Solidão A Dois

Eu vou e vou sem pena. Já tem tempo que estou tentando te avisar, que ando cansada de insistir sozinha nessa relação, será que você não percebe o quanto minhas mãos estão machucadas de tanto segurar essas pontas sozinhas? Damos uma volta ao Maracanã sem sair desse apartamento de três cômodos e você não faz nada além de pedir para eu relaxar para diminuir essa distância. Tá me doendo, mas não aguento mais me doar sem receber. Se eu for, amor, eu já aviso que vou sem pena.

Eu me joguei inteirinha nessa relação sem pensar nas consequências e achei que, para qualquer coisa, seu braço estaria lá para me segurar. Já faz tempo que você não me segura, só me sufoca com seus silêncios, suas fugas, sua distância sem explicação. Olha só para gente, olha só para mim. Será que não percebe que você mesmo está causando o nosso fim? Eu tô tentando te avisar. Tô gritando em silêncios o desespero de minha alma. Tô te dando um ultimato. Caramba. Me olha um pouquinho e escuta esse meu desespero de quem não aguenta mais essa nossa solidão a dois. Se as coisas não mudarem, se você não se esforçar, eu desisto, eu jogo a toalha, eu pego minha roupa que esqueci no chão, e vou embora. Sem olhar para trás. Sem pena.

Vou sem despedidas no meio da noite enquanto você dorme um santo dos justos. Vou sem me humilhar mais. Solto a corda, pulo do barco e nado sem olhar para trás. Ignoro seu pedido de socorro e te deixo afogar sozinho. Vou sem quebrar nada, sem acusar, sem brigar, sem querer nada. As chaves da casa são suas; e meu coração também, mas esse eu vou levar. Vou sem bater a porta que é para deixar claro que tô indo para não mais voltar. Eu tô avisando, tá escutando? Se eu soltar essa corda vai ser para nunca mais segurar.

Um dia, eu tô te dizendo, você vai acordar me procurando e só vai achar um bilhete perdido por aí, junto com a toalha jogada, junto com o café que esfriou, junto do silêncio que te restar: eu fui, e fui sem pena. Pena eu tô de você, amor, que vai ficar.