terça-feira, 8 de março de 2016

Dança Do Adeus



Fica pro café. Eu fiz do jeito que você gosta, mais amargo e mais forte. Mas se achar muito amargo, você pode colocar açúcar que nem eu. Eu comprei pão de queijo, daqueles bem mineiros, com muito, muito queijo. Fica, vai? A gente fala um pouco da nossa vida, um pouco do nosso amor, um pouco da gente. Ou então nem fala. Mas fica.

Vai ficando até o almoço. Prometo que faço seu prato preferido. Aquela lasanha com molho branco que sempre fez você salivar. Eu faço seu suco predileto. Ou então você me diz o que tá com vontade que, se não souber, eu peço pra entregarem. Mas fica. A gente discute sobre os processos de separação, sobre o que você quer levar, sobre o que pode ficar comigo. Sobre você mudar de ideia e me levar junto também, quem sabe.

Fica. Eu coloco aquele cd que você tanto gosta e a gente escuta de novo a música que dizíamos tanto ser de nós dois. E podemos até dançar em nome dos velhos tempos. Eu tiro aquelas fotos guardadas, para decidirmos quem é que fica com o quê. É sempre a pior parte esse momento, não é? É tão ruim assim também para você?

Fica. Que a gente tem muita coisa pra resolver. A gente precisa decidir quem é que fica com o cachorro, quem é que fica com aquela coleção de livros que compramos juntos e para nós dois, quem é que vai ficar com esse quadro caro que compramos para decorar nosso quarto.

Agora, que nada mais é nosso, com quem que a gente deixa as nossas coisas?

Fica, vai. Fica pro jantar. Eu abro um vinho, eu peço uma pizza, eu até coloco aquele vestido vermelho que você me deu e nunca usei. E a gente relembra dos bons momentos. Porque a gente até teve bons momentos, não é? Das coisas divertidas, dos programas de índios que arrancaram nossas risadas, das novas coisas que só descobrimos juntos, daquela viagem inesquecível que fizemos. E de tudo aquilo que planejamos e nunca conseguimos tirar do papel.

Fica, que a gente tem muito assunto, tem muita coisa que não dissemos e deveríamos ter dito, temos que resolver tanta coisa que não sabemos nem como começar. Ir embora é o mais fácil de um fim da relação – difícil mesmo é decidir ficar. Fica. Só mais um pouquinho. Até que decida para sempre ficar.


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