quarta-feira, 10 de abril de 2013

Sopra Que Passa




Eu sei que dói. Não precisa balançar a cabeça, dizer que está tudo bem, fingir que é forte. Dói. E não é pouco não. Cair nunca é bom, se machucar nunca faz bem e se levantar nunca é fácil. Eu sei, eu sei disso tudo, meu bem, tem hora que parece que não vai dar, que você chegou ao seu limite, parece que a ferida nunca para de sangrar, não importa o que a gente faça. Não aguentamos mais portas batidas em nossa cara, “nãos” gritados no nosso ouvido, decepções que precisamos suportar. Às vezes o coração fica pesado mesmo, as lágrimas correm incontroláveis e dá vontade de jogar tudo pro ar, ligar o foda-se e parar de lutar. 

Não se desespera não, meu bem. O desespero cega, te faz esmurrar uma porta emperrada e não olhar as janelas escancaradas bem aí, na sua frente. E vê se não desiste só porque tá com cem chaves e apenas uma fechadura. Pare de enxergar só fracassos e comece a ver como tentativas: cem chaves são cem tentativas para se abrir um novo caminho. Se não for na primeira será na segunda, na quadragésima, na última, que seja, você vai abrir quando estiver pronto para ver o que tem do lado de lá. Quem procura acha, meu bem, e quem não desiste consegue, como recompensa, alcançar.


Não alimente seus medos nem cultive antigos traumas. Eu sei que às vezes a altura assusta, mas aposto que já te disseram quando criança: se você cair do chão não passa. Parece absurdo, mas é verdade. Machuca? Machuca. Dói? Dói. E não é pouco. Mas o chão é seu limite, dali você não pode mesmo passar. É que quando a gente cresce, esquece todos esses conselhos verdadeiros porque cremos que são bobos. Não é não, meu bem. Vire criança, ainda que sendo adulto, e se joga na vida sem se preocupar se tem uma proteção para te amparar. Como uma criança que se arrisca aprendendo a andar de bicicleta, ainda sem equilíbrio, e insiste em tirar as rodinhas. Eu dou conta, pai. E pedala. E ri por conseguir. Até que perde o equilíbrio e cai. Abre um berreiro, a pobre criança, o pai corre tentando acalma-la, diz que do chão ela não passou; e não passou mesmo, ela bem sabe disso; mas ela afirma que tá doendo muito e sangrando muito. O pai solta uma frase sem sentido, até, antes mesmo de limpar o machucado, passar o remédio e colocar um curativo pra que ela se esqueça do esfolado, que consegue fazê-la acalmar: vou soprar e passa. Quatro palavras, apenas, e pergunte aquela criança se não é verdade mesmo que depois do sopro não passou?

Do chão a gente não passa, do resto, tudo passa. Arranca as rodinhas da sua vida, meu bem. Não alimente seus medos. E se joga. Como a criança que um dia você foi. E se cair, paciência, lembre-se que o chão é seu limite. E antes de se levantar correndo, colocar um curativo para estancar o sangue e te fazer esquecer a dor, se permita ser criança por alguns segundos: chore, peça ajuda, se permita se doer por um tempo. E recorde um dos conselhos mais sábios que já te deram na vida quando a dor for forte demais. Eu sei que dói. Eu sei que você pensa que não vai dar conta. E sei também que não tem como comparar uma queda de uma criança brincando de bicicleta com as quedas que leva na vida. Mas você vai dar conta sim. A gente sempre dá. E antes de se desesperar e querer desistir, antes de ficar colocando o dedo na ferida e achar que não pode superar mais uma decepção, respira fundo, meu bem, e sopra.


Sopra que passa.


Texto postado em Aos Dezesseis Anos em 14 de fevereiro de 2013

5 comentários:

  1. Oi Nanda, tudo bom?
    Amei o seu texto, você escreve muito bem mesmo! Parabéns!
    Tem post novo lá no blog e também tem um texto novo!
    Beijão
    endless-poem.blogspot.com.br

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Comentários

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