Ouço Taylor Swift e aperto a soneca do celular, mas levanto com o todo o cansaço do mundo nas costas. Foi mais
uma noite submersa na pilha de Xerox da faculdade e preciso ir ao estágio. Saio
com um pacote de bolacha na mão –sim, bolacha- e vou até o ponto de ônibus. Subo,
troco meia dúzia de palavras com o cobrador sobre o clássico de domingo e sento
no meu lugar de costume. Passam-se cinco pontos e você entra.
Camiseta branca com uma
frase engraçada, camisa xadrez azul e um olhar misterioso e instigante. Você
sorri com o canto da boca na minha direção como um suposto cumprimento
por fazer parte da sua rotina e continua caminhando até o fundo do ônibus para se
encostar à parede. Espero sempre que algum dia você fique no caminho.
Confesso que clamo mentalmente
pelo dia em que você puxará algum assunto.
Passo centenas de temas em flashes cada vez que vejo o seu tênis marrom
subir o primeiro degrau. Futebol, jogos, música, cinema, livros. Será que você
gostou da adaptação daquela saga? Será que você vai ao show do espaço cultural
na próxima semana? Droga. Nunca tenho a resposta e o “e se” exerce
brilhantemente o papel de ser a expressão mais torturante da língua portuguesa.
Fico me torturando porque não consigo “tomar
à frente” em nenhuma situação. Estou cansada de sempre ancorar o meu barco e permanecer no leme mesmo após ter verificado todas
as condições climáticas.
Atraco o barco mesmo sabendo que funciono à vela movida de coragem e que barcos
são feitos para o mar aberto.
O meu
conflito interno é que não entro no mar e, principalmente, não deixo que
naveguem comigo. Quero ser a única tripulante e mantenho a ilusão de que não
preciso de ajuda. Só que preciso e nego
até ficar sufocada com tantos nós de marinheiro que faço dos meus problemas. Essas cordas prendem a minha garganta e fico
cada vez mais sem ar. Esse gás comprimido algumas vezes se condensa e salta
pelos olhos outras, preencho folhas em branco.
Sonho com o dia que realinharei minhas atitudes e o
meu coração. Por enquanto,
a batida segue em descompasso. Toco em cada tecla para reorganizar esse ritmo,
porém não sei nada de música. Assim como não sei nada de desenho e seria útil
ter tais habilidades. Alguns traços poderiam ensinar esse coração amarelo que
casaria perfeitamente com flores do mesmo tom.
Não posso
deixar essa temente da vida na cama e ir saltar de asa-delta com a metade
corajosa. Não dá. Carrego diariamente essa mente indecisa e esse órgão
covarde para qualquer lugar. Uma pessoa que usa batom vermelho durante o
dia, mas que não sustenta um olhar desconhecido. Uma pessoa que super exige de
si no âmbito profissional, mas que pouco se abre nos laços afetivos. Tenho uma
dificuldade absurda para confiar nas pessoas. O mais estranho é que sei que
posso realmente confiar em determinados amigos, porém ainda sim não consigo.
Ainda me fecho e desvio o assunto quando o tema da roda chega até mim.
Mais uma
vez me perco em meio as minhas divagações e você desce próximo ao centro. Não
sei até hoje qual é o seu destino final. Ensaio todos os dias uma coragem para
seguir seus passos. Exercício esse que tento concretizar durante seis meses.
Cento e oitenta dias perdidos. Cento e oitenta dias sufocantes.
Chego a
minha mesa de trabalho sempre inconformada por não ter agido por mais um dia.
Sempre imagino o mundo que você esconde e vive por essa cidade tão grande e tão
pequena. Tão perto e tão longe. Considero sempre que posso encontrá-lo na
próxima esquina, mas também reflito que possa ter sido o último dia em que
trocamos olhares.
Talvez, eu
consiga uma resposta amanhã. Vai que em vinte e quatro horas eu perceba o
quanto é idiota temer a vida. Somos, afinal, uma lapidação diária e justamente
por isso não devemos nos limitar. Cercear nossas asas e nos contentarmos com voos
baixos. O que, por sinal, tenho feito. Acho
que querer já é buscar ampliar o voo.
Vai, acho
que estarei pronta para você amanhã. Puxe assunto, por favor. Prometo que
responderei, prometo.
Ou não.
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