sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Blá-blá-blá Literário: Fangirl (Rainbow Rowell)

Título: Fangirl
Autora: Rainbow Rowell
Editora: Novo Século
Ano: 2014
Páginas: 424

Todo mundo que já escreveu fanfic um dia sabe: você sai do universo fanfiction, mas o universo fanfiction não sai de você. Ou, pelo menos, não sai facilmente. Juro que não tô aqui para falar do meu passado de fics perdidas em alguns sites, mas para falar do romance da Rainbow. Em Fangirl, a autora trabalha de um jeito bastante real, eu diria, a paixão de sua personagem pelo universo de fanfic, muito mais do que pelo universo da escrita em si.

Cath é uma menina tímida que só tem um objetivo de vida: terminar sua fanfic antes que a autora da série que ela mais ama encerre sua série. Ela não está preocupada com meninos, com faculdade nem com nada do que deveria se preocupar aos dezoito anos. Para ela, o mundo gira em torno de Simon e Baz – especialmente, em torno do universo que ela criou pegando emprestado os personagens da autora da série mais famosa do mundo! Ela sabe que os personagens não são dela, mas ela gosta muito mais deles no seu mundo. Cath nunca quis conhecer outro mundo.

Em compensação, sua irmã gêmea, Wren, quer viver tudo o que a vida pode oferecer. Especialmente, tudo o que a vida da faculdade pode oferecer. Ela não quer mais dividir o quarto com a irmã, embora isso tenha dado certo por dezoito anos e, ao decidir ir para a faculdade (só porque a irmã estava indo para a faculdade), Cath foi forçada a dividir o quarto com uma menina estranha, indiferente e pra lá de esquisita: Reagan.

Reagan tem um namorado muito gentil e sedutor, que está sempre sorrindo, de bem com a vida e tentando fazer os outros ao redor ficar de bem com a vida também. Levi é o mais típico galanteador e Cath não está afim de fazer amizades (nem com ele, nem com ninguém), mas é quase impossível já que ele está sempre no quarto delas esperando pela Reagan, que está sempre em algum lugar, que Cath não faz ideia de onde seja.

Enquanto Wren aproveita a faculdade como acha que deve (saindo, bebendo, passando mal e nem ligando para a irmã), Cath mal sai do quarto, senão para as aulas. Ela passa quase um mês inteiro sem comer porque não sabe onde é o refeitório – o que pode parecer um exagero, mas que para qualquer menina tímida com medo de mudanças é realmente um pesadelo. Seus melhores dias são durante a aula de escrita criativa. É quando ela conhece Nick – Nick, um escritor charmoso que, como sua dupla, manda muito bem nos trabalhos da disciplina, e eles decidem começar a escrever sempre juntos (ele escreve, ela edita, corta algumas coisas e reinventa algumas frases).

Nessa confusão toda de novo mundo e novas descobertas, Cath tem que lidar com sua fanfic que faz o maior sucesso e cada dia tem mais acessos; com o pai que tem um transtorno psiquiátrico e que ficou sozinho há alguns muitos quilômetros da faculdade em que ela está; com o seu medo de enfrentar as coisas e sua enorme timidez; com a irmã cada vez mais distante e se metendo em mais merda; com a mãe que, depois de dez anos desaparecida, resolveu ver como as duas estavam; e, como se não bastasse, com sua paixão pelo namorado da colega de quarto.

Cath está cada vez mais convicta de que o mundo está de cabeça para baixo. E ela não quer mais morar nesse mundo ao avesso.

A história traz várias nuances e, apesar do romance, está mais focada na autodescoberta da personagem do que ela sabe e do que ela ainda pode descobrir como fazer. A menina Cath que chega a faculdade é quieta, tímida e morre de medo de várias coisas, mas, aos poucos, ela acaba fazendo amizade. Primeiro com Reagan, que a leva para o refeitório; depois com Levi, que está sempre lá quando ela precisa; com Nick, o parceiro de escrita incrível. Ela só não consegue mais se aproximar da irmã, o que é desnorteador para ela que sempre viveu ao lado de Wren.

Apesar dos dramas, o livro é leve e fluido de ler. Você se diverte na maioria das passagens e não há grandes tensões (porque a própria personagem foge ao máximo das mesmas tensões). A sua descoberta de si mesma se dá de uma maneira tão natural e simples que talvez você termine com a ideia de que ela não evoluiu tanto quanto deveria. Quando tudo dá errado, ela até pensa em desistir e voltar ao seu mundo. Mas seu mundo já não era mais o mesmo então ela apenas segue em frente.

Os pontos fortes do livro com certeza é a narração, que conta uma história que tinha tudo para ser densa sem deixar que ela seja, mas sem também perder o fundo das questões tratadas. Os personagens são apaixonantes (sério!), seja Cath e seu medo irracional de todos, seja Levi e seu sempre bom humor, Reagan e suas esquisitices, o pai e seu transtorno maníaco, até mesmo Wren, que é um pé no saco e dá vontade de matá-la em diversas partes, é uma personagem legal. É difícil você não querer nenhum deles como seus amigos (ok, talvez eu não queira Wren como amiga, mas não espalhe por aí).

Por outro lado, o tempo que a autora perdeu com a narração de uma história que não existe podia ter sido economizado em algumas partes. Entendo que era uma história sobre uma fangirl, mas na maioria das partes essa leitura quebrou o ritmo e a fluidez do texto, e me fazia revirar os olhos de leve do lado de cá. Houveram cenas que poderiam ter sido cortadas, também, mas quem sou eu pra dizer, né? Ah. Algumas pontas abertas com a história ficaram soltas até o final (o relacionamento com a mãe, o próprio transtorno com o pai, algumas questões que foram trabalhadas em cima da hora com Nick “o escritor”), a solução que a autora encontrou não me pareceu suficientes para o livro como o todo.

Mas, embora tenha pontos negativos e alguns erros, o livro é bom, é divertido, é leve e fácil para se ler num fim de semana que você tiver atoa e querendo distância de enredos mais pesados. Tenho certeza de que você vai querer ser colega de quarto de Cath.

Ou, talvez, melhor não. Não seria nada legal você se apaixonar pelo namorado da menina que se apaixonou pelo namorado da colega de quarto, né? Imagina que confusão. Melhor não.


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