Por Você, Não Por Mim

In another life, I would be your girl

We'd keep all our promises, be us

against the world

In another life, I would make you stay

So I don't have to say you were

The one that got away

Você está aí, desse lado da porta. E eu estou aqui, deste outro lado. São doze centímetros nos separando, apenas. Mas parece um muro de concreto, cheio de espinhos e caco de vidro. Eu peço para você me deixar entrar. Você não responde, finge que não me escuta, age como se não estivesse aí, onde sei que está, do outro lado, com a palma aberta, nesse muro que nos separa, me procurando. Sei que não vai me deixar entrar, mas eu fico aqui, no meio do corredor, com a certeza de que não quer me ver, mas não pode me evitar me ouvir. Então eu falo, a voz rasgada, a alma destruída, o coração desfeito:

Lembro-me do dia que te conheci, que te vi pela primeira vez. Você estava na praia, rodopiando na areia, com a leveza que eu não tinha. Você parecia um anjo. E eu fiquei ali, te observando. Nem sei se você sabe disso. Um anjo. Não consegui ir até você, era divina de mais par a minha vida tão mundana. A segunda vez que te vi, você passou do meu lado, nós nos esbarramos, sua voz doce e musical me pediu desculpa. Você tem os olhos mais cristalinos que já vi. Você continuou seu caminho. Eu não, eu fiquei ali, parado. Sem ação. Te vendo ir sem ter coragem de dizer que, por mais estranho que parecesse, era a mulher da minha vida. Você ia me chamar de louco. Então segui meu caminho. A terceira vez que te vi foi na cafeteria. Você estava no balcão, pedindo um café. Era como se nossos destinos sempre se cruzassem. E eu percebi que aquilo devia significar algo. Então puxei assunto. E nunca mais te deixei ir da minha vida.

Ou pelo menos não queria.

Você tinha os olhos mais lindos que já vi. Eu nunca consegui parar de olha-los. Ninguém me entendia. Diziam que eu não podia ver beleza em você. Você tinha os olhos frios, o coração gelado, a alma... Você tinha alma? Não sei. Eu só sei que não podia não amar você. Amar nós dois. Não te deixar ir. Não te deixar. Não te. Não.

Eu sei que não sou perfeito e fiz muito pouco do que você merecia. Eu sei que tampouco fui feito para você. Você. Tão linda e leve. Dançando como quem tá nas nuvens Com olhos frios. Coração gelado. E alma... alma de quem não está aqui mais. Mas esteve. Estivemos. Um dia. Juntos. No mesmo lugar. No mesmo coração. Na mesma vida. Fomos felizes? Eu não sei. Não me lembro de nada. Sabe? Mas espero que tenha te feito feliz, porque você merece.

E agora, com todos esses meses que você vem tentando me avisar, eu percebo. Dói, mas eu percebo. E dói, dói, porque eu ainda sinto. Sinto, apesar de achar que não deveria. Mas está tudo tão confuso, amor. Tudo. E ao mesmo tempo está tudo tão claro...

Porque é hora de te deixar ir.

É hora de me deixar ir.

Eu. Eu e não você quem tem os olhos frios. Eu e não você quem tem o coração gelado. Eu e não você quem não tem alma. Ou, tenho alma, mas não tenho corpo. E não sei por quê. Por quê? Eu só queria te fazer feliz. Eu só queria cuidar de você. Eu só queria ser seu. Eu não queria te deixar ir. Mas eu não posso mais ficar.

Só quero que saiba que te amei no momento que pus os olhos em seus olhos frios. E te amo, agora que são quentes. E vou te amar pelo resto da vida, mesmo que ela não exista mais. Mas tenho que ir. Tenho. Não por mim. Mas por você.

Por você, e não por mim, é que estou te deixando ir. Por você, e não por mim, que estou me deixando ir. Nunca mais me verá. Nem me ouvirá. É a última vez. E... não sei se quero que você tenha outro, ame outro, não sei. Ficaria feliz se só nunca me esquecesse. E que fosse feliz, como eu sempre tentei e não consegui te fazer.

Por você, e não por mim, é que estou indo embora.

Por você, e não por mim, que não pertenço mais a este lugar, a você, a mim, a nós.