O ruim de não ter nada para contar é ter que revirar a
gaveta atrás de histórias. Na minha gaveta tem um monte de coisas. Eu não tenho
tempo pra todas elas. Estou com pressa. Escavo de dentro dela lembranças boas,
lembranças que já tinham sido esquecidas, fotos mal tiradas que não mereceram o
porta-retrato e as tais histórias. É importante guardar as histórias porque um
dia você pode precisar delas. Eu estou precisando de uma agora. Depressa.
O bom de rever histórias antigas é poder comparar o quanto
você melhorou. Às vezes você não melhorou coisa nenhuma, mas se sente diferente
daquele momento descrito no papel e encara como um avanço. Igual eu ouvi dizer
num filme que as relações são como tubarões que constantemente tem que avançar,
caso contrário eles morrem. E eu lá sei alguma coisa sobre tubarões? Alguém
pode tirar a dúvida que eu tenho sobre relações? Eu tentei explicar no papel,
mas as metáforas atrapalharam.
Eram folhas que não acabavam mais. Em cada uma eu acreditei
que tinha um pedaço do meu coração. Agora tenho certeza que meu coração não
sabia no que se metia.
Essa história que eu segurei com mais força se tratava de um
draminha típico em que um cara bonito aparecia onde não devia estar. Nas
histórias todo mundo é imediatamente bonito, ainda que na vida real possa levar
bastante tempo para se enxergar a beleza. E não estamos falando de um conto de
fadas. O cara conhece a mulher e logo se sente atraído por ela. Eles se
conhecem, mas nunca se viram. Isso gera uma puta expectativa, coisa que é
difícil de superar. Mesmo assim eles foram em frente, se colocaram frente a
frente.
De acordo com a mulher, nada decepcionou. Muito pelo contrário!
O cara era de poucas palavras – como todo cara que ela se interessa deve ser –
mas concordou em gênero, número e grau sem abrir a boca pra dizer uma. Abriu a
boca pra outras coisas. Só que no dia seguinte, quando tudo deveria evoluir,
ele não abriu mais. E foram ditas tão poucas palavras...
Já basta. Eu não queria falar de Benício. Tem histórias que não
merecem ser contadas.
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