Motivos

Tentei colocar no papel todos os motivos para te amar. Foi estranho, porque eu nunca havia precisado enaltecer suas qualidades para permanecer aqui. Eu sempre fiquei porque sempre achei que era ao seu lado o meu lugar. Costumava ser fácil, como piscar os olhos. Costumava ser necessário, como respirar. E costumava ser gostoso, como chocolate quente em dia frio de inverno.

Peguei a caneta e o papel e tentei colocar os motivos que me trouxeram para os seus braços, como se isso fosse o bastante para me provar que era aqui que eu deveria ficar. Mas o café que eu tomava esfriou. O cigarro que eu tragava queimou. E eu continuava sem sair da primeira linha.

Bati a caneta na mesa enquanto tentava me lembrar do sorriso que tanto amava, do seu brilho no olhar que tanto me encantava, das palavras que me convenceram a vir até você. Tentei me lembrar dos seus braços que me seguravam e eu me sentia segura, mas só consegui me lembrar da sensação de estar presa. Tentei achar, dentro de mim, a sensação de conforto que eu tinha ao dormir o seu lado, mas só me veio na cabeça a inquietude de estar sempre no mesmo lugar. Tentei achar algum motivo para ficar. Qualquer um. Qualquer coisa que me fizesse dar alguma chance a mim, a  você, a nós dois, a nossa historia. Só achei razões para te deixar.

Olhei para você que ainda dormia alheio a tudo e tentei me lembrar de como adorava te ver com essa expressão despreocupada. Tentei me lembrar  de como eu te achava lindo e de como eu gostava de ser sua. Tentei recordar-me de como eu adorava te ouvir dizer que me amava e que éramos um casal eterno. Só me veio na cabeça a sensação de estar presa, de angústia, de desespero, de solidão.

Tentei colocar no papel tudo o que costumava adorar em você e algum motivo para me fazer ficar. Não achei nenhum. Ao invés disso, só consegui escrever, enquanto o café esfriava e o cigarro queimava, um desculpe, não dá mais, eu preciso ir, acabou, sinto muito.

Então arrumei as malas e saí, sem precisar me esforçar para saber dos motivos que eu tinha para te deixar e finalmente ir embora. Sem precisar me lembrar de como é boa a sensações de liberdade de estar aonde quer estar. Sem precisar achar razões para seguir em frente e te esquecer.

Tentei enumerar todos os motivos que me levou a te amar e só consegui pensar que foi bom enquanto durou. Mas acabou. E não há motivos mais que me façam voltar.