Você foi a maior das minhas decepções. A verdade crua e nua
foi essa: você podia ter sido tudo, podia ter escolhido qualquer opção menos
dolorosa, podia ser presença, confiança, companheirismo. Eu deixei as cartas na
sua mão para você bater. Você preferiu ser a minha maior decepção.
Às vezes eu me pego pensando o que foi que a gente foi.
Quanto mais o tempo passa e eu analiso os fatos mais vejo que fomos muito menos
do que sempre pensei. A gente foi muito pouco. Você soube manter a distância
entre nós muito bem enquanto eu me deixava ser invadida por você. Logo eu, que
sempre sou tão desconfiada, que não me jogo sem conferir o equipamento de segurança,
deixei que você me invadisse. Quase ninguém entende porque eu ainda insisto em
falar de você. E como poderiam? Nem eu mesma entendo. Eu já disse que você não me
dói. Ainda incomoda, ainda coça, mas doer –dilacerador como antes, pelo menos –não
dói. Não choro mais, não me puno mais, nem me lastimo mais. Já foi. Você já foi.
E foi porque tinha que ir, porque decidiu ir. E a mim não restou mais nada além
de aceitar sua nova direção. Não posso culpar o vento que te carregou. Nem mesmo
o destino que um dia nos aproximou. Você foi porque você quis. Foi, porque na
verdade, seu lugar nunca nem mesmo foi aqui.
Por algum tempo, eu fiquei parada esperando que, com uma
sorte, um vento torto, uma rota errada, você voltasse para cá. Não tenho
vergonha de dizer isso. Eu confiei em você. Eu achei que você estaria aqui para
o que precisasse. Que você não seria capaz de me dar as costas. Achei que, um
dia, lhe cairia a ficha, sentiria minha falta. Voltaria. Mas a confiança é uma
mentira eu estava errada. Seu caminho era outro e você entendeu, antes de mim,
que ficar não melhoraria as coisas.
Quase não tenho noticias suas e ainda não decidi se assim é
melhor. Mas sei que anda alcançando tudo o que sonhava quando estava aqui. Fico
feliz por você. De verdade. Você até pode não acreditar, mas eu sempre quis o
melhor para você. No fim, acho que você conseguiu tirar toda a sua insegurança de
você. Com sorte, talvez, você parou com aquela mania besta de querer provar a
sua mãe que era melhor do que ela lhe dizia. Queria que você soubesse eu não guardo
rancor, nem mágoa, talvez um pouco de nostalgia. E só. Se não digo ou não te
procuro é porque não tenho mais vontade. Entendi. Seu lugar não é aqui. E tá
tudo bem, posso conviver com isso. Se escrevo é porque ainda há um resto de
sentimento a me livrar. É meu jeito mais prático de terminar histórias, encerrar
ciclos e pontuar onde pontos claramente já foram colocados.
Ainda assim, você foi
minha maior decepção. Mas agora já consigo enxergar o lado bom depois de tanta
dor. O bom disso é que as outras decepções que vieram depois não doeram tanto, não
me feriram tanto. Como se sua ausência tivesse me anestesiado. E, embora eu não
esteja imune –longe disso, porque as decepções ainda me tiram o ar –todas as
perdas se tornaram suportáveis desde o momento que superei perder você.
Um dos melhores textos que li aqui e que me tocou bastante. Parabéns pelo texto Nanda.
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