quinta-feira, 11 de julho de 2013

Aquela Última Quinta-Feira do Mês

Venha ser colaborador oficial do UDC


Eu abri mão de você numa madrugada fria do maior inverno que meu corpo já conheceu. Era uma quinta-feira qualquer, que tinha tudo para ser como todas as outras, quando eu decidi que já chegava essas nossas mil tentativas de acharmos uma saída enquanto cavávamos fundo um silêncio sem fim. O termômetro marcava vinte graus lá fora, mas a temperatura da cama que um dia foi nossa, que dividiu tanta história, estava muito abaixo disso. Carros passavam na rua movimentada, meu corpo tremia de frio, você dormia feito uma pedra e meu coração não mais disparava só de te ter ao meu lado. E você estava –seu corpo, seus braços, sua respiração calma e sua presença inquestionável –E, ao mesmo tempo, não estava. Eram quinze centímetros no separando na cama. Uma avenida inteira separando nossas vidas e aquele futuro nosso que tanto sonhávamos em alcançar. O futuro que nunca alcançaríamos.


Eu abri mão de você quando seu corpo não mais me esquentou, deixando que o frio doloroso da minha alma ressurgisse de cantos escuros e me abraçasse e me invadisse e me completasse e me sugasse e me sufocasse como achei que você o faria, quando te olhei pela primeira vez também em outra quinta feira qualquer perdida no calendário junto com dias que marcaram, passaram, achamos que seriam eternos e hoje já não tem mais importância. Você deixou de ter importância quando parou de me olhar daquele jeito, quando não secou minhas lágrimas, quando se recusou a me dar um colo que só você poderia me dar. Quando mergulhou em sono profundo e silêncios pesados e não reparou meus próprios silêncios gritantes cortando meu corpo trêmulo de frio, minhalma trêmula de necessidade de você.

Abri mão de você sem gritos pragas vinganças articuladas ódio declarado e desespero clichê de fim de romance. E por isso abri mão do jeito mais doloroso doentio gritante vingativo e cheio de ódio de um silêncio desesperado de quem mais nada poderia fazer, de quem não aguentava mais o frio congelante de uma alma em ebulição de sentimento, de quem já não aguentava o calor que não mais vinha do seu corpo nem me bastava nem me esquentava nem me fazia ferver. Abri mão em silêncio e por isso do jeito mais barulhento que poderia um dia abrir mão de alguém. Abri mão da sua mão como se não soubesse que estava abrindo mão de uma parte de mim que só existia ao seu lado. Como se não me doesse abrir mão de mim também. E doeu e dói e vai doer para sempre e você não tem nem ideia.  Mas abri mão de você porque precisava salvar aquela outra parte de mim, que existia antes de você.

Aquela foi a última quinta-feira do mês e a última da nossa história. Eu abri mão da nossa história ao te arrancar do meu futuro, antes que destruísse nosso passado com mais alguma tentativa. Eu abri mão de tudo como se não soubesse que estava abrindo mão de um mundo. Daquele mundo. Do nosso mundo. Do mundo que um dia eu sonhei em conquistar com você.

3 comentários:

Comentários

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Compartilhe