terça-feira, 6 de março de 2012

As Rosas São Como O Amor

O crepúsculo no céu cinza pinta uma cor diferente no horizonte, uma mistura de vermelho, azul, algo assim. Nunca fui muito bom de cor, você sabe. Na verdade, sou um pouco daltônico. Li por ali –ou será que ouvi? –que há uma variação de cem tons de daltonismo. Você sabia? Você sabe que mesclo o azul com verde, o laranja com vermelho, e sempre confundo quando as cores não são claras, assim, definidas. Mas não era sobre isso que queria falar. Estava dizendo sobre o crepúsculo que estou acompanhando enquanto caminho até sua casa. Choveu o dia todo, um tempo feio, mas no último minuto o sol apareceu, assim, na hora já de ir embora que é para não deixar a esperança morrer, como você diz.

Caminho a passos largos, perguntando-me se você está acompanhando esse pôr-do-sol da sacada de seu apartamento, bebendo um café descafeinado com leite em pó e duas colheres de açúcar. Deve estar, concluo, não é muita coisa que te faz perder a hora que o sol se despede, se retira para dormir.

Carrego um café pingado no copo na mão esquerda. Você sabe, pingado, assim... É que a vida é como leite. Meio pálida, sem graça, precisa de um pouco de café para ganhar cor, ganhar tonalidade. Melhor com sentimento, com intensidade. Melhor quando é verdadeiro. Na outra mão levo um livro que comprei no sebo essa semana. Tá meio velho, mas você vai gostar. Só consegui me lembrar de você enquanto lia. Quase comprei um ramalhete de flores, assim, rosas vermelhas, com o último trocado que me restou. Cheguei a entrar na floricultura. Mas na última hora lembrei-me de uma de nossas conversas, entre cafés descafeinado e pôr-do-sol, em que sem motivo –ou pelo menos não me lembro dele –você me disse algo sobre as rosas.

Você estava linda nesse dia, não sei se te falei. Provavelmente não. Usava um vestido branco, embora não fosse Reveillon. Debruçada no muro, os olhos presos ao que acontecia, ao sol se pondo, você disse, sua voz que mais parecia melodia do que qualquer outra coisa, quando te perguntei porque não gostava de ganhar rosas.

Você se lembra de sua resposta? Suponho que não. Você nunca foi brilhante em questão de memoria. Mas eu me lembro, me lembro bem –como poderia esquecer? –embora não te compreendesse.
-As rosas são como o amor.

-Como assim?
-Elas são lindas. E sedutoras. E, pior, encantadoras. Mas tem espinhos. E os espinhos machucam. Assim é o amor.

E me olhou. Seus olhos azuis que sempre me encantaram ganhou um tom magnifico por sobre o reflexo de um sol dando adeus. Pareciam querer dizer muito mais do que disse, talvez tenha dito e eu não consegui compreender.

Mas compreenderia, em breve.

Agora o sol é apenas um feixe de luz. Apresso o passo, ainda quero ver-te admirando mais um crepúsculo. Espero que goste da minha surpresa, há muito não nos falamos, você sabe, desde aquele dia. Penso no que falarei para você. Ensaiei um belo discurso em frente ao espelho, embora sei que vou esquecer assim que encarar a profundeza oceânica indecifrável de seu olhar. Dobro a esquina, agora posso ver a sua casa. Vou dizer que não te esqueci. Que sou louco por você. Que quero casar-me com você. Posso já ver a sua silhueta na sacada, vidrada no sol que se despede. Nunca entendi sua paixão por essa parte do dia. Vou dizer que você é linda. Vou dizer que não quero viver sem você. Vou dizer que te amo.

Vejo alguém se aproximar de você, lhe abraçar por trás, lhe beijar o pescoço. Você sorri. Não me vê. Estou há poucos metros de ti.

Travo, incrédulo, parado numa calçada cinze, sem conseguir reagir, sair dali ou até mesmo subir pra sua casa. Vocês entram. Eu fico.

Fico ali por horas, ou pelo menos é o que parece, quando dei por mim o sol já havia ido embora, o café já havia esfriado. Parado ali, de baixo de sua sacada, sem que você saiba, em meio a dezenas de pessoas que me empurram pedindo passagem, deixo uma única lagrima solitária cair.

Não vou dizer nada.

Naquela solidão imensa de meu ser, te compreendo como nunca compreendi. E nunca mais compreenderei. Ali, parado, com um copo de café pingado e um livro que comprei para você que você nunca lerá, entendi sua paixão pelo sol, sua aversão pelas rosas.

O sol nasce e morre todos os dias, mas a vida continua. Ele é a esperança de que dias melhores virão.

E as rosas... as rosas são como o amor.

7 comentários:

  1. O sol nasce e morre todos os dias, mas a vida continua. Ele é a esperança de que dias melhores virão.( SIM muitooooo certo ) adorei o conto nandi

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  2. Choveu o dia todo, um tempo feio, mas no último minuto o sol apareceu, assim, na hora já de ir embora que é para não deixar a esperança morrer 'Que lindo adorei *--*

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  3. Frase final, frase final, frase finaaaaaaaaaaal!
    Sempre ela né, porque será??
    hahaha, muito bom, adorei mesmo!

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  4. "É que a vida é como leite. Meio pálida, sem graça, precisa de um pouco de café para ganhar cor, ganhar tonalidade. Melhor com sentimento, com intensidade. Melhor quando é verdadeiro."
    Epa que eu conheço essa frase de algum lugar u-u

    E sim, o amor também machuca.

    AAAAAAAAAAAAAAAAAAAh amei, amei, amei *-*

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    1. O verdadeiro amor nunca esquecemos, mesmo que fique pra trás continua vivo no caração.

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  5. PQP! Ia colocar aqui as "partes" que mais gostei, daí ficou extenso, então apaguei HAHAHA ' lindo, de verdade, lindo, adorei.

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  6. As rosas são como o amor
    produzem muitos espinhos
    que espetam e causam a dor
    mas lá no fim do caminho
    se transformam numa flor.

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Comentários

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