E mais uma vez nos encontramos. Nossos
olhares se cruzaram por poucos segundos e logo você se escondeu com medo de que eu
a cumprimentasse. Seus olhos estavam rasos, vazios e secos. Não escondiam mais aquela frase
inteira dita por tantos anos. Poderíamos estar em qualquer lugar e bastava
olhar para você que nenhum artigo precisava ser pronunciado. Você entendia, eu
sei que entendia. Segundos depois desse momento, continuei seguindo o meu
caminho e você, o seu. Foi inevitável não relembrar de cada história vivida. O
estranho foi e ainda é perceber que conheci apenas uma face sua.
Sim, justo eu que acreditei que a conhecia
totalmente por um longo período. Cada mania, cada preferência, cada qualidade e cada defeito. Olho as fotos daquela época e tento encontrar essa nova você, mas
não consigo. E dói, ainda dói. As
memórias não mudam mesmo que você queira. O engraçado, para não dizer
trágico, é que você simplesmente apagou tudo isso. Cada detalhe, cada
experiência, cada risada e cada plano feito nas conversas em papel durante a
aula. Tudo foi deletado como um arquivo no computador. E não estão mais na
lixeira, viraram pó. Quisera eu ter essa memória tão seletiva.
Sempre soube que a base de uma amizade é a
convivência, mas, no nosso caso, foi mais que isso. Distância alguma faria isto
que nós vivemos. Estávamos
distantes quando estávamos perto. Até hoje me pergunto o que possa ter
acontecido e deixei um ponto de interrogação lá trás assim como quando não sei
um exercício do vestibular. Vai ver você ouviu uma fofoca por aí ou cansou do
meu jeito. Ou melhor, talvez eu seja a culpada por ter me doado demais. Sei lá,
acho que algo simples não destruiria anos de amizade. Ou destruiria, não sei.
Eu apenas repasso essa história baseada nessa "velha você", não é?
Não sei até que ponto a conheci.
Passo os olhos nas nossas fotos mais uma
vez e queria falar com essa "velha eu", se eu pudesse. Veja só, saiba
que não foi só você que mudou. Queria avisar para mim sobre o que aconteceria,
mas não consigo explicar o que falaria. Você não entenderia, afinal, essa
"nova eu" você também não conhece. Hoje, eu agiria diferente, tenha
certeza disso. A questão é que o tempo passa. Seria
muito fácil poder mudar o passado com o olhar do presente. Talvez essa seja
a maior prova do amadurecimento. Reconhecer os erros e questioná-los. Espero
que essa "nova você" não encontre com "velhas eu" por aí e
que eu não encontre com "velhas você". Por fim, acima de tudo, boa sorte com a sua nova versão porque eu já
estou tendo com a minha.
Ah!
Da próxima vez que me encontrar, não precisa se esconder. Saiba que eu não iria
cumprimentá-la. Eu não a conheço mais e nem você me conhece. Eu só
lembro-me de quem você era. Somos estranhas com um passado.
É uma sensação horrível quando achamos que conhecemos alguém por inteiro e na verdade o que conhecemos muita das vezes não é nem uma metade, e o pior é quando temos anos de amizade e agora passamos um do lado do outro mas não arriscamos um oi porque sabem o quanto ambos mudaram :( e realmente as memórias não mudam mesmo que você queira.
ResponderExcluirBeijos, Guilherme
http://omeu-diva.blogspot.com