Redes sociais:
esse lugar mágico de interação social com desconhecidos e com o desconhecido, está
sendo invadida cada vez mais por desafios. Depois do Desafio do Gelo, para
chamar atenção para a ELA (doença grave que pouca gente tinha conhecimento
antes do tal desafio congelante ~literalmente~), o que estourou essa semana foi
o nem tão importante assim desafio da foto sem make, sem filtro. Uma tentativa
de fazer com que as mulheres vejam o quanto elas são bonitas sim, sem maquiagem,
cada um do seu modo, sem precisar seguir o padrão típico mundial.
Parece bobagem,
eu sei. Com tanta causa pra se lutar, pra que perder tempo com tirar a
maquiagem e postar pros seus amigos a sua cara lavada, cheia de mancha, espinha
e defeitos que você odeia, não é mesmo? Eu que raramente uso maquiagem – digo, raramente
mesmo – não vi problema nenhum em participar e colocar lá no Instagram minha
cara de quem nem liga pra opinião dos outros sobre minha ausência de base,
corretivo, batom, lápis de olho, rímel, o diabo a quatro.
O desafio #stopthebeautymadness é só uma
forma mais leve de tentar falar pras mulheres que todas são bonitas sim, de
qualquer jeito. Com cabelo blackpower ou chapinado. Com cachos ou sem volume. Cheios
de produtos ou ao natural. Que a gente é bonita sim, acordando ou saindo para
uma festa. De salto ou com tênis no pé. De calça jeans ou vestido. Parece uma
puta bobagem, mas muita mulher só se sente bonita produzida. Só se sente bem
consigo mesma depois de passar horas na frente do espelho se maquiando e
escondendo cada marca e defeito que a idade parece lhe trazer ~ seja as
malditas espinhas ou as insuportáveis rugas~.
Eu sou uma
menina bastante desligada com essa coisa de beleza. Bastante mesmo. Me ver de
maquiagem é quase um evento anual. Acho que dá para contar nos dedos às vezes
que passei mais do que lápis de olho e rímel. Mal uso batom. Minhas bases nunca
terminam antes de ficarem vencidas. E eu não tenho nenhum produto de maquiagem
que toda pessoa apaixonada por maquiagem sonha em ter. Eu não ligo. E as
pessoas me olham com uma cara de desconfiança quando eu digo isso. Mas, te
digo, é errado se olhar no espelho e gostar do que vê? Não quer dizer que eu não
mudaria alguma coisa em mim ou que não me incomodam as marcas de espinha que
acabei colecionando, mais onde o cabelo tampa por causa da umidade. Não quer
dizer que eu me ache maravilhosa. Longe disso. Eu me acho normal. Mas me
permito gostar do meu jeito normal. E não coloco na cabeça que só vou ser
bonita se me maquiar, arrumar o meu cabelo, colocar uma roupa de marca e um
salto alto. Entende qual é o ponto do desafio? Não tem nada de errado em gostar
de maquiagem. Tem tudo de errado achar que só se é bonita com ela.
Eu também não perco
muito tempo com o cabelo. Fico até desconcertada quando alguém me pergunta o
que eu faço com ele porque muita gente acha bonito. Eu não faço nada. É sério. Eu
corto as pontas duas vezes por ano – cabelereiros, não me matem – E raramente
hidrato ele como deveria – cabelereiros, não me matem parte II – Não faço nada de
diferente além de lavar. Eu nem mesmo seco. Não há uma só química no meu cabelo
nos últimos dois anos, desde que entrei na faculdade. A falta de tempo para
perder no salão de beleza me forçou a isso, mas a verdade é que eu nunca tive
muito saco para salão de beleza. Teve uma época que eu fazia luzes e
progressiva, só pra me encaixar no padrão loiro-cabelo-liso. Ou porque meu
cabelo foi liso mais da metade da minha vida (até os treze, não havia uma
voltinha sequer nele) e isso me dá uma certa nostalgia. Pode ser. Eu ia pro
salão de beleza e sofria com o cheiro dos produtos e com meus fios sendo
puxados só para clarear. Aí eu cansei. É isso, entende? Eu cansei e comecei a
procurar maneiras de gostar do meu cabelo como ele era – assim, que fica cheio
de frizz em tempo seco, que não tem uma forma definida e que às vezes ele é
mais cacheado, às vezes ele é mais escorrido, às vezes ele não é nada – Ao invés
de gastar muito dinheiro tentando ter o cabelo que estava na revista, eu
aceitei meu cabelo do jeito que ele era: inconstante. Como eu sou. E parei de
procurar por milagres. A única coisa que talvez eu faça diferente do jeito que
todo mundo faz é o modo como lavo meu cabelo ~ mas isso eu posso falar outra
hora, porque não cabe aqui~.
Me ver de salto
alto também é difícil. Eu sou capricorniana, prezo por meu conforto. Não gosto
de sentir dores ou me sacrificar para ficar bonita. Aliás, acho a máxima “beleza
requer sacrifício” a maior bobagem que já inventaram. Muita coisa nessa vida
requer sacrifício, mas beleza, para mim, é a última delas. É claro que eu uso
quando tenho que usar ~festas, por exemplo ~Mas, se eu puder optar por
sapatilha, rasteirinhas, sandálias sem saltos, botas e, confesso, muito tênis
no pé, eu opto. Aliás, em casa, eu também estou sempre descalça.
Como vocês podem
ver, eu nunca poderia ser uma blogueira de moda. Nem queria. Acho que dá muito
trabalho passar todos aqueles produtos, arrumar o cabelo e ainda tentar
combinar a roupa. Prefiro gastar o tempo escrevendo. Ou lendo. Ou conversando
com meus amigos. Ou abraçando meu namorado. Eu sei que para mim, que peso 45
quilos, que visto 36, que tenho um cabelo considerado pela maioria como ~bom~
falar sobre não seguir o padrão é forçar uma barra. Mas eu sou baixinha, tá? E nem
por isso eu tenho um guarda-roupa cheio de salto quinze para me amar mais.
Uma coisa que
eu aprendi nos meus poucos vinte e dois anos de idade é que ninguém vai te
aceitar se você não fizer isso primeiro. Sabe? Se você não se olhar no espelho
e se amar com essas mil espinhas na cara, aquela cicatriz horrível, seu peso
acima da média ou sua altura que não veio com a genética ninguém mais vai. Ninguém vai te achar
linda se você não se sentir linda, pra começar. Não tem nada a ver com padrões
estipulados pela mídia ou por modelos ou por roupas lindas. É loucura tentar se
encaixar num corpo de Gisele se você não tem genética para um corpo de
modelo. Todos os corpos são bonitos. Todos os rostos são bonitos. Todos os
cabelos são bonitos. Você é linda. Eu sou linda. Somos lindas. Sendo capa de
revista ou não. Consideradas por todo mundo ou só pela gente mesmo.
As pessoas mais
incríveis que eu conheci na vida são aquelas que se aceitaram como eram. Que saem
por aí com um blackpower incrível. Que mostram a cara lavada sem medo. Que podem
sim gostar de maquiagem, porque não tem nenhum crime nisso. Mas não transforma
isso em loucura, em obsessão, em não-posso-sair-de-casa-agora-porque-não-me-maquiei.
As pessoas mais incríveis que eu conheço são aquelas que são lindas mesmo sendo
completamente oposto ao que todo mundo acha que é linda. Porque beleza, gatas,
beleza tem a ver com nossa alma mais do que com nosso corpo. E alma bonita não é
a mais maquiada, com cabelo arrumado, de salto quinze e vestindo 36. Alma bonita
é alma que aprende a amar os outros como eles são, mas, principalmente, a se
amar como se é.
Parem com essa
loucura por beleza. O maior desafio aqui não é postar uma foto sem maquiagem ou
sem filtro, mas se achar linda acordando pela manhã tanto quanto você se acha
linda arrumada para uma festa.
Ps: e se quiser
me ver sem maquiagem, sem chapinha no cabelo, sem salto alto basta ir todos os
dias na faculdade; ou me encontrar em qualquer hora do dia. Eu te juro: não tô
nem aí pro que as pessoas estão achando pelas minhas espinhas na cara e meu
cabelo fora do padrão. Me amo assim. E, vou te contar um segredo, sou muito
amada sendo assim.
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