Sugestão: leia ouvindo Untitled, do Simple Plan
Música que eu usei para fazer o texto :)))
As paredes me sufocam, mas não me esmagam enquanto não me
movo da cama que um dia foi nossa e que ainda guarda seu cheiro de flores de
campo misturado com sexo-drogas-e-rock’n’roll no sentido mais amplo que essa
frase abrange. Eu próprio –e logo eu, aquele que um dia foi taxado por você de
certinho-conservador –cheiro a um pouco de álcool, nicotina, maconha e a você de um
jeito que faz parecer que você ainda está aqui, preenchendo os espaços vazios
da minha vida entre parênteses que fica com sua ausência. Posso te sentir, não posso
te tocar, mas você continua em todas as partes porque ainda está presa a mim de
um jeito suicida que ninguém compreende –nem eu, porque a dor, como primeiro
ato de sua ditadura, nos tira nossa capacidade de entender o que é que se
passou.
Vejo você por aí, desfilando de mulher fatal que adora um
salto agulha batom vermelho roupa de onça , e isso ainda me arranca sorrisos
daqueles que só você um dia arrancou de mim. Vejo você por aqui, fingindo ser a
menina inocente que nunca foi, e isso me arranca o melhor de mim do jeito que só
você um dia conseguiu Vejo você com outros caras, rindo de mim,
quem?-ele-ah!-ele-é-só-um-conservador-certinho-idiota-que-tinha-emprego-de-carteira-assinada-e-salário-contado-no-final-do-mês-dá-pra-acreditar?! –e isso
ainda me desperta fúrias incontroláveis do seu jeito insuportável de ser que eu
nunca consegui mudar. Vejo você cantando nossa música que agora já não tem a
mesma rima, bem no nosso apartamento, de um jeito feliz que talvez só eu tenha
chegado a conhecer. Vejo você embaixo de mim, menina a ser cuidada, em cima de
mim, mulher a ser domada, arrancando meu coração e se prendendo a minha alma.
Vejo você no canto, tragando um cigarro-cheirando uma pedra-injetando seringas-bebendo wiskys baratos-e fedorentos, jogada ao chão, entorpecendo uma dor que
só você sentia e que ninguém –nem eu –foi capaz de compreender.
Talvez se a gente não tivesse brigado e eu batido a porta
para você e para nós dizendo que você era uma imbecil sem limites que não merecia
o amor que eu tinha aqui e dava a você. Talvez se eu não tivesse ficado tanto
tempo fora e te deixado sozinha –você e sua dor maior que tudo –se tivesse te abraçado, te ninado, dito que tudo ficaria bem,
que daríamos um jeito, te livraria de teu vício (mesmo sabendo que era tudo
mentira). Talvez se eu não fosse o certinho conservador, se você tivesse me
escutado apenas alguma vez, se nosso amor tivesse sido o bastante para te
salvar do caminho que escolheu antes de escolher a mim. Se tivéssemos sido
apresentados e você me amado primeiro do que amou as drogas, o sexo, o rock’n’roll.
Se nunca tivéssemos nos conhecido e você continuasse a ser apenas uma menina-bonita-mulher-fatal-amiga-de-alguns-amigos-em-comum. Se. Não me doesse tanto, não
me maltratasse tanto, não me sufocasse tanto, não me culpasse tanto, não me.
Não consegui te salvar de você mesma e nos matei, ainda que
o ar percorra meu corpo e me mantenha vivo numa tortura enlouquecedora. Agora
sou o que você foi, irresponsável, perdido, viciado, bêbado, sucumbindo a essa
dor como você sucumbiu àquelas drogas que eu odeio e me entupo para anestesiar
o que, aqui dentro, restou mesmo com sua maldita partida. Porque foi você quem
morreu de overdose, mas sou eu quem sofro de abstinência de você e desse meu
tão louco amor.
Me arrepiei até ..
ResponderExcluirMas gente, que texto!
ResponderExcluirGosto quando vc escreve nesse tom mais pesado, quando sai um pouco daquela linha romantica e tal, fora que baseado em untitled, tu fechou.
Mto bom meesmo. :)