sente bem consigo mesma depois de passar horas na frente do espelho se maquiando e escondendo cada marca e defeito que a idade parece lhe trazer ~ seja as malditas espinhas ou as insuportáveis rugas~.
Eu sou uma menina bastante desligada com essa coisa de beleza. Bastante mesmo. Me ver de maquiagem é quase um evento anual. Acho que dá para contar nos dedos às vezes que passei mais do que lápis de olho e rímel. Mal uso batom. Minhas bases nunca terminam antes de ficarem vencidas. E eu não tenho nenhum produto de maquiagem que toda pessoa apaixonada por maquiagem sonha em ter. Eu não ligo. E as pessoas me olham com uma cara de desconfiança quando eu digo isso. Mas, te digo, é errado se olhar no espelho e gostar do que vê? Não quer dizer que eu não mudaria alguma coisa em mim ou que não me incomodam as marcas de espinha que acabei colecionando, mais onde o cabelo tampa por causa da umidade. Não quer dizer que eu me ache maravilhosa. Longe disso. Eu me acho normal. Mas me permito gostar do meu jeito normal. E não coloco na cabeça que só vou ser bonita se me maquiar, arrumar o meu cabelo, colocar uma roupa de marca e um salto alto. Entende qual é o ponto do desafio? Não tem nada de errado em gostar de maquiagem. Tem tudo de errado achar que só se é bonita com ela.
Eu também não perco muito tempo com o cabelo. Fico até desconcertada quando alguém me pergunta o que eu faço com ele porque muita gente acha bonito. Eu não faço nada. É sério. Eu corto as pontas duas vezes por ano – cabelereiros, não me matem – E raramente hidrato ele como deveria – cabelereiros, não me matem parte II – Não faço nada de diferente além de lavar. Eu nem mesmo seco. Não há uma só química no meu cabelo nos últimos dois anos, desde que entrei na faculdade. A falta de tempo para perder no salão de beleza me forçou a isso, mas a verdade é que eu nunca tive muito saco para salão de beleza. Teve uma época que eu fazia luzes e progressiva, só pra me encaixar no padrão loiro-cabelo-liso. Ou porque meu cabelo foi liso mais da metade da minha vida (até os treze, não havia uma voltinha sequer nele) e isso me dá uma certa nostalgia. Pode ser. Eu ia pro salão de beleza e sofria com o cheiro dos produtos e com meus fios sendo puxados só para clarear. Aí eu cansei. É isso, entende? Eu cansei e comecei a procurar maneiras de gostar do meu cabelo como ele era – assim, que fica cheio de frizz em tempo seco, que não tem uma forma definida e que às vezes ele é mais cacheado, às vezes ele é mais escorrido, às vezes ele não é nada – Ao invés de gastar muito dinheiro tentando ter o cabelo que estava na revista, eu aceitei meu cabelo do jeito que ele era: inconstante. Como eu sou. E parei de procurar por milagres. A única coisa que talvez eu faça diferente do jeito que todo mundo faz é o modo como lavo meu cabelo ~ mas isso eu posso falar outra hora, porque não cabe aqui~.
Me ver de salto alto também é difícil. Eu sou capricorniana, prezo por meu conforto. Não gosto de sentir dores ou me sacrificar para ficar bonita. Aliás, acho a máxima “beleza requer sacrifício” a maior bobagem que já inventaram. Muita coisa nessa vida requer sacrifício, mas beleza, para mim, é a última delas. É claro que eu uso quando tenho que usar ~festas, por exemplo ~Mas, se eu puder optar por sapatilha, rasteirinhas, sandálias sem saltos, botas e, confesso, muito tênis no pé, eu opto. Aliás, em casa, eu também estou sempre descalça.
Como vocês podem ver, eu nunca poderia ser uma blogueira de moda. Nem queria. Acho que dá muito trabalho passar todos aqueles produtos, arrumar o cabelo e ainda tentar combinar a roupa. Prefiro gastar o tempo escrevendo. Ou lendo. Ou conversando com meus amigos. Ou abraçando meu namorado. Eu sei que para mim, que peso 45 quilos, que visto 36, que tenho um cabelo considerado pela maioria como ~bom~ falar sobre não seguir o padrão é forçar uma barra. Mas eu sou baixinha, tá? E nem por isso eu tenho um guarda-roupa cheio de salto quinze para me amar mais.
Uma coisa que eu aprendi nos meus poucos vinte e dois anos de idade é que ninguém vai te aceitar se você não fizer isso primeiro. Sabe? Se você não se olhar no espelho e se amar com essas mil espinhas na cara, aquela cicatriz horrível, seu peso acima da média ou sua altura que não veio com a genética ninguém mais vai. Ninguém vai te achar linda se você não se sentir linda, pra começar. Não tem nada a ver com padrões estipulados pela mídia ou por modelos ou por roupas lindas. É loucura tentar se encaixar num corpo de Gisele se você não tem genética para um corpo de modelo. Todos os corpos são bonitos. Todos os rostos são bonitos. Todos os cabelos são bonitos. Você é linda. Eu sou linda. Somos lindas. Sendo capa de revista ou não. Consideradas por todo mundo ou só pela gente mesmo.
As pessoas mais incríveis que eu conheci na vida são aquelas que se aceitaram como eram. Que saem por aí com um blackpower incrível. Que mostram a cara lavada sem medo. Que podem sim gostar de maquiagem, porque não tem nenhum crime nisso. Mas não transforma isso em loucura, em obsessão, em não-posso-sair-de-casa-agora-porque-não-me-maquiei. As pessoas mais incríveis que eu conheço são aquelas que são lindas mesmo sendo completamente oposto ao que todo mundo acha que é linda. Porque beleza, gatas, beleza tem a ver com nossa alma mais do que com nosso corpo. E alma bonita não é a mais maquiada, com cabelo arrumado, de salto quinze e vestindo 36. Alma bonita é alma que aprende a amar os outros como eles são, mas, principalmente, a se amar como se é.
Parem com essa loucura por beleza. O maior desafio aqui não é postar uma foto sem maquiagem ou sem filtro, mas se achar linda acordando pela manhã tanto quanto você se acha linda arrumada para uma festa.

Ps: e se quiser me ver sem maquiagem, sem chapinha no cabelo, sem salto alto basta ir todos os dias na faculdade; ou me encontrar em qualquer hora do dia. Eu te juro: não tô nem aí pro que as pessoas estão achando pelas minhas espinhas na cara e meu cabelo fora do padrão. Me amo assim. E, vou te contar um segredo, sou muito amada sendo assim.


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