quinta-feira, 15 de março de 2012

Um Café e Duas Palavras

Para Aimee -Srta Giffin *-*


Ela segurava tão forte a xícara de café que seus dedos chegavam a doer. Dor que deveria fazê-la diminuir a força, mas ela continuava segurando forte. Não sentia. Havia uma dor muito mais forte ocupando sua mente.

A sua frente, estava ele. Ele. O homem que fizera parte da metade de sua vida. E não fazia mais. Foi ela que o chamou, depois de anos sem se falarem, para tomarem um café. Não que não pensasse nele, não que não quisesse ligar para ele em várias etapas de sua vida. Mas havia uma diferença grande entre pensar e agir. Ela pensava muito. Por consequência, agia pouco.

Soube, por outras pessoas, amigos próximos em comum, que ele realizou seu sonho. O sonho que separou os dois. Por muito tempo, odiou aquele sonho. Mas agora não. Olhando os olhos negros e astutos do único homem que amou –e talvez o único que amaria, daquele jeito tão enlouquecedor, doentio, avassalador –ela conseguiu entender aquele sonho. Ali estava um homem que rodou o mundo –Inglaterra, Suíça, França, Portugal, China, Japão, África do Sul, Argentina, México, Canadá, Estados Unidos, outros mais –um homem que abraçou o mundo - E talvez tenha sido abraçado por ele. Ficou ali, olhando-o.

Olhando.

Os olhos experientes dele não a encaravam. Não conseguia. Ele havia conhecido o mundo. Não cabia mais ali. Nos braços que tanto amara. Amara. Doía falar aquilo no pretérito. Mas não doía. Era estranho. No lugar daquele amor avassalado, enlouquecedor, doentio, havia ficado um vazio.

Vazio.

Era isso que ela via nos olhos dele. Os olhos negros e astutos que outrora olhava com carinho e paixão, não transmitia nada.

Nada.

Como era estranho não sentir nada pela única mulher que mais amou na vida. Amou. Mas preferiu seu sonho de abraçar o mundo, trocou os braços dela pelos braços do mundo. E foi abraçado. Não havia mais lugar ali para ele, para aquela vidinha pacata e provinciana que ela sempre lhe ofereceu.

Ofereceu.

Ela ofereceu todo seu amor, todo o seu carinho, sua paixão. Para que? Para ele abraçar o mundo e ser abraçado e voltar daquele jeito. Vazio. Vasculhou o olhar em busca de alguma coisa. Qualquer coisa. Que lembrasse o homem pelo qual se apaixonou.

Apaixonou.

Ele apaixonou-se pelo mundo. Seu coração era do mundo. Não havia mais lugar para ninguém. Nem para ela. Foi um erro aceitar aquele convite. Para tomar café. Nem gostava de café.

Café.

O café que ela bebia não parecia ter sido o que foi pedido. Não era doce como o capuccino.

-Vou embora.

Embora.

Ela o viu se afastar, o homem que mais amou e que agora amava o mundo. Ele saiu, não olhou pra trás. Ela fechou os olhos e levou a xícara a boca.

Amargo.

Como agora estava seu coração.

4 comentários:

  1. Olha só quem resolver voltar a funcionar!!!
    Adorei a dedicatória, quem diria que do meu tweet tão despretencioso ia sair essa lindezinha??

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  2. Que P-E-R-F-E-I-T-O! *-* Lindo demais Nanda, arrasou.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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