Vezenquando o olhar dela perdia a cor, o sorriso congelava
no rosto. Mais rápido do que uma piscada, a mente dela se desligava da roda de
amigos e ia longe. Ninguém percebia. Feito mal estar súbito, batia nela uma
nostalgia do passado, uma saudade que doía no peito, uma vontade de chorar.
Não chorava. Depois de tanto tempo, aprendeu a controlar as
lágrimas após chorar por dias seguidos. Engolia o choro. Sorria amarelo.
Disfarçava com pontos de exclamação que encobria as reticencias que ele havia
deixado em sua vida. Mexia no cabelo. Fazia uma piada qualquer. Gargalhava mais
do que a boca. Brincava com as pulseiras no braço.
Todos achavam que ela não pensava mais nele. Ás vezes até
ela mesmo pensava isso. Inventava amores correspondidos e declarações verdadeiras,
numa felicidade cuidadosamente construída na frente do espelho que desaparecia
assim que ela tirava os cílios, o rímel, o blush, a sombra. Desabava com ela na
cama, quando não tinha mais nenhum espectador para observa-la.
Mas quando o aperto no coração lhe tirava o ar mesmo na roda
de amigos, ela controlava a voz embargada e pedia licença para ir ao banheiro.
Ninguém desconfiava. Saía ainda composta até chegar à frente do espelho e se
encarar. Os olhos tristes. O sorriso desbotado. A palidez por trás da
maquiagem.
Respirava fundo. Uma. Duas. Três vezes. O peito ardia, como
se o ar que entrasse em seu peito não lhe fosse suficiente. É que quando o
coração dói respirar é impossível, constatava.
Sua máscara caía e, então, ela se perguntava se alguma coisa
em sua vida fazia ainda algum sentido. Se seus sorrisos amplos compensavam suas
lágrimas silenciosas. Se os namorados sem futuro compensavam o vazio de sua
alma. Se seus amores inventados compensavam a solidão sufocante de noites
frias.
Balançava a cabeça. Expulsava de sua mente as lembranças que
lhe infectavam de dor e saudade. Retocava a maquiagem. Reconstruía a mulher
forte que era. Que todos achavam que ela era. Dava seu melhor sorriso. E se
convencia de que estava tudo bem, para então voltar para a mesa.
Feito mal estar súbito, a sensação de vazio e fracasso iam
embora, passava sem que ninguém percebesse enquanto ela fingia que era uma
mulher feliz, completa, que nunca chorava a noite e que não precisava dele, que todos achavam
que ela era.
Mas quando a máscara caía, só ela sabia quão sufocante e difícil
era suportar a vida sem ele ao seu lado.
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