domingo, 13 de julho de 2014

Desencontros Casuais


Talvez a gente encontre uma explicação, algum dia. Você pode estar acordando em alguma cama desconhecida num dia maravilhoso e sofrer um clique: era isso. Eu posso estar debaixo da chuva torrencial de fim de tarde de verão e entender porque tudo deu errado. Talvez a gente encontre a resposta juntos, sabe? Como a gente não está mais? Eu posso entrar na rua certa achando que é a errada e encontrar a saída que procuramos tanto – e que acabamos por nos perder – Você pode ficar parada nesse mesmo lugar até que alguém te leve daqui, de mim, da gente e de tudo que a gente viveu. Pode ser. A gente nunca sabe mesmo o que pode acontecer amanhã, depois que eu me despedir pela décima vez, depois que você dar meu último tchau jurando que acabou-não-tem-mais-jeito-boa-sorte.

E te juro, desejo-te sorte, amor. E muito amor também. Desses que eu quis tanto te dar e não consegui sabe? Desses que a gente quis tanto viver e acabamos por morrer. Desses que nos matou. Desejo-te sorte, amor e uma porção de felicidade, risos, piadas, alguém que te cuide e que te ame e que te deseje e que te faça feliz e que.  Perdoo o que não poderia ser perdoado –suas acusações, seus ciúmes doentio, sua insegurança maluca de quem tinha medo de se deixar naufragar nesse barco furado e aquela traição que você cometeu no fim da noite da festa que foi sem mim.  E me perdoa também, todas as falhas, erros, defeitos, acusações e por manter contato com quem você mais odiava e te deixava com ciúmes descontrolados. Acho que no fundo a gente soube que nunca foi você, nunca foi eu, nunca seríamos nós dois. Mas somos teimosos e fomos e andamos e nadamos e morremos na praia nem juntos nem abraçados bem na beira da areia, a um passo de nos salvarmos.

Mas pode me odiar, pode me desprezar, pode rasgar suas feridas em praça pública. Na praça que vai aquele casal apaixonado que a gente tanto ficou encantado porque ele olha pra ela de um jeito diferente que você sempre quis que eu te olhasse.  E nunca te olhei. Só não desista de achar, pode ser que você encontre algum dia. Pode ser que eu mesmo encontre alguém para olhar daquele jeito bobo-apaixonado-faz-de-mim-o-que-quiser-que-sou-seu porque acho que todo mundo deveria amar assim. Só não desacredite do amor. Ele deve existir. Mesmo que não tenha existido pra gente.

Foi um acaso, cê entende? Foi uma fatalidade. Nos encontros tortos da vida eu achei que você poderia me consertar. Mas sou torto, amor. Não sou pra você. E nem te encho de você-merece-coisa-melhor; mas merece alguém que te ame melhor, que te entenda melhor, que esteja aí quando eu nunca estive, que te abrace em noites frias e não fuja nas noites quentes. Alguém para as segundas de manhã mais do que para as sextas à noite. Alguém que eu não fui. Alguém que você não foi. Alguém que não saia batendo a porta e alguém que aprenda a tranca-la como eu nunca tranquei, que é pra eu nunca mais tentar voltar e pedir baixinho que tal-mais-um-café-você-ainda-se-lembra-disso?-que bom como você cantava pelos quatro cantos da casa aos sons melancólicos de um amor melancólico como nosso amor foi.

E foi. Não é, mas foi, e talvez, um dia desses, num desses encontros casuais, a gente se encontre. E eu te veja mais linda do que já é e entenda porque não foi você. Ou você pode me olhar pior do que já sou e entender que foi melhor assim. Ou talvez nem tenha sido, mas a gente se reencontre e perceba que no fim, caminhos tortos não se alinham, pessoas tortas não amam, corpos que se encaixam nem sempre formam um quebra-cabeça bonito. Talvez eu olhe pra sua foto, você escute nossa música e a gente pense juntos separados por um milhão de quilômetros como-é-que-eu-imaginei-que-poderíamos-dar-certo? E aí pode ser que a gente encontre a nossa explicação.

A explicação que não posso te dar ao te abandonar mais uma vez nesse inverno, como te abandonei tantas vezes. 

Mas não se preocupe em se levantar da cama. Dessa vez, eu te garanto, eu tranco a porta e perco a chave e não volto mais –nem pra mais um café, nem pra você, nem pra nós.  Lá na frente, já sem rancor, pode ser que eu te diga que prazer em vê-la, e você entenda que não foi culpa de ninguém o fim desse nosso amor, minha amiga.


Talvez num desses desencontros casuais. Vá saber. A gente se encontre e finalmente entenda porque tudo acabou. Se é que podemos dizer que algum dia começou.


5 comentários:

  1. Belo texto Fernanda, você usa a linguagem de outra forma. Uma forma mais profunda, ritmada, ao mesmo tempo orquestrada e caótica. Uma forma superior, enfim. E dá um tesão absurdo... de ler.

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    1. ahahahahahaha meu deus, eu to chorando com o comentário
      obrigada
      eu acho???????????????????????????????/

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  2. Ai Fê, tá tudo lindo e perfeito como sempre são os seus textos. Mas apesar de sentir lá no fundinho que é tudo verdade (e exatamente por isso doer tanto), eu ainda não quero que termine, e não quero que vá embora e perca a chave .. Na boa eu só queria que ele dissesse que ainda acredita na gente e que aparecesse na minha janela assoviando com aquela cara de bocó, pedindo pra eu jogar a chave. Queria que a gente fosse desses casais sabe ? Que tem tudo pra dar errado e exatamente por isso dão certo. Porque, eu sei que amor não é tudo, mas é que eu o amo tanto que queria que fosse. Queria que ele não me achasse insuficiente mesmo quando eu dou tudo de melhor que há em mim. Queria que esse tudo fosse o bastante pra fazê-lo ficar .. Mas não é né ? E meu coração tá cansado dessas idas e vindas já sabe ? E dessa vez eu não vou correr atrás, mas se você vier eu vou estar aqui, como sempre estive .. Querendo acertar o que desde o início esteve errado .. :(
    P.S.

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  3. Aaaaah, e queria dizer que a trilha sonora da minha depressão está sendo Luís Fonsi e que a culpa é tua !
    P.s.

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    1. Sofrer ao som de Luis Fonsi torna tudo mais agradável né?
      Aceitar o fim é difícil,mas chega uma hora que perde o sentido enfiar vírgulas onde já não cabe mais no lugar, sabe?

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Comentários

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