domingo, 17 de agosto de 2014

Num Universo (nem tão) Paralelo...




Lá fora chove e aqui dentro tudo que eu queria era um abraço. É domingo, amor, e domingo tem esse tom de nostalgia por trás do cinzento e agoniante amanhã-já-é-segunda. Queria você aqui. Mas não te tenho. Vai saber se algum dia eu te tive. Agora só me restou uma xícara de café e uma trilha sonora que você teria detestado. Fecho os olhos e balanço com o ritmo e melodia que não pedem balanços musicais. Você odiaria isso. Eu balanço um pouco mais.

Domingos pedem carinho, para suportar as lembranças; pedem abraços para suportar a solidão; pedem uma música ao fundo para suportar o silêncio que abriu-se entre a gente em mensagens mal trocadas e um afastamento quase instantâneo de duas pessoas que foram atropeladas pela vida. Acidente de amor causa estragos maiores do que os acidentes de carro. Você tem um remédio aí? Eu tô toda quebrada do lado de cá.

Quase te respondi aquela mensagem que está perdida no meu celular há dias. Mas aqui em casa só tenho doses de café, não de coragem. Acho que eu poderia mexer nas coisas do meu pai e tirar um conhaque do fundo do armário. Ele não ia se importar. Você o conhece bem. Era você quem me achava princesinha intocável e não ele. Sei lá. Eu queria mesmo ser que nem essas minas loucas que já passaram por sua cama e cair na bebida pra ver se te esqueço; e cair na droga pra ver se paro de te lembrar; e cair num mundo em que eu não precise mais pensar que você está aqui me observando. Porque você não está. Mas fico com o café mesmo; é mais seguro para mim. E para nós dois.

Eu tenho tanta raiva de você que já digitei umas mil vezes uma resposta pra sua mensagem, mas não enviei. Falta coragem e tem excesso de sentimento. Num universo paralelo talvez chamem isso de amor. Por aqui, é só idiotice mesmo de quem prefere sempre se machucar a magoar quem ama. E eu meio que sou assim, eu vou protegendo todo mundo e me esqueço de proteger a mim mesma, de dar uma conferida na minha própria casa, de dar duas voltas na chave da porta pra ninguém invadir e fazer de mim o que quiser. Acabo deixando tudo como está, saindo apressada quase sempre, fingindo que estou bem e seguindo e sendo feliz só pra não preocupar os outros com as dores imensas e sem sentido que carrego aqui. Ninguém se importa. Eu também não me importo. Não tenho tempo para me importar. Estou ocupada demais tentando fazer com que as pessoas que eu amo sejam felizes.

E você? Tá sendo aí? Afundado em trabalho, em problemas, em dilemas, em questões que nunca vai resolver e mesmo assim procura uma resposta? Tá feliz sem mim nesse domingo meio frio e chuvoso que atrapalhou metade dos meus planos e me afundou mais um pouco na depressão semanal que esse dia sempre me traz? Tá feliz, amor? Tá bem, tá contente, porque sabe que pode sumir por muitos dias e depois voltar com esse seu sorriso torto batido e umas desculpas meia-boca que eu vou abrir a porta, meu sorriso e meu coração pra você entrar outra vez e ficar pelo tempo que achar que pode ficar? Só pra ir embora de novo e me deixar afundar nesse meu universo paralelo em que te amo e não tenho você?

Te imagino me encarando com aquela cara de bobo sua quando me via cantar e dançar mesmo em meio a rua sem medo do que iam achar dessa loucura silenciada. É que medo é o que eu tenho demais, querido, só que escondo tudo isso com ritmos e melodias que você nunca entendeu, em palavras e rimas que você nunca realmente leu, com meu olhar meio selvagem num sorriso doce de menina que dou a você toda vez que te convido a ficar – só por essa noite, só uma vez mais. Você rola os olhos, mas não esconde o sorriso, naquele seu dilema de sempre de quem sabe que me ama e não quer amar. Não quer se comprometer. Não quer ir mais além do que está indo porque tem mais medo do que eu. Você foge toda vez que te encosto porque sabe que se ficar muito próximo eu vou descobrir coisas a seu respeito que nunca irei suportar. E eu quero te dizer que te amaria de qualquer jeito, mas talvez isso nem mesmo seja verdade. Você é uma farsa.

Eu também às vezes sou uma farsa.

Somos todos uma farsa fingindo que somos felizes juntos, fingindo que somos mais felizes ainda separados.

A gente tem que dar um jeito nisso, cara. Você tem que se decidir se vem ou não; eu tenho que decidir se te deixo ficar ou não. Com todos os seus medos e com todos os meus dilemas. Num universo paralelo isso talvez possa ser chamado de amor, mas nesse tá tudo tão confuso e agoniante e perdido e sem chances de ir muito mais pra frente que eu tenho ficado sufocada com tudo pra te falar só porque não quero te magoar. Será que cê entende?

Domingos chuvosos pedem abraços esmagadores, cafés fortes e blues amargos para se balançar sem olhares de censura. Mas não posso ter seus abraços hoje porque você já saiu correndo quando viu que estava dando passos a frente demais. Então fico só com cafés fortes, blues amargos e a imaginação de que te tenho aqui me olhando e me querendo e sendo meu como você ainda não foi. Só pra que eu possa ser sua como eu sempre sonhei em ser. E ainda não sou.

Você não se preocupa. Amanhã já é segunda e tudo volta ao normal, você volta a me pertencer e eu volto a te fazer feliz. Num universo paralelo a gente nunca se separou mesmo, não é? Mas nesse universo eu me sinto tão sozinha que enquanto lá fora chove tudo que eu mais queria era um abraço de quem até diz que faria tudo por mim, mas na prática não vai muito mais do que sua zona de conforto e do que quer fazer pra não magoar ninguém, mesmo quando diz que sou a pessoa mais importante para você.

Mas você só não quer magoar ninguém que não seja a mim. E no fundo eu sei que tenho que ser muito boba pra acreditar que sou importante pra ti. Num universo paralelo, pode até ser. Mas não, não nesse aqui.




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