quarta-feira, 27 de junho de 2012

Cafeína Diária



Ele era lindo, ela pensou enquanto seu café esfriava por entre os dedos. Nunca cansava de olha-lo. Tinha aqueles cachos negros que seus dedos adoravam emaranhar-se. Aquele cheiro gostoso de fruta achada no armário numa manhã de Natal. Um gosto cítrico. Não doce. Não azedo. Tipo laranja apanhada do pé. Uns olhos grandes e convidativos, que parecia sempre avisar que ela estava em casa. Mas o que mais gostava nele era aquele sorriso.

Sorriso que, ela sabia, ele só dava a ela. Um sorriso despachado de quem sabia que a fazia feliz, de quem  sabia  que tinha o coração dela. Sorriso confiante –mas não convencido –de quem sabia que ra foda. Sorriso assim, que nem todo aberto, mostrava todos os dentes, sempre brancos e brilhosos. Sorriso que ele dava quando ela lhe tentava esconder algo dele, porque ninguém a viu tão numa e transparente como ele.

Foi para ele que ela tirou a roupa –não do corpo, mas da alma –sem medo das estrias e celulite que a nudez não escondia. Foi para ele que ela deu a mão e saiu de baixo da cama para enfrentar seus medos e fantasmas. Foi para ele que ela contou das decepções que carregava no peito e que achava que nunca superaria. Foi para ele –e para mais ninguém, até mesmo para ela –que ela se mostrou, sem maquiagem, sem escova no cabelo, sem salto alto no pé, como ela era e como ela achou que nunca fosse.

Eles se olharam nos olhos. Era assim que ambos gostavam. Sem muitas palavras, sem muitos discursos, sem muita declaração. Só olhares, sorrisos e cafés. Café, este, que esfriava por entre seus dedos enquanto ela pensava pela milésima vez que, droga, ele era mesmo bonito. E, merda, também era dela. E não que ela fosse possessiva. Não era. Vivia aquele romance sem esperar pelo amanhã, sem acreditar no “para sempre”. Vivia aquela história e dividia com ele, sem medo que acabasse –porque medo era uma coisa que nunca tinha nos braços dele –Mas, embora não compreendesse porque ele, tão lindo, continuava com ela, não sofria por saber que um dia ele iria embora.

Ela deixava seu café esfriar por entre os dedos sabendo que sua dose necessária de cafeína diária estava bem ali, lhe olhando, sorrindo despretensiosamente com cara de “eu sou foda e estou aqui”.

Ele era mesmo foda. Ele estava mesmo ali. Não esperava que aquele amor fosse para sempre. E talvez por isso –por não haver cobranças, nem espera, nem nada além da vivência daquele amor o máximo que podia –eles nunca tiveram um fim.

Foto de We Heart It

Um comentário:

  1. Acho que vou parar de ler esses seus tipo de textos, porque tá me fazendo lembrar de pessoas que não deveria lembrar. :/ lindo, lindo e lindo <3

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