Minha mão procura a sua por sobre a mesa. Nossos dedos se
encostam e você dá um sorrisinho discreto que acha que não vi, mas puxa a mão.
Eu tento de novo. Dessa vez você deixa. Só por uns minutos. E eu percebo que é
para isso que temos espaços entre os dedos: necessário preencher com outros
dedos para ficarem, ficarmos, completos. Sinto uma descarga elétrica percorrer
meu corpo ao me dar conta de como sua mão pequena cabe na minha, grande.
Você puxa a mão de novo. Sem me olhar. Parecemos dois adolescentes
com seu primeiro amor. Não somos –nem adolescentes, nem o primeiro amor –Você e
eu percorremos caminhos diferentes e longos para chegarmos até aqui –um
restaurante discreto e simples longe de toda nossa vida complicada –Você leva o
vinho seco a sua boca pequena. Boca que eu quero beijar. Boca que não me canso
de beijar. Levo a água a minha própria boca seca sem tirar os olhos de você.
Você não me encara, mas sei que também me olha por baixo dos seus cílios
longos. Mordo o lábio e nossas pernas se encostam por baixo da mesa. Você olha
para o lado. E cora ao perceber que eu não tiro os olhos de você.
Você fica linda vermelha. E estar vermelha me lembra da
temperatura de seu corpo. E dos nossos corpos quando estão juntos. Enquanto você
escolhe o prato, eu coloco a mão por baixo da mesa e toco sua pele. Você
arrepia. Mexe no cabelo. Olha para o lado de novo. Não tem ninguém conhecido e
a gente sabe. Ainda assim, você tira a perna. Tarde demais para fingir que não sente
nada. Se eu obedecesse nosso instinto –o meu e o seu –você já estaria de baixo
de mim e sobre essa mesa, enquanto minha boca percorre sua pele macia e
cheirosa. Seus olhos azuis se escurecem um tom e, então, adivinho, seu coração já
perdeu o compasso e você a vontade de jantar.
Seguro sua mão de novo e dessa vez você não solta. Já não pode.
Suas unhas pintadas de vermelho, a mesma cor de sua pele em chamas, fincam na
minha pele e agora é a minha vez de me arrepiar.
Não falamos. Porque não precisamos. E sem pedidos, sem
insinuações, sem palavras, você abandona seu vinho seco, eu a minha água, nós o
pedido do jantar já feito, e, feito adolescentes, saímos do restaurante sabendo
que deixamos para trás um cozinheiro irritado. De mãos dadas, sorrimos da mesma
piada sem precisar dizê-la. Sabemos que se alguém nos ver estamos ferrados,
mas, feito adolescentes, não ligamos para nada além de irmos para um cantinho
só nosso, para que eu possa te fazer minha, para que eu posa ser seu, para que
possamos estar onde realmente é o nosso lugar.
Um nos braços do outro.
Indo juntos para um lugar onde nosso coração não consegue
parar de disparar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários