quarta-feira, 26 de março de 2014

Sobre Os Caminhos Que Me Trouxeram Até Você



Se pudesse voltar ao tempo, eu teria feito as mesmas coisas. Pode parecer estranho, mas para mim se arrepender de coisas feitas é como se arrepender de uma parte de quem você se tornou. Sabe? Todos os seus erros, as falhas, os acertos e as merdas que você fez te tornou no que você é agora. Está te preparando pro que você será, daqui alguns anos.  Não que eu não acredite em arrependimento. Às vezes me arrependo de ter feito ou falado coisas demais (ou de menos), mas se me fosse dado a chance de voltar no tempo, se existisse alguma máquina que eu pudesse consertar as coisas: não consertaria. Deixaria em cacos no chão espalhados pela sala; manteria minhas marcas e minhas feridas, minhas desilusões e minhas falsas crenças que acabei abandonando com o tempo.

Eu teria, por exemplo, entregado meu primeiro amor a um cara que não estava nem um pouco interessado nele, lá atrás, quando ainda não sabia nada da vida e achava que entendia tudo de amor. Eu teria dado meu primeiro beijo desastroso, totalmente fora da época. E achado que tinha encontrado o amor da minha vida com apenas 14 anos de idade. Se eu pudesse voltar ao tempo, teria vivido meu primeiro amor bandido exatamente como vivi. Com aquele cara meia boca que se achava o gostosão da turma de amigos só porque as meninas ficavam loucas nele. Eu teria entregado meu coração facilmente pro primeiro par de olhos bonitos que cruzei pelo caminho. Me apaixonado pelo meu melhor amigo mesmo sabendo na merda gigante que isso daria dali a dois meses. Eu teria me apaixonado por um sorriso lindo. E por palavras falsas, como me apaixonei pouco depois. Ter me envolvido com um cara que já estava na faculdade e só queria se divertir. Teria colocado minha paixão dos dezessete na parede e perguntado quando que ele iria parar de me enrolar –e vê-lo fugir assustado com a minha coragem de expor o problema bem aos berros pra quem quisesse ouvir –Eu teria me envolvido com um cara que com toda certeza não servia na minha vida. O meu oposto que deixava claro pra todo mundo que não daria certo –e não deu, mas a experiência de entrar em contato com outro mundo valeu algumas risadas –Eu teria saído com um cara que era louco por mim e tentado insanamente me apaixonar por ele como eu tentei, durante muito tempo, sem nenhum sucesso. Teria me jogado nos braços de um amor platônico que tinha tudo para ter sido o meu melhor amor e não foi.

Eu teria escrito aquelas mesmas cartas de amor ridículas que escrevi pra algumas das minhas paixões. Mesmo que eu continuasse morrendo de vergonha disso, agora, dez anos depois. Eu teria jurado amor eterno aos 13. E achado como Machado de Assis disse que aos quinze tudo é infinito. Não é. Mas era bom acreditar nisso. Eu teria começado minhas escritas com poemas e depois largado tão mão disso que hoje não sei fazer nenhuma rima besta. Eu teria dito não de novo pro garoto mais desejado da escola simplesmente porque sabia que ele apenas queria fazer número ou irritar sua recém-ex-namorada. Só pra ver a cara de metade das meninas com a minha coragem de ter renegado o beijo de um dos caras mais lindos do colégio. Era só um rostinho, cês me entendem? Ninguém entendeu. Eu teria me apaixonado perdidamente de novo por um cara que não sabe da minha existência até hoje. E teria imaginado que um dia ele olharia para mim e saberia que era eu, a gente se casaria, teria dois filhos, um cachorro e um amor de novela pra contar. Porque inventar histórias com certeza é uma das coisas que faço de melhor.

Se eu pudesse voltar ao tempo, eu teria achado que queria engenharia mecânica como achei tanto que queria no primeiro ano do ensino médio. Teria odiado biologia até conhecer um professor lindo que me fez me apaixonar –por ele e pela matéria –Eu teria tentado bioquímica três vezes, exatamente como tentei, até tropeçar num artigo de Freud e me encantar com a psicologia. Eu teria escrito meu livro de novo na época mais conturbada da minha vida, ao invés de me dedicar mais ao vestibular. E teria conquistado um livro e uma vaga na federal exatamente na mesma época, porque isso sim é motivo de eu me orgulhar. Se eu conseguisse me encontrar comigo mesma há dez anos atrás, eu diria praquela menina sonhadora pra ela trilhar o mesmo caminho que trilhou, quebrar seu coração com as mesmas pessoas que nos quebrou, entregado cartas e recitados poemas pros mesmos amores sem sentido que viveu. Eu diria a ela pra acreditar nos mesmos amigos que a traiu. E colhesse os mesmos espinhos que colheu, antes de encontrar uma flor no fim do jardim. Eu diria para ela continuar sangrando e sorrindo, pra ninguém perceber a dor que ela escondia. E até voltaria a dizer para que ela construísse as paredes que a protegiam de uma grande desilusão depois de tantas que ela colecionou. Sabe, menina, um dia alguém não se assustaria com ela e derrubaria uma a uma. Eu falaria pra ela sofrer com o amor que não deu certo, com o amigo que foi embora, com aquele canalha que a trocou pela melhor amiga. Sabem? E sabe aquele gatinho que seus olhos encontraram no meio de um ônibus lotado, menina? Ele não era o amor da sua vida não, mas pode pensar assim naquele momento. Porque ele era realmente lindo, não é mesmo?

Eu teria vivido o que vivi. Rido do que eu ri. Chorado pelo que chorei. Com a mesma intensidade e entrega. Porque hoje sei que cada experiência boa ou ruim me trouxe até aqui. Me trouxe até você. Eu te diria pra viver tudo o que você viveu também, sabe, que por mais que eu odeie as pessoas que você conheceu, os rolos que viveu e os traumas que encontrou, eles te trouxeram a mim. Eles te fizeram meu também. Eu te diria que talvez se a gente mudasse uma vírgula, como num efeito borboleta, como a minha querida teoria do caos, talvez tudo tivesse mudado e a gente não teria tropeçado no meio de um corredor sem graça por causa de um mal entendido. No momento certo para todos os lados envolvidos. Quando eu já não estava mais com ninguém e quando você estava pronto para deixar alguém entrar na sua vida.

Se eu voltasse naquele dia, moço, eu teria dito exatamente as mesmas palavras que eu disse. Discutido os mesmos assuntos.  Rido das mesmas piadas sem sentido. Criticado logo de cara sua banda favorita.  E te dado aquele mesmo sorriso que fez você se apaixonar por mim. Eu teria te olhado do mesmo jeito. E saído por aí dizendo que você era só mais um passatempo que eu poderia largar mão a qualquer hora por aí. Eu teria dito que fugiria. E teria ficado novamente. Como tenho ficado todos os dias. Enfrentado todos os nossos problemas e me jogado nos seus braços como eu tenho feito. Eu teria novamente me entregado a você, como se aqui não houvesse coração destroçado, amores perdidos, traumas sem curas e feridas que ainda sangram por trás de uma falsa cicatriz. Eu teria deixado você entrar, bagunçar o meu mundo, montar uma guarita no sofá da sala sem pedir licença desculpa ou se eu queria. Eu não queria, mas eu teria deixado você ter feito tudo de novo. E mais uma vez. Todos os dias. Até para sempre.

Eu teria me bancado a difícil mesmo deixando claro que te queria também. Teria tido as mesmas crises de ciúme que venho tendo sempre. E te abraçado a cada vez que você me olha com um medo doentio de me perder. Eu teria demorado a dizer que eu te amo como demorei, só para te ver prender a respiração surpreso com minha declaração que você tanto esperou. Eu teria batido o pé e ficado contra tudo e contra todos. Porque se eu tivesse vivido tudo o que vivi eu saberia: era você.

É você. Tem sido você. Vai ser você para sempre e a gente sabe. Se eu tivesse escolhas e alguma chance de voltar lá atrás, eu teria sofrido exatamente as mesmas feridas porque hoje sei que encontraria você para me cuidar. Eu teria te feito esperar uns dois dias pela sua pergunta se eu queria namorar com você, moço, só para que terminássemos assim. E teria escolhido reinaugurar meu blog bem no nosso dia. Para acabar escrevendo esse texto pra você como um pequeno agradecimento. Por você ter me feito viver os melhores meses de minha vida.

Obrigada por ter chegado sem pedir licença como uma tempestade de verão. Obrigada por ter ficado mesmo quando a tempestade acabou. E por não ter me abandonado quando o barco começou a naufragar. Obrigada por mostrar o quanto eu mereço ser feliz.  Obrigada pelos cuidados, pelas chatices, pelas piadas ruins e pelos abraços apertados que só você consegue me oferecer. Obrigada por me aceitar como eu sou e por não ter fugido mesmo sabendo que era a melhor coisa que você teria feito na sua vida. Obrigada por ser um cara de promessas mais do que de olhares. Obrigada por me fazer acreditar em um para sempre com a gente.  Obrigada pelas músicas, pelos desenhos, pelas palavras e pelas declarações. Por me fazer ouvir umas bandas horríveis e por também ouvir minhas próprias bandas horríveis. Obrigada por me fazer sorrir e gargalhar. E eu nem sei como a gente vai terminar ou se a gente vai ter algum fim. Mas obrigada por me fazer sua.


E, principalmente, obrigada por ser meu.


4 comentários:

  1. AFF' Só amor esse texto.
    Tá lindo! <3

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  2. Nossa, que texto e declaração maravilhosa. Parabéns mais uma vez, Fernanda e toda a felicidade do mundo para vocês. Acompanho diversos blogs, mas os seus textos são os meus preferidos e me inspiram. Sucesso com a nova reestreia :))

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  3. Que lindo Nanda :3 Suspirando com essa declaração rs' Felicidades minhas linda hoje e para sempre.

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Comentários

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