domingo, 2 de março de 2014

Sobre Faculdade e Café: Uma Relação de Amor e Ódio



O café da faculdade é horrível. Tem tanto pó que às vezes sobra no fim do copo. Tem tão pouco açúcar que às vezes a gente tem que fazer careta pra suportar. Só não é tão ruim quanto o café de uma tia, que é tão ralo que dá pra ver você do outro lado. Mas eu tomo mesmo assim –o da faculdade, quero dizer –Questão de sobrevivência de universitário. Você sabe. Falando em pó, o pão de queijo da faculdade é uma delícia. Eu sei, não entendeu a relação ne? É que aquilo vicia tanto que um professor meio maluco apelidou disso mesmo: pó. Droga mesmo. Que a gente precisa comer uma vez na semana pra alimentar o vício.

Por falar em professor maluco: eles são muitos. E estão em toda parte. No primeiro, no segundo, no quinto, no último período. Meu curso tem onze períodos, então, já dá pra saber quanta maluquice a gente vê todo dia. Professor maluco só não ganha de professor filho da puta (sem nenhum perdão a palavra usada). Aliás, aí vai uma dica de vida de veterano pra você: desconfie dos professores que se mostrem muito fofos nos primeiros dias –a chance deles quererem te ferrar no final do período é imensa.

Primeiro período é uma merda né? A gente tem que aprender a sobreviver no ônibus lotado (quando se mora longe) e com a preguiça de sair de casa (quando se mora muito perto). Tem que descobrir as coisas do campus sozinho se não quiser ser chamado de bixo-burro. Por falar em bixo: a gente ainda tem isso, que aturar os veteranos querendo vingar o trote que recebeu no semestre passado em cima de você! Tudo isso ali, no seu primeiro dia de aula, na primeira vez que pisa numa universidade, às vezes pela primeira vez saindo da casa dos pais, totalmente perdido num universo novo e assustador. Vou te contar: na minha primeira semana de aula ainda lidei com um adicional –uma mulher pelada que apareceu pelo corredor cantando e tocando um tambor. Sensacional, não?

A faculdade é uma delícia, quando a gente aprende a lidar com ela. No começo a gente tá muito empolgado pra ver os defeitos, no final a gente tá muito cansado pra achar alguma qualidade. Principalmente se você for da Federal *adicione aqui seus pêsames profundos aos seus companheiros-guerreiros*. Como faculdade tem problema né? A fila do xerox é imensa e te faz perder horas preciosas pra tirar míseras cópias praquela aula chata. A cantina tem mais óleo do que você pode supor na sua vida. A biblioteca fica tão longe que só de pensar em ir lá você desiste e fica sem pegar um livro. Tem sempre aquela matéria chata que você não sabe porque é obrigada a ficar ali ouvindo tanta idiotice por duas horas (que mais parecem um ano). Os professores resolvem dar tudo o que não deu no período inteiro bem na última semana de aula. E aquelas provas que quando a gente acha que foi bem se ferrou e quando acha que se ferrou, saiu com um notão daqueles que nem Freud explica?

Dá para burlar algumas dessas coisas com o jeitinho brasileiro. O xerox por exemplo, tem pdfs disponíveis por aí. Fazer contato com veterano, então, é uma dica de ouro –com eles você não só consegue os artigos que precisa, como também dica de provas e trabalhos daquele professor filho da puta que, claro, já chegou no seu ouvido que só pensa em ferrar o aluno. A cantina e o óleo: muito aluno vende sanduiche natural pelo campus, pra quem paga de natureba. Quanto a biblioteca, não fuja dela, a gente aprende que na faculdade boa parte do que precisamos saber temos que procurar sozinhos. Além disso: a biblioteca é uma delícia –a gente sempre acha um exemplar de alguma coisa que nos interessa e pode matar nosso tempo sem nem perceber, aprendendo uma coisa nova que professor algum pode te falar. Eu não sei vocês, mas eu amo aprender. Já os professores enrolões e as provas que a gente nunca sabe o que vai ter como resultado, sem remédio. Joga tudo pro alto ou se dedique. Oito ou oitenta. E vai lá, mais uma dose de café pra dar conta da matéria toda no final de período porque, por um acaso, já inventaram coisa mais estressante que fim de período?

A propósito, estou no meu final de período. Isso deve explicar o conteúdo ácido do texto, mas dê-me um desconto, sim? Já fiz tanta prova que cheguei ao limite de quase errar meu nome. E isso porque meu nome nem tem dois enes, um ká ou um dáblio pra justificar a falha.

Aos calouros: bem vindos e meus pêsames. Essa é sem dúvida a melhor época da sua vida –a faculdade te dá autonomia pra quase tudo, você pode matar aula sem peso na consciência e isso é bom demais quando se está cansado e precisando se distrair –mas também te cobra o mesmo tanto sem desculpas no final. Mas não vai achando que ali a vida é American Pie: você precisa escolher entre dormir, ter notas boas e vida social. Ter as três coisas juntas é impossível. Pra quem não passou no vestibular: paciência e foco, vestibular vai ter o resto da vida e não dá pra desistir assim né –eu tentei cinco vezes pra entrar e não tenho vergonha alguma de dizer isso –Pros veteranos que estão aí sofrendo e sabem tudo o que os novos irão passar: paciência pra sobreviver a um novo período (às vezes dá vontade de jogar tudo pro alto, né?). E não se esqueça do café!

Para todos, sem exceção, eu desejo que sintam o que eu sinto toda vez que arrumo minhas coisas, enfrento um ônibus lotado e vou pra faculdade. Que vocês cheguem à sua sala, sentem-se em sua carteira e pensem o que eu penso todos os dias. Estou onde quero estar. Faço o que quero fazer. Essa é a profissão que quero ter. Porque no final, meus colegas, é a satisfação de fazer algo que você ama que vai compensar toda a gordura da cantina, a fila no xerox, os problemas na biblioteca, os professores filhos da puta, as notas baixas e o estresse do fim de período.

Quer dizer, isso e o café que você vai ter que tomar pra aguentar virar as noites fazendo aquele trabalho maldito daquele professor maldito que você, naquele momento, só vai querer matar...

Postado em Endless Poem, em 28/02/2014


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