Se eu te amasse, me
doeria sua partida como doeu a sua chegada –embora fosse uma dor bem diferente.
Na chegada eu arrastei os sofás pra caber você aqui dentro, na partida eu
comprimo tudo pra te expulsar pela porta que você um dia entrou. Se eu te
amasse, estaria derramando lágrimas, gritando em desespero, arranhando sua pele
e te deixando perdido com uma crise de uma dessas loucas-doentes-sem noção que você
tanto falava que via por aí, nos casos dos seus amigos, das minhas amigas ou só
da novela das nove clichê como todo fim e começo de amor deve ser.
Se eu te amasse, eu ainda me doeria com as músicas nossas tocando no rádio. Não daria conta de ouvir aquela banda que eu tive a loucura de dar a você, dizendo que olha-amor-essa-é-a-nossa-banda, ela-tem-a-nossa-música, presta-atenção-nessa-letra. A letra, babaca, na época, tava dizendo tudo que eu queria te dizer e não consegui. Um baita assim eu te amo cantando em letras garrafais de uma rima bonitinha que fez você rolar os olhos porque era o ritmo de uma coisa que você não gostava nem fazia questão de conhecer. Alguma vez, em algum momento, você realmente quis conhecer meu mundo? Ou só chegou assim, me entupiu de você assim, e quando se enjoou do meu gosto juntou as coisas e se mandou, me deixando sozinha pra lidar com enjoo de quem se alimentou além do que dava conta, além do que podia, obrigada a te colocar pra fora pra ver se parava de passar mal?
Sabe aquela história de
que eu só queria alguém que somasse minha vida? Pois é, você somou. Somou tanto
que sumiu com uma parte de mim e agora eu tô perdida tentando me reconstruí.
Sozinha, como um dia tu me encontrou naquele bar mequetrefe que eu fui pra
tentar esquecer um ex mequetrefe. Você somou,
cara, e isso é o que mais dói sabe? Dói porque eu nunca te acrescentei nada e você
fez tanto aqui em mim que me olho no espelho e não me reconheço mais. Sei lá: a
menina dos cabelos bagunçados, cadê? Aquela que tinha um sorriso de orelha a
orelha, onde foi parar? Que balançava no ritmo da música, que enchia o copo de
cerveja e se esvaziava de sentimento ruim nas sextas feiras open bar? Você
levou contigo, não foi? Pegou sem querer e jogou na mala junto com suas roupas.
Deixou pra trás nem um pedido de desculpa nem adeus nem beijo ou lágrimas. Somou
e sumiu. Sumiu de mim, da minha vida e, pior, sumiu comigo.
Se eu te amasse um
pouquinho que seja, eu te odiaria nesse momento. Eu estaria te maldizendo aqui e ali,
bebendo muito aqui e ali, stalkeando você aqui e ali nas redes sociais que é
pra ver como você tá levando essa vida sem mim. Eu estaria me entupindo de
remédios pra tentar te esquecer. Ou de músicas, pra tentar te esquecer. Ou de
corpos quentes para tentar te esquecer. Te apagar de mim mesmo. Sem deixar
marca ou cicatriz. Estaria indo naquele bar mequetrefe pra esquecer outro ex
mequetrefe ao invés de ficar em casa e ajeitar o que você deixou pra trás. Rasgaria
as roupas que você abandonou ao invés de te ligar e perguntar se você não as
quer mais –como não quer a mim também. Enfiaria as unhas em você antes de você partir,
sabe? Que é pra te marcar como você me marcou aqui; que é pra tu sangrar como
eu sangrei daqui. Se eu te amasse, cara, eu ia repintar as paredes porque não ia
aguentar ver a tinta que você escolheu na minha própria casa, ia queimar as
cartas, rasgar as fotos, apagar as lembranças, colar um sorriso no rosto e sair
desfilando por aí falando que já te esqueci, que nem sei como fui me envolver
com você e falar o quão idiota-arrogante-imbecil você era por me deixar pra
trás. Eu teria ficado mesmo pra trás, no lugar que você deixou que é pra
esperar você voltar com aquela carinha de cão arrependido caído da mudança
pedindo uma nova chance e meu abraço que um dia você tanto gostou.
Cê tá entendendo?
Que se eu te amasse eu
sentiria alguma coisa além do desprezo, da indiferença e do tanto faz que você me
fez vomitar sozinha e limpar sozinha durante a ressaca do amor que você ofereceu
após uma festa meia boca, que teve tudo pra ter sido a melhor festa da vida e
acabou como um fracasso total do meu coração?
Se eu te amasse como eu
te amei, estaria doendo. Mas, cara, que bom, sabe, que bom que não tá doendo
nadinha. Porque é bom demais saber que, assim como você não me ama, eu também não te amo mais.
A única parte ruim é ler o texto e perceber que sente tudo isso, e que em vez não amar mais, ainda ama demais :(
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