Faz frio. A noite não tem estrelas e eu não tenho você.
Estamos iguais –a noite e eu, quero dizer –Ela continua inteira lá no céu, só
um pouco menos bonita, menos atraente, menos luminosa e menos feliz. Ou talvez
seja apenas eu que esteja menos bonita, menos atraente, menos luminosa e menos
feliz e por isso vejo a noite desse jeito. Vai saber. A lua tímida se esconde
atrás de uma nuvem quase negra, mas não chove. Não chove desde que você se foi
e por isso as flores do jardim meio que morreram. Tudo bem, eu também não as
aguei. Era você que gostava de flores, não é? Eu sempre as preferi na
floricultura. Mas você sempre disse que casa sem jardim não tem vida. Você
estava errado. Coração sem você é que já não suporta viver. Acho que deixei que
elas morressem que era pra ver se o amor que ficou morria também, que era pra
ver se a saudade que ficou secava também, que era pra eu ver que você não ia
mais voltar pra cuidar delas. Nem de mim. E talvez, só talvez, ao perceber que
sua ausência fizesse tão mal eu começasse a mudar as coisas por aqui.
Tá tudo muito igual, no entanto. As paredes, sabe, continuam
da cor que a gente pintou. Os quadros estão milimetricamente no lugar que você pôs.
O sofá, as fotos, as xícaras sobre a mesa esperando que você volte para servir
com um café quente e preto e feito na hora. O café que você sempre gostou. Eu guardei
as roupas que você deixou pra trás. Os seus cds que você não veio buscar. A caixa
de ferramentas que você comprou pra consertar as pequenas coisinhas do nosso
apartamento. Tá tudo ali, no cantinho da casa, esperando que você se lembre, dê
uma ligada, marque um dia pra vir buscar. Aí eu te ofereço um café porque é bom
fazer a educada de vez em quando. Te dou um sorriso desses que vai te fazer
pensar que eu superei rapinho a sua partida –quando não é verdade –Me arrumo e
me pinto pra você achar que tô me arrumando e me pintando pra outra pessoa. Eu vou
dizer que tô me arrumando e me pintando pra mim mesma. Você não vai acreditar. Nem
eu. Mas não tocaremos no assunto. Eu vou te entregar as caixas, as coisas e,
sei lá, com um pouco de sorte meu coração. É seu, sabe? Continua seu. Vai ser
pra sempre seu. Não faz sentido ele ficar quando você já não mora aqui.
Meus pés estão gelados e isso me faz encolher por aqui. Ou talvez
seja pra eu tentar me proteger dessa dor que não passa. Vai saber. Eu não especulo
os motivos. Só as consequências. Acho que deve estar uns 10 graus lá fora. Mas a
sensação térmica sem você é de menos cinquenta. Cê entende? Termômetro algum
marca isso e portanto quando eu falo que tô com frio as pessoas pensam que tô
maluca –onde já se viu, se ontem mesmo tava um calor infernal de 35 graus? O
frio é maior. O frio não é do corpo, já pertence a minha alma. Queria me
enroscar em você até meus pés esquentarem, aí eu ia suspirar e me encolher no
seu ombro. Você ia rir e falar que me penduro em você como uma gatinha. Sua
gatinha, te sussurraria. Só minha, diria você.
Ainda sou sua, sabe? E estou caindo. Que nem a estrela
cadente que acabou de passar nesse céu sem estrela, sem lua, cheio de nuvens e escuridão.
Cheio de uma solidão sem sentido também. Eu murmurei um pedido. Mas sei que não
faz sentido e o pedido morreu assim como essa estrela morreu ao encontrar o chão.
Eu ainda estou caindo. Sabe? Tenho um pouco mais de sorte do que essa estrela que cruzou por aqui. Eu ainda estou no meio da altura toda que me
joguei por você achando que você me seguraria. Mas sei que não está lá embaixo.
E sei que enquanto não chegar lá ainda terá chances pra nós. A queda, no
entanto, é rápida e enlouquecedora. Estou caindo. Estou sem você. Acho que vou
me machucar muito na queda.
Faz frio.
Eu pego um café e me enrolo no cobertor.
E lembro que talvez eu não me machuque tanto. Porque sou sua
gatinha.
E gatos são bons nas quedas, não é? Gatos tem sete vidas.
Você era minha vida.
E eu já não tenho você.
Adorei, muito nostálgico e fofinho! *-*
ResponderExcluirLove, Nina.
http://ninaeuma.blogspot.com/