Eu te amei em segredo porque ao tentar colocar em palavras
me perdia em meu próprio sentimento. Você nunca entenderá isso. Nem eu. É que
sou boa assim, sentindo só para mim, escrevendo só para mim, amando só para
mim. Falar nunca foi um esporte preferido meu –não falar sobre meus
sentimentos. Eu te amei sem dizer porque dizer parecia muito pouco pelo tanto
quanto te amei. Amei em silêncio. Em gestos. Em olhares. Em desculpas por todos
seus atrasos e ausências. Amei devagarzinho, mas intensamente. Sem medo de me
jogar daqui de cima mesmo você cobrando que eu pulasse com mais vontade. Eu
pulei e você nem reparou. Não reparou porque queria provas e a única coisa que
eu estava te mostrando é que mais importante do que gritar por aí o que eu
sentia, pra todo mundo ouvir, era ficar ao seu lado, mesmo você insistindo que
deveria ir.
Por fim, você foi. Foi sem ouvir o que eu tinha pra dizer:
que eu te amei. Eu amei cada detalhe seu –desde sua sobrancelha torta até
aquela falha na sua barba que você odiava (e eu amava). Amei suas roupas
desarrumadas, sua bagunça nada organizada, o desastre que você era com comida e
se sujava todo –especialmente quando eu ficava te olhando daquele jeito que te desconsertava. É que eu te amei pelo olhar. Porque me perdia
entre seus olhos e sua boca, porque achava a coisa mais linda o jeito com que você
me encarava, porque você tinha um mundo de detalhe que eu queria abstrair só
para mim. Sugar mesmo. Assimilar aqui dentro e levar para sempre comigo –mesmo quando
a gente já não estivesse juntos. Eu sabia que era questão de tempo pra você se
mandar. Você era demais para mim. Eu era demais pra você. As sobras, uma hora,
iria nos atrapalhar. A gente ia levantar da cama e tropeçar pela extensão nossa
que não cabia ali: cairíamos. Caímos. Quebramos. Rachamos a proteção do nosso
amor. E perdemos. Você me perdeu e eu perdi a chance de dizer que amei você.
Mas amei. Você sabe disso tão bem quanto eu, basta pensar um
pouquinho e se lembrar de mim com carinho que, eu sei, no fundo você sentiu por
mim. Amei você em gestos, quando lhe fazia carinho, quando lhe estendia a mão,
quando deitava a cabeça no seu ombro e ficava –mesmo quando todos os meus
instintos insistiam em ir –Eu te amei toda vez que decidia ficar, mesmo sabendo
que, cedo ou tarde, você me faria mal. Todas as vezes que você fez merda –você fez
muita merda, não é, eu também nunca te disse –e sentava aqui esperando você voltar.
E abria os braços e meu coração quando você voltava –com marca de batom e
marcando nossa história com um capitulo sem sentido que me doía –Eu te amei a
cada perdão imperdoável, a cada lágrima que segurei e estampei meu sorriso mais
lindo só pra te convencer de que estava tudo bem. Não estava tudo bem, mas te
amei a cada reclamação, cobrança, discussão que evitei só pra não atrapalhar o
seu momento, não ultrapassar o seu tempo e forçar um acidente no meio do
caminho. Queria que a gente chegasse ao final. Só isso. Vivos e sorridentes.
Não chegamos sorridentes e, talvez, sequer vivos.
Eu coloquei cada afeto meu em cada gesto que fiz em você.
Como naquela música do Teatro Mágico que eu adoro. Eu te amei em cada entrega,
em cada toque, em cada noite visceral sobre a cama e em cada manhã sozinha
esperando um beijo de bom dia –um beijo que nem sempre veio. Te amei
loucamente, insanamente, toda vez que te tirava a roupa, toda vez que mostrava
que te queria –ali, naquele momento, sem pressa ou pressão –Te amei a cada
grito que não fiz. A cada ofensa que escutei calada e não quis revidar. A
cada mágoa que não te causei. Te amei, cara, pisando em ovos com medo de
melecar tudo enquanto você parecia me fazer andar em cacos de vidro, só pra me
ver ferida e ensanguentada por você.
Eu me feri por você e mesmo assim te amei: mesmo ficando
sozinha pra cuidar de machucados que nós dois causamos.
Te amei em cada ferida sua que cuidei. Em cada cuidado que
te dediquei. Em cada vez que abri a porta e em cada vez que meu coração se
encheu de alívio quando você voltou. Te amei a cada inflamação que você me
causou. A cada catarse. A cada enjoo. A cada vômito posto pra fora toda vez que
me sentia suja, sabendo da sujeira que você fez no dia anterior. E mesmo assim
te aceitava. Nunca te disse tudo isso porque você não estava pronto pra
escutar, porque eu não estava pronta para dizer, porque nós não estávamos
prontos para a intensidade do meu sentimento, porque eu sabia que te amar não mudava o que nós nunca seríamos.
Eu te amei. Muito. Eu nunca te disse. Mas desconfio, você sempre
soube. E por isso fugiu, no meio da madrugada. E por isso eu te deixei fugir,
trancando de vez a porta, mudando a chave, me prometendo não sujar ainda mais
nossa história com minhas lágrimas de raiva. Porque te amar em pretérito dói
bem menos do que te amar em presente –sabendo que não houve nem nunca haverá um
futuro para nós.
Parabéns pela escrita.. Por favor, tenta, postar com mais frequência. :D
ResponderExcluirObrigada!
ExcluirEu até tento postar com mais frequência, mas a faculdade deixa?
hahahahaa