Oi, você tem quinze minutos nessa sua agenda maluca? É que
eu tô naquele café, sabe? Aquele que a gente costumava vir. Você vem e pede
aquele cappuccino gelado que eu nunca entendi como podia gostar tanto e eu tomo
esse meu café pingado com leite e canela. Você sabe, eu odeio qualquer tipo de
café gelado e passado tantos anos eu anda não entendo esse seu gosto maluco.
Mas tudo bem. Tanto faz. Você vem e a gente mata um pouco dessa saudade. Da
minha saudade. Que me mata.
Prometo não tocar na sua ferida. Nem mesmo na minha. A gente
só toma um café como velhos conhecidos e falamos de trivialidades. O tempo,
talvez. Você já reparou que o calor e o frio estão fazendo revezamento, não é?
Peguei uma gripe desgraçada por conta disso. Por conta disso também estou com
essa voz rouca. Acho que você nem reparou. Tá tudo bem. A gente pode falar do
trânsito também. Ou da crise mundial. Ou da reeleição de Obama lá nos Estados
Unidos. A gente pode rir da roupa da mulher que está aqui no café. Você tem que
ver.
Vem. E por quinze minutos a gente finge que o tempo não
passou e nos arrastou junto. A gente finge que nem você nem eu estamos feridos
e sangrando. A gente finge que não escutamos aquelas ofensas. Nem que dissemos
tudo aquilo. Você pede seu cappuccino gelado e eu peço mais uma dose desse
café. E fingimos que estamos nos conhecendo agora. A gente diz o que faz, o que
quer, o que viu da vida. E esquece do último ano, das marcas que ficaram, das
lágrimas que derramou, das feridas que latejou, em mim, em você, na gente. A
gente finge que tá leve, que tá vazio de rancor, que o passado não nos marcou.
E tenta começar de novo, em quinze minutos, essa história que terminou meio
torta, meio sem terminar. A gente finge que o tempo não fez diferença nem que a
dor é tão imensa, e, sem retornar as páginas dessa história, começa a fazer
outro capítulo, como se as anteriores fossem um rascunho mal feito pedindo para
ser reescrito.
Ah. Esquece. Desculpe por interromper sua vida tão corrida
com sua agenda cheia. Meus quinze minutos também se acabaram. Meu café já
esfriou. E para falar a verdade eu não aguento outra dose –nem de café, nem de
você –A gente se fala. Quem sabe não nos vemos por aí, entre um compromisso e
outro. Ou talvez não. Sabe aquela história de você vir e fingir? Então. Finja
que esses quinze minutos também não existiu.
Até mais. Ou adeus. Ainda não decidi. Mas em todo caso,
tchau. A gente se vê. E finge que nada disso aconteceu. Nem esses quinze
minutos nem todo o resto. Tá? Um dia, quem sabe, a gente se vê. Ou não. Tanto
faz.
E fica com Deus.
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