sexta-feira, 15 de junho de 2012

Vizinhos Distantes

Moravam no mesmo prédio, mas não se conheciam. Vez em quando estavam juntos no elevador, não se notavam. Mal de metrópoles, dizem. Mal se sabe quem mora de frente pra sua casa, que dirá no mesmo condomínio. Pegavam o mesmo caminho pro trabalho, mas não se cruzavam. Ele preferia o conforto do carro. Ela ia sempre de metro. Perdeu-se as contas de quantas vezes ficavam um do lado do outro sem saberem que o outro, que tanto procuravam, estavam lá. Frequentavam os mesmo s lugares, sem se verem. Cegos pela correria do dia-a-dia, como se isso fosse desculpa para não enxergarem quem deveria.

Um dia, sem saberem por quê, se cumprimentaram no elevador. Ele, um solteirão convicto, achou aquela mulher uma gracinha. Ela, que acabava de sair de um relacionamento conturbado, não tinha cabeça para olhar para ninguém. Depois se cruzaram no fórum, ele, um advogado renomado, estava ali para uma abertura de processo. Ela, alguém que mesmo com trinta anos tentava se achar, para assinar o divorcio.

Eles se olharam, talvez se perguntando se era só impressão ou se já haviam se visto em algum lugar. Mas logo ela foi chamada para assinar o divorcio e ele estava com muita pressa para espera-la.

Um dia eles estavam no elevador e a energia acabou. Só eles, se luz, num cubículo pequeno. Odeio elevador, ela disse, nervosa, se não morasse num andar tão alto usaria escada. Calma, ele respondeu, o elevador é seguro. Dê-me sua mão.

Ela deu, sem saber que ao seu lado estava aquele que podia ser o homem de sua vida. Ele segurou, talvez já sabendo pelo toque e não pelo olhar, que ela era tudo que ele sempre quis. Quando a luz voltou, não soltaram as mãos.  De algum jeito, não conseguiam. Sorriram e se olharam pela primeira vez depois de anos por perto. Ela era mesmo uma gracinha, ele pensou. Ele não era de todo mal, ela achou.

Ele, que mal tinha tempo para ele mesmo, perguntou se ela não aceitaria tomar um café com ele, quem sabe. Ela odiava café, mas não queria ser grosseira com um estranho vizinho que foi tão gentil.


Aceitou.

Dali alguns anos, talvez percebendo que estavam sempre por perto sem se verem ou se darem conta disso, eles se perguntariam quantas vezes era necessário para o amor bater na porta para que paramos de dar desculpas e finalmente deixe-o entrar sem medo de sermos felizes.

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