Sobre Ela? Só Te Dou Um Conselho: Não A Perca

Se eu fosse te dar um conselho, diria pra que não a deixasse entrar na sua vida. Cara, não se deixe ser contagiado por aquela carinha de boba dela, pelo jeito de menina que quer (e merece) ser tão cuidada, pelos beijos doces feito os natais em casa de vó. Não deixa que ela te conquiste com aqueles olhares dela não. Nem te marque com os batons vermelhos. Nem te fira com suas unhas cumpridas pretas. Não deixa que ela preencha sua vida com sua voz engraçada, seu riso frouxo, o jeito infantil com que encara o mundo. Não deixa que ela cante qualquer música, nem balance com qualquer som, nem durma na sua cama e levante pela manhã com aquele sorriso que é só dela. Por falar naquele sorriso, vê se não caia naquele que ela vai dar só a você quando você merecer. Vê se não tente decifrar o que os olhos dela estão dizendo quando ela fica tempo demais calada. Nem o que ela quer dizer quando joga o cabelo pro lado, pro outro, analisa as pontas e solta um suspiro. Continue sem fazer ideia de que todos os gestos, os toques, os olhares, os sorrisos, os silêncios, os gritos e o modo como o cabelo dela balança tem um por que e grita verdades na sua cara que você nem sabe se está pronto pra ouvir. Vê se não a deixa criticar as suas bandas preferidas assim, tão facilmente, nem te fazer ouvir as músicas preferidas dela até você aprender a gostar. Não se impregna dela não. Não deixe que ela te inunde não. E se for pra escutar algo que ela diz, escuta a primeira frase que ela sempre solta quando vai cair num romance novo: vê se não seja idiota e se apaixona por ela não, cara.

Que ela é do tipo que passa despercebida se você não olha de novo, é verdade. Ela fica sempre ali, brincando, fingindo, rindo, chorando, procurando uma nova vítima pra vida dela. Que ela é do tipo que ninguém dá trela até querer conhecer. Que ela é do tipo que depois que se conhece deixa marcas, dores, feridas, sangues, choros, cicatrizes que ninguém sabe como superar. Que depois que ela vem com aqueles sorrisos dela e segura pelo seu pescoço, que depois que ela te olha gritando e suspira quase calada, que depois que morde sua própria boca antes de te beijar, que depois que ela te inunda e se inunda do que ela quer tanto sentir: não tem como apagar. Sabe, cara? Ela fica. Ainda que vá embora batendo a porta, desligando o telefone, fazendo um escândalo desses que param o trânsito de uma cidade pequena e param também nosso coração pelo medo de perdê-la. Não deixa entrar que se ela entrar ela derruba suas barreiras, seus conceitos, seu mundo, sua resistência a se entregar a alguém porque vai querer se entregar tanto a ela só pra ver se acha o que é que tem de tão misterioso lá no fundo daquele olhar que diz tanto (e, às vezes, não diz nada). E não ache estranho a falta de vírgula que ela é assim mesmo, faz a gente perder o fôlego e soltar o sentimento tudo de uma vez. Aí reconstrói tudo de novo com aquele jeito só dela, colorindo, pintando, jogando um glíter e colocando uma música ao fundo que você nem gosta, mas ela ama, então você acaba deixando tocar. Até se viciar: na música, nas cores, na bagunça, nela. Que depois que ela se instala no sofá, na sua cama, na sua vida, fica difícil apagar os rastros de paixão que ela deixar. Que depois que ela te encanta, cara, não há magia, bebida, loucuras, morenas gostosas e loiras peitudas que a façam apagar de você, se ela decidir por ir. Que depois que ela se vai, não há magia, bebida, loucuras, morenas gostosas e loiras peitudas que a façam, também, voltar.

E você vai sair por aí meio maluco querendo destruir tudo o que ela construiu em você, querendo apagar os caminhos que só vocês construíram no lençol marcado com o corpo, o suor, o perfume que só ela deixa. Aquele perfume único e natural, uma mistura de sabonete-shampoo-cheirinho-de-quem-volta-pra-casa-depois-de-uma-longa-viagem que não se sente com mais ninguém. Você vai querer se cobrir com outros corpos até perceber que a única coisa que te esquenta são os cabelos dela espalhados pelo seu peito. Que você vai querer apagar de você rastros inapagáveis, inesquecíveis e insanos que te faz, cara, enlouquecer de saudade. E você não vai conseguir se concentrar no que é que estiver fazendo porque ela aparece em seus pensamentos sorrindo, piscando, brincando, cantando, dançando, amando. Que depois que ela te inunda não te resta muita opção: ou você nada ou você afoga. E quase sempre os caras se afogam. Eu me afoguei nela tentando me salvar, enquanto ela sorria seu jeito de menina e ia embora pra longe sem me olhar. Cara, você não tem ideia de como os dias ficam nublados e sem graça sem a presença dela, de como a sua música preferida passa a ser o som da voz dela, de como a melodia que você mais quer escutar não são suas bandas preferidas, mas ela sussurrando aquele eu te amo com tanta entrega e resistência, tudo isso ao mesmo tempo, que te faz abraça-la e nunca mais querer soltar. Que na verdade o sol gira em torno dela, só dela, e por isso ela brilha tanto e nos cega tanto e nos esquenta tanto até sumir em um eclipse eterno de nossas vidas sem despedidas e sem nenhum perdão.

Que se você me escutasse iria fugir a tempo antes que ela mesma fuja de você como um dia fugiu de mim. Que só queria poupar os outros a dor que tenho aqui.  Que vai parecer que é saudade, ciúme, loucura ou doença. Mas é amor. É amor por ela sim, que nunca me amou. Tudo bem você não me escutar, mas se deixar que ela entre guarde bem esse conselho que vai precisar: se deixar que ela te preencha, não a deixe ir nunca, não a perca em nenhuma esquina, não a deixe escapar do seu próprio abraço. Cara, tô sendo sincero, porque se ela for embora, pode apostar, você vai ser como eu, você não vai conseguir suportar. E quando ela for, não adianta o que você fizer pra reconquista-la: ela nunca mais vai querer voltar.