Você tentou me fazer de palhaça e a gente sabe muito bem
disso. Você achou que eu seria uma conquista difícil, mais um rostinho bonito
para sua estante, e resolveu tentar; não porque em algum momento achou que
valia à pena, mas porque estava a procura de uma figurinha nova para sua
coleção. Você chegou e me comprou com promessas vazias, olhares sem profundezas,
palavras sem verdades. É, eu e essa mania estúpida de ainda acreditar em
sorrisos bonitos.
Você deve ter rido muito as minhas custas enquanto percebia
que pouco a pouco eu me entregava, superava meus traumas e ia de encontro a você,
sem medo, crente que você era o que dizia que era. Você brincou comigo, quis me
fazer de idiota, e quando se enjoou, feito criança, abandonou-me no fundo do
armário e deu as costas esquecido, como se nada entre a gente tivesse
acontecido. Mas aconteceu e, ainda que você aja como se não, a gente sabe que
aconteceu. Você mexeu comigo e não escondo; mas sei que também mexi com você e
foi por isso que você fugiu.
Você mesmo declarou, com muito orgulho, que era um bom
mentiroso. Mentiu antes, durante, depois, só para me convencer. Você realmente
mente muito bem, mas não deveria ter orgulho disso. Assim como eu acreditei que
suas mentiras fossem verdades e morro de vergonha disso. Eu deveria ter visto
que tudo não passava de um jogo para você. Eu era apenas mais uma conquista
para se colecionar. Agora está aí, de peito estufado, achando que eu até fico
bonitinha assim, na sua estante. Posso até ter sido uma palhaça por alguns
instantes, mas na sua estante eu não estou. Não sou bonequinha nem item de
coleção de ninguém. Sou valiosa demais para pegar poeira sobre um móvel
qualquer.
Eu acreditei em você e também acreditei na gente. Achei que
seu sorriso era sincero e suas promessas fossem verdadeiras. Eu achei que fosse
você. E posso até ser piada por isso. É culpa minha –minha e dessa mania
estúpida, dessa ingenuidade infantil, de acreditar em quem me olha nos olhos,
de me apaixonar por sorrisos bonitos, quando existem pessoas que se sentem
orgulhosas por mentirem bem, como você.
Tentou me fazer de palhaça. Aposto que acho que conseguiu,
que riu muito as minhas custas, que ficou encantado com minha figurinha na sua
coleção. Posso ter sido ingênua, posso ter sido idiota e até ter feito papel de
boba...
Mas palhaça não.
Palhaço foi você.
Por fazer questão, por sentir orgulho, por ter conseguido
perder alguém como eu.
wow parabéns pelo maravilhoso texto, Nanda! Adorei!
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