Eu sempre achei que saberia que era você, quando te olhasse.
Sempre achei, como nos filmes, ainda que nunca tenha acreditado em amor à
primeira vista, ainda que tenham me ensinado que contos de fadas não existem,
ainda que todos os outros foram tentativas em vão de achar você, ainda que. Eu
sempre soube que seria assim, simples como nos livros, tão simples que eu nem
precisaria cair e me quebrar um pouquinho pra ver se você me notava. Eu sempre
achei que na primeira troca de olhar –e não falo das rasas, mas daquelas que
entregam mais do que palavras, textos, poemas e músicas (coisas que recorro
sempre quando fico sem saber como falar) –eu saberia que era você: o cara.
Aquele cara. O cara de sempre. Sabe? Que a gente idealiza em noites quentes e
sonha em noites frias. O cara que conseguiria atravessar todos os muros que
construí com o passar dos anos e do coração quebrado –ele se quebrou muito, você
sabe –e chegar ao que eu sempre guardei, em essência, num lugar tão escuro e
perdido dentro de mim que até eu esqueci que tinha.
Sou como aquela caixa de lembranças que a gente guarda no
fundo do armário. Sabe? Aquela caixa que tem de tudo –presentes que nunca
usaríamos, mas adoramos ganhar; cartas que nunca mais lemos, mas adoramos ter
recebido; cds com músicas que não escutamos, mas não conseguimos nos livrar –e que
tem tanto da gente. A gente esconde no fundo com medo de roubarem, mas deixa
ali pra mostrar que estamos vivos, que o que quer que a vida faça da gente
ainda podemos nos lembrar de quem somos, se precisarmos algum dia, se sentarmos
num fim de tarde pra tirar a poeira e quiser voltar no tempo. Guardei pedaços
de mim e me mostrei inteira, ainda que não estivesse, pras pessoas, que era pra
me proteger, mas também era pra ver se alguém conseguiria me enxergar além do
que sempre me mostrei ser. Além desse meu sorriso escancarado de quem não tem a
mínima vergonha de ser feliz. Alguém que enxergasse além deles e percebesse que
todo meu segredo estava escondido nos olhos, no brilho que parece brincar em
provocações silenciosas e declarações gritantes que podem deixar surdo quem
ficar pra escutar.
Foi você. Eu vi isso na primeira vez que me olhou de um
jeito que, confesso, nunca tinham me olhado. Na primeira vez que saímos e você chegou
atrasado –e quase correndo com uma cara de quem sentia muito por ter me deixado
esperando por uns dois minutos sozinha, com medo de que esses dois minutos
fossem o bastante para eu te julgar e desaparecer. Sabe de uma coisa? Eu te
julguei. E não te condenei por muito pouco, por aquele olhar de desculpas,
ainda que nunca tenha proferido essas palavras, que estampou no seu rosto ao me
ver ali, desprotegida e te esperando. Foi você, e eu soube no filme horrível
que a gente foi assistir, como se, inconsciente ou não (ah, eu sei, você adora
mesmo essa palavra), você topasse qualquer coisa se isso significasse ficar
um pouco perto de mim. Foi você e foi na sua tentativa de não me beijar no
primeiro encontro, ainda que seu beijo na trave de despedida tenha denunciado sua vontade (e meu sorriso tenha fingido não ter notado).
Foi você e vi nas conversas infinitas que varavam noites e
me deixava acordada sonhando com você ao meu lado. Foi você quando me puxou pra
um abraço inesperado no meio de uma avenida, como se quisesse colar de vez seu
corpo no meu. Acho que terminou ali o medo que eu tinha de abraços porque eu me
entreguei àquele como nunca me entreguei a mais nenhum. Acho que começou ali a
nossa história. Foi você ontem, é você hoje e talvez seja você amanhã. Com um
pouco de sorte –e muito amor –talvez seja você para sempre. E olha só, eu que
sempre tive preguiça de “para sempre” ficaria muito feliz se vivesse isso com você.
É. Eu sempre achei que saberia que seria você, no primeiro
sorriso torto que me arrancasse mais que um suspiro, que me arrancasse todo meu
amor. Eu sempre achei que não precisaria de uma grande história de encontros e
reencontros. A vida já é tão difícil, pra que também dificultar um amor? Eu
sempre achei que quando eu encontrasse você, não me importaria em abrir a porta
e deixar você entrar, mesmo com toda a bagunça que, eu sei, nunca escondi que
guardava aqui. Eu sempre achei que quando eu encontrasse você, não me
importaria seus defeitos nem meus medos, nem todas as vezes que fugi na
primeira oportunidade, porque eu ficaria, ainda que isso custasse minha
sanidade. Eu sempre achei que quando eu deitasse no seu ombro e me encaixasse
ao seu corpo, quando sentisse um cheirinho de Natal em casa de avó –aquele cheirinho
aconchegante que dá vontade da gente nunca mais sair dali –entre seu pescoço e
seu ombro eu saberia que, ainda que nunca tivesse te conhecido, trocado mais do
que palavras e uns olhares perdidos, teria encontrado você.
E quer saber? Foi você. Continua sendo você. Espero que seja
você por muito tempo e quem sabe por toda uma vida. E eu estava certa. Eu
sempre soube. E, só mais um segredo depois de ter sido desmontada inteira por
seu sorriso torto (mas vê se não fique se achando tanto): que bom que foi você.
Que amorzinho de texto! MUITO lindo. Eu adorei, viu?
ResponderExcluirDepois do Para Sempre
<3
ExcluirFui longe lendo esse texto maravilhoso!
ResponderExcluir<3333
ExcluirEu não sei da onde sai tanta inspiração, só sei que seus textos são impecáveis. Parabéns!!
ResponderExcluiraf, morri
Excluirobrigaaaaaada de coração <333
textos maravilhosos e inspiradores. Parabéns vc é muito talentosa, SUCESSO
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