domingo, 6 de outubro de 2013

Sem Titulo, Sem Você

Sugestão: leia ouvindo Untitled, do Simple Plan
Música que eu usei para fazer o texto :)))



As paredes me sufocam, mas não me esmagam enquanto não me movo da cama que um dia foi nossa e que ainda guarda seu cheiro de flores de campo misturado com sexo-drogas-e-rock’n’roll no sentido mais amplo que essa frase abrange. Eu próprio –e logo eu, aquele que um dia foi taxado por você de certinho-conservador –cheiro a um pouco de álcool, nicotina, maconha e a você de um jeito que faz parecer que você ainda está aqui, preenchendo os espaços vazios da minha vida entre parênteses que fica com sua ausência. Posso te sentir, não posso te tocar, mas você continua em todas as partes porque ainda está presa a mim de um jeito suicida que ninguém compreende –nem eu, porque a dor, como primeiro ato de sua ditadura, nos tira nossa capacidade de entender o que é que se passou.


Vejo você por aí, desfilando de mulher fatal que adora um salto agulha batom vermelho roupa de onça , e isso ainda me arranca sorrisos daqueles que só você um dia arrancou de mim. Vejo você por aqui, fingindo ser a menina inocente que nunca foi, e isso me arranca o melhor de mim do jeito que só você um dia conseguiu Vejo você com outros caras, rindo de mim, quem?-ele-ah!-ele-é-só-um-conservador-certinho-idiota-que-tinha-emprego-de-carteira-assinada-e-salário-contado-no-final-do-mês-dá-pra-acreditar?! –e isso ainda me desperta fúrias incontroláveis do seu jeito insuportável de ser que eu nunca consegui mudar. Vejo você cantando nossa música que agora já não tem a mesma rima, bem no nosso apartamento, de um jeito feliz que talvez só eu tenha chegado a conhecer. Vejo você embaixo de mim, menina a ser cuidada, em cima de mim, mulher a ser domada, arrancando meu coração e se prendendo a minha alma. Vejo você no canto, tragando um cigarro-cheirando uma pedra-injetando seringas-bebendo wiskys baratos-e fedorentos, jogada ao chão, entorpecendo uma dor que só você sentia e que ninguém –nem eu –foi capaz de compreender.

Talvez se a gente não tivesse brigado e eu batido a porta para você e para nós dizendo que você era uma imbecil sem limites que não merecia o amor que eu tinha aqui e dava a você. Talvez se eu não tivesse ficado tanto tempo fora e te deixado sozinha –você e sua dor maior que tudo –se tivesse te abraçado, te ninado, dito que tudo ficaria bem, que daríamos um jeito, te livraria de teu vício (mesmo sabendo que era tudo mentira). Talvez se eu não fosse o certinho conservador, se você tivesse me escutado apenas alguma vez, se nosso amor tivesse sido o bastante para te salvar do caminho que escolheu antes de escolher a mim. Se tivéssemos sido apresentados e você me amado primeiro do que amou as drogas, o sexo, o rock’n’roll. Se nunca tivéssemos nos conhecido e você continuasse a ser apenas uma menina-bonita-mulher-fatal-amiga-de-alguns-amigos-em-comum. Se. Não me doesse tanto, não me maltratasse tanto, não me sufocasse tanto, não me culpasse tanto, não me.


Não consegui te salvar de você mesma e nos matei, ainda que o ar percorra meu corpo e me mantenha vivo numa tortura enlouquecedora. Agora sou o que você foi, irresponsável, perdido, viciado, bêbado, sucumbindo a essa dor como você sucumbiu àquelas drogas que eu odeio e me entupo para anestesiar o que, aqui dentro, restou mesmo com sua maldita partida. Porque foi você quem morreu de overdose, mas sou eu quem sofro de abstinência de você e desse meu tão louco amor.

And I can't stand the pain
And I can't make it go away
No I can't stand the pain
How could this happen to me?
I've made my mistakes
Got nowhere to run
Untitled -Simple Plan



2 comentários:

  1. Mas gente, que texto!
    Gosto quando vc escreve nesse tom mais pesado, quando sai um pouco daquela linha romantica e tal, fora que baseado em untitled, tu fechou.
    Mto bom meesmo. :)

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