segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Quinze Minutos




Oi, você tem quinze minutos nessa sua agenda maluca? É que eu tô naquele café, sabe? Aquele que a gente costumava vir. Você vem e pede aquele cappuccino gelado que eu nunca entendi como podia gostar tanto e eu tomo esse meu café pingado com leite e canela. Você sabe, eu odeio qualquer tipo de café gelado e passado tantos anos eu anda não entendo esse seu gosto maluco. Mas tudo bem. Tanto faz. Você vem e a gente mata um pouco dessa saudade. Da minha saudade. Que me mata.

Prometo não tocar na sua ferida. Nem mesmo na minha. A gente só toma um café como velhos conhecidos e falamos de trivialidades. O tempo, talvez. Você já reparou que o calor e o frio estão fazendo revezamento, não é? Peguei uma gripe desgraçada por conta disso. Por conta disso também estou com essa voz rouca. Acho que você nem reparou. Tá tudo bem. A gente pode falar do trânsito também. Ou da crise mundial. Ou da reeleição de Obama lá nos Estados Unidos. A gente pode rir da roupa da mulher que está aqui no café. Você tem que ver.

Vem. E por quinze minutos a gente finge que o tempo não passou e nos arrastou junto. A gente finge que nem você nem eu estamos feridos e sangrando. A gente finge que não escutamos aquelas ofensas. Nem que dissemos tudo aquilo. Você pede seu cappuccino gelado e eu peço mais uma dose desse café. E fingimos que estamos nos conhecendo agora. A gente diz o que faz, o que quer, o que viu da vida. E esquece do último ano, das marcas que ficaram, das lágrimas que derramou, das feridas que latejou, em mim, em você, na gente. A gente finge que tá leve, que tá vazio de rancor, que o passado não nos marcou. E tenta começar de novo, em quinze minutos, essa história que terminou meio torta, meio sem terminar. A gente finge que o tempo não fez diferença nem que a dor é tão imensa, e, sem retornar as páginas dessa história, começa a fazer outro capítulo, como se as anteriores fossem um rascunho mal feito pedindo para ser reescrito.

Ah. Esquece. Desculpe por interromper sua vida tão corrida com sua agenda cheia. Meus quinze minutos também se acabaram. Meu café já esfriou. E para falar a verdade eu não aguento outra dose –nem de café, nem de você –A gente se fala. Quem sabe não nos vemos por aí, entre um compromisso e outro. Ou talvez não. Sabe aquela história de você vir e fingir? Então. Finja que esses quinze minutos também não existiu.

Até mais. Ou adeus. Ainda não decidi. Mas em todo caso, tchau. A gente se vê. E finge que nada disso aconteceu. Nem esses quinze minutos nem todo o resto. Tá? Um dia, quem sabe, a gente se vê. Ou não. Tanto faz.

E fica com Deus.

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