Parei de falar de você. Mas não é porque parou de
doer, parou de fazer falta ou parei de me lembrar. Antes fosse, mas já cheguei
a conclusão de que algumas dores não passam, e certas feridas não se fecham.
Ainda sinto saudade e me sinto uma boba por isso, porque tenho quase certeza de
que você nem se lembra do meu nome. Está aí, vivendo sua vida, alcançando seus
objetivos, sendo feliz. Não te julgo. Você está certa. A vida continua e a dor não pode nos fazer parar.
Eu também continuo minha vida. Desde que você foi
embora, mudou muita coisa por aqui. Mudei de casa outra vez. Mudei o que fazer
na faculdade. E finalmente entrei na faculdade! Você não me deu parabéns por
isso, assim como não te parabenizei por suas conquistas. Aposto que foram
muitas, eu sempre disse que você tinha mais potencial do que enxergava. Mudei
meu jeito também. E devo isso a você, embora nunca poderei lhe agradecer. Ando
mais séria e menos intrometida. Passei a ajudar as pessoas que me pedem pela
ajuda. Passei a ter medo de perder pessoas que são importantes para mim e de
tentar cuida-las o máximo possível, desde que você se foi.
Sinto saudade de como você me divertia, das suas
piadas, das suas reclamações, de passar o dia todo jogando conversa fora, como
se nada além de nós fosse mais importante. Sinto saudade de como a gente se
entendia e se completava. De como nos parecíamos a ponto de esquecermos as
diferenças. Você foi a pessoa que mais me compreendeu e menos me julgou. Me
ajudou a crescer e eu sei que te ajudei também. Sinto saudade de como você me
escutava sem reclamar. Dos seus silêncios de que estava ali, a uma esticada de
mão. Sinto falta dos seus conselhos e da sua companhia. O de estar lá para o
que vier, independente do que acontecesse. Você acreditou em mim e eu acreditei
em você. E juramos que iriamos inventar o para sempre e envelhecermos juntas.
Nossos filhos seriam amigos contaríamos
a eles nossas aventuras e viagens.
Nada disso aconteceu. Ficou nos planos e pouco a pouco
foram deixados para lá, enquanto o destino –o mesmo que nos uniu –afastava
nossos caminhos sem que percebêssemos. Você mudou de cidade para alcançar seus
planos. E, ao alcançar, mudou de atitude. Amadureceu. Virou adulta. E como adulta
que era parou de perder tempo com coisas bobas. Sem julgamentos, eu entendo. A
vida é assim e o bonde é um só. Não se pode perder quando ele passa. Eu só
gostava da sua antiga eu, aquela que via tudo rosa e adora filme infantil.
Aquela que tinha tempo para mais coisas do que só ser responsável. Aquela que,
sem egoísmo, sem cobranças, tinha tempo para mim.
Mas aceitei sua mudança, porque compreendi que mesmo
que tivesse perdido minha irmã de alma, era necessária a você. Eu pertencia a
sua outra eu, a sua vida de garota moleca do interior e não a adulta
responsável que queria ser. Eu ficava lá atrás, pagina colorida de sua vida que
você teve que virar para chegar aonde chegou. Parabéns. Sem ironia, sem
cinismo, mas com dor, você chegou. Também ando chegando aonde sonhei, caso você
queira saber.
Parei de falar de você. Parei porque cansei de ser
repetitiva. Porque isso só me faz mal. Porque sei que falar sobre você abre
mais feridas no lugar que você deixou. Parei de falar, porque sonho com o dia
que toda essa dor vai dar espaço a coceira de um machucado se cicatrizando.
Parei, para me fazer de forte, de fingir que não dói, que não sangra, que não
sinta falta, que já virei a página e estou seguindo em frente. Trilhando meu
caminho, como você está trilhando o seu. Driblando obstáculos, alcançando
objetivos, conquistando vitórias. Como você está fazendo do seu lado da
estrada.
Parei de falar. E talvez um dia pare de ser boba e de
sonhar em te reencontrar pelos caminhos da vida, imaginando que poderemos
recomeçar de onde paramos. Talvez um dia eu finalmente me acostume com sua ausência
e pare de me lembrar de você. Talvez eu finalmente vire essa página e entenda
que tudo dura o tempo que tem que durar e não o quanto a gente quer que dure. E
que a culpa não é minha, nem sua, nem de ninguém, por você ter ido viver sua vida sem minha
amizade. Talvez, um dia, eu torço, eu consiga agradecer por ter tido sua
companhia ao invés de chorar por você ter ido embora e me esquecido.
Talvez. Mas, em todo caso, parei de falar de você.
eu to triste pq parei de falar com meu amigo,mas ele não sabe que fiz isso pq o amo.. é triste ser amiga de uma pessoa que vc ama.
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