Hoje eu te vi. Não sei se realmente vi, ou se foram meus
olhos condicionados pela saudade, pela dor, pelo amor que sinto por você, que
te imaginou. Mas te vi, ilusão ou realidade, do outro lado da rua.
Você estava de terno. E eu fiquei me perguntando, quando foi
que você começou a usar paletó e gravata. Eu sempre te pedia. E você se negava.
Dizia que era feio. Que era quente. Que era do Rio, quarenta graus, cidade da
beleza e do caos. Que era. No passado mesmo, pelo jeito.
Você comprou uma rosa vermelha na floricultura. Você nunca me deu rosas. Muito menos vermelhas. Ela deve ser importante para você. Para
que você use terno. Para que você compre rosa. Vermelha.
E eu quis ir lá. E eu quis atravessar a rua. E eu quis
cutucar seu ombro. E eu quis dizer: vem cá, você me esqueceu tão fácil assim?
Você não sente mais nadinha por mim? Não acorda assustado a procura dos meus
braços, do meu cheiro, do meu corpo, do meu sorriso? Ela é tão boa que te faz
apagar da mente e do coração tudo aquilo que vivemos? Todas as viagens, a
conversa, a companhia, o companheirismo? Os nossos sonhos, os nossos planos?
Quis atravessar a rua, te sacudir e perguntar se os planos e os sonhos que tem
com ela são os mesmo que tinha comigo. Eu quero olhar nos seus malditos olhos
claros e perguntar: você sabe quem eu sou? Você ainda pensa que sou importante
para você? Vem cá, o excelentíssimo senhor de terno e rosa na mão ainda lembra
meu nome?
Eu quero fazer um barraco, quero gritar, dizer que, olha, eu
ainda estou viva. E, olha, você não perguntou, mas a minha saúde está ótima. E,
olha, eu finalmente conheci Londres. E
foi maravilhoso. E, olha, eu ainda sinto sua falta, mesmo que você não use
terno, nem me dê flores, droga, eu ainda lembro seu nome. E seu cheiro. E seu corpo.
E, olha, eu quero que você e essa vaca que te recebe de gravata e flor na mão,
vão se foder, os dois, juntinhos, porque eu também posso seguir em frente. E que também posso ter um homem que use terno
e me dê flor. E que sou bem melhor que essa zinha e você, juntos, com passagem
para Londres.
Mas não atravessei. Porque sei que não há palavras que te
façam ficar. E não há palavras que me façam ir. Então você se vai, você, que
nem mesmo sei se é ilusão, loucura, vicio, tortura ou realidade, entre terno e
rosa vermelha.
E eu fico aqui. Abandonada, com saudade, com raiva, com
lembranças, com alucinações. Sabendo que preciso seguir em frente, mesmo que
isso significa te deixar para trás.
E não há palavras que diga o quanto isso me dói. O quanto eu
sofro. E não há palavras que expresse o que sinto. Para seguir em frente e te
deixar, você e essa zinha, para trás, para as lembranças, para um passado.
Mas sigo.
Porque não há palavras, agora, que façam você voltar para
meus braços.
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