terça-feira, 3 de julho de 2012

Qualquer Coisa Assim

Acabou, anunciou ele, como se tivesse anunciado que acabou o pó de café, qualquer coisa assim. Só que não era nada disso, ele anunciava apenas que acabou, sem explicação, sem razão, sem motivo, sem causa. Como se um dia, como tantos outros, ele tivesse aberto os olhos e percebido que não amava mais a mulher que dividia sua cama, seus sonhos, seus planos. Como se, do nada, tivessem arrancado de dentro dele todo o amor que sentia por ela. Ou que disse sentir. Ou que achou que sentia. Tanto faz.

Talvez não fosse amor. Talvez nunca tenha sido isso. Amor. Quatro letrinhas simples que pesavam tanto. Que doía tanto. Que alegrava tanto. Um sentimento tão contraditório quanto o sol que teima em aparecer durante a chuva. Amor, ela perguntou, num fiapo de voz, para onde ele foi parar? Não sei, ele respondeu sem olha-la. Talvez porque tivesse medo de encarar aqueles olhos e não sentir mais a mesma coisa que sentia antes. Com medo de não ver a mesma coisa que via. Ou que sempre achou que viu. Agora não tinha certeza de mais nada. A não ser que não a amava.

Em algum momento, ele quis dizer, o amor se foi. Juntou suas coisas, fechou sua mala e saiu pela porta da frente, sem que nenhum dos dois notassem. Ele não poderia dizer quando, nem como. Não poia dizer o dia da semana, a hora, os minutos. Só sabia que o amor se foi. Sem grandes alardes, sem grandes brigas, pegou suas coisas e se foi. Despachado para um lugar bem longe, sem deixar endereço, sem pretender voltar.

Deve ser melhor assim, foi o que ele disse, sem brigas, sem culpados. Será? Ela quis dizer. Será mesmo que é melhor assim? Sem grandes despedidas, sem gritos, histerias, ciúme e desespero? Sem o fim dramático, apenas um ponto final que não foi colocado por ele, nem por ela. Um fim que nenhum dos dois causou ou viu. Um fim que nenhum dos dois queriam, mas aconteceu. Era mesmo melhor assim?

Que diferença faz? Ela declarou encarando o rosto que tanto amou e que achou que sempre estaria ao seu lado. E sem lágrimas, sem dor, sem gritos, sem brigas, largou a xícara de café sobre a mesa e disse: acabou.

Como se estivesse declarando que acabou o pó de café, qualquer coisa assim, e não o amor.

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