quinta-feira, 10 de maio de 2012

Perguntas Que Não Fiz -parte I

Se pra você a guerra está perdida
Olha que eu mudo de sonhos,
Pra ficar na sua vida
Problemas -Ana Carolina


Eu estava sentada na cama, imóvel.  Você está quase ao meu lado, em pé, colocando as roupas na mala. Parecia, no entanto, não estar mais aqui. Presente só de corpo, fazendo um ato mecânico, sua alma estava longe. Perdido nos braços de alguma mulher? Quem sabe? Não faço ideia. Não tenho coragem de perguntar. Por medo da resposta. Por medo de ouvir. Ouvir coisas que nem sei que fiz.

Só queria saber, por quê? Mas não pergunto. Você não me responde. Nem está aqui. Foi algo que eu fiz? Não fiz? Algo que falei? Ou deixei de falar e isso te deixou confuso, acabou com nós?

Sempre fomos unidos. Não estou imaginando. Não é coisa só minha. As pessoas viam. Estávamos sempre de mãos dadas. Sempre nos olhando. Quase não discutíamos. E talvez esse tenha sido o nosso fim. Não discutíamos. Os problemas, o cotidiano, os pontos de vistas divergentes. Aceitávamos, apenas. Mudo, aceitávamos. Para não brigarmos por coisas bobas. Nos cansarmos por desavenças sem sentido. Porque não achávamos que valia a pena.

Valer a pena.

Pelo jeito, o que agora não mais vale a pena pra você é a gente.

Queria perguntar quando foi que as coisas mudaram. Quando foi que meu beijo perdeu o gosto para você. Quando foi que meu abraço não mais te esquentou. Quando foi que fazer amor se tornou algo mecânico –que nesse caso nem pode se chamar de sexo –como o ato de você colocar roupa na mala. Mecânico. Presente só de corpo. Com a alma longe daqui. Quando foi que você começou a se sentir preso nessa relação ao invés de se libertar com o poder do amor.

Mas não pergunto. Não quero ouvir.

Queria mesmo era que você ficasse. Que voltasse a me amar. A só ter olhos para mim. A segurar minha mão e não me soltar.

Mas não falo, não falo nada. Você não vai me ouvir. Sua alma não está aqui. Você fecha a mala. Também não fala nada. Nem me olha. Fica parado por alguns segundos, olhando pro nada. Não para mim. Então me dá as costas e se vai.

Vai atrás de sua alma, que não está mais aqui. Vai atrás de um abraço mais quente, de um beijo com sabor, do sentimento de liberdade que só o amor livre traz. Vai. Sem saber que eu mudaria meus sonhos para te prender a mim. Sem saber tudo o que eu tinha vontade de perguntar. E, por medo, não perguntei.

Por medo –não por amor, não por acreditar que, por te amar, tenho que te deixar ser feliz nos braços de outra –te deixo ir embora.  Para nunca mais voltar. E fico aqui, com as respostas das perguntas que não fiz.

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