quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Ausência Sentida



Há coisas suas aqui. Você levou todas as suas roupas, mas não levou sua alma. Ainda sinto sua presença aqui. Nem mesmo preciso fechar os olhos ou pensar em você. Penso em você tanto tempo que estranho é quando me desligo e consigo olhar outras coisas. Quase nunca isso acontece. Você é presença diária em minha vida, apesar de estar ausente.

Sua voz continua aqui. Eu a escuto frequentemente sempre que deixo alguma coisa fora do lugar, sempre que quebro um copo e ando descalça, displicente, pelo apartamento. Eu tenho uma cicatriz nova. E você não sabe disso. Eu mesmo fiz o curativo. Não ficou tão bom quanto os seus, você sabe, não há uma enfermeira dentro de mim.

Ouço seu riso rouco quando eu faço algo errado, quando eu misturo roupa branca com colorida na máquina, ou quando deixo o arroz queimar. Ouço, com precisão, você me chamar de porquinha quando eu não tomo banho depois de um dia de trabalho.

Sinto seu cheiro na hora que você deveria chegar em casa. Seu cheiro cítrico preenchendo os espaços do apartamento. Que saudade sinto desse cheiro que me dava tanta segurança, cheiro de aconchego, de quando finalmente chegamos ao lar. Ainda sinto seu perfume como se você estivesse aqui. Talvez você ainda esteja, já que não sai do meu coração.

Sinto seus toques me fazendo mulher. Isso parece loucura, eu sei. Talvez seja. Mas eu sinto seus dedos passando pelo meu corpo, com carinho que só você sabe fazer. Sinto suas mordidas e seus beijos, como se estivesse aqui. Antes do despertador tocar, também sinto seu corpo se levantar. Não é necessário ter muita imaginação para ouvir seus passos pelo chão e a água do chuveiro caindo por suas costas largas.

Há coisas suas aqui, que você não se importou em buscar. Provavelmente porque não sabe que deixou algo aqui, assim como não sabe que levou coisas minhas com você. Levou minha felicidade. Meu riso mais sincero. Minha melhor parte. Meu coração.

Porque este que ficou aqui, no meu peito, está meio torto, meio machucado, batendo lento, pedindo socorro, pedindo você. Mas você não vem. Você se foi. Não me levou. E não pretende vir buscar todas as coisas que deixou, nem mesmo a mim.

Um comentário:

  1. chorrei "/

    Você se foi. Não me levou. E não pretende vir buscar todas as coisas que deixou, nem mesmo a mim.

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