domingo, 28 de setembro de 2014

Sobre Fossas, O Chamado e Meu Papel de Trouxa




Nunca fui uma boa conselheira, mas se eu pudesse te dar um conselho seria: não se permita me perder. Meio egocêntrico eu diria, mas a essa altura do campeonato a gente realmente tem que criar uma dose extra de auto estima para sair do buraco. Nesse poço fundo que eu me enfiei por sua causa, no fim das contas, só sobrou Samara e eu e né, como você deve imaginar, ela não é uma pessoa de muitas palavras e eu pelo contrário falo pelos cotovelos, cedo ou tarde vou ser expulsa. E já aviso de antemão que se eu for, já fui. Fica a dica então: se eu fosse você não me deixaria ir.

Da série de motivos que eu tenho para listar, o primeiro deles é que eu já consegui criar amor próprio o suficiente para te alertar do vazio que eu vou deixar quando for e quem acha o próprio amor, logo para de mendigar o dos outros. Sendo assim, não demora muito até você acordar um dia e eu não estar mais aqui. E quando eu for vão te faltar algumas coisas como minhas explicações particulares sobre assuntos que só você se interessa, minha bipolaridade quando eu bebo e a minha gargalhada muda quando você conta aquele tipo de piada que não tem graça nenhuma. 

Além disso, se eu não estiver mais aqui você não vai ter ninguém para tratar com essa intermitência que só você sabe e me criar falsas expectativas só pelo prazer de assassiná-las logo depois. Ninguém mais vai te chamar de bundão e você vai continuar sendo um mesmo assim e vai faltar alguém para gostar de você mesmo com todos os seus problemas psicológicos, falta de atitude e filhadaputice. Quando eu for vai sobrar só você e uma ou outra mocréia que aparecer com o tempo mas eu te garanto que nenhuma delas vai ser igual a mim.

Porque dentro desse pacote de defeitos que me foi dado quando nasci, tem um ou outro que você considera qualidade e no fim dessa soma de características e borderlines você vai sentir falta, eu sei que vai. Então se eu fosse você eu me tirava do poço e me amarrava em você só para ter certeza de que eu vou continuar aqui. Se eu for vão comigo aquele monte de coisa que você deixou por falar, os beijos que você preferiu não dar e todos os sustos que você tomou com meu carinho excessivo e pressa de amor. Mas mesmo que eu leve todos eles, eu sei que você vai continuar aí assustado por nada e com medo de tudo que exija de você um tempo diferente do seu.

Se eu for eu vou de ferrari e você nessa bicicletinha nunca mais vai me alcançar porque meu combustível não acaba e seu condicionamento físico não ta lá aquelas coisas. Então o melhor a fazer é me pedir pra ficar.

Eu to ensaiando essa saída triunfal a tanto tempo que já dava pra ter ido e voltado umas oitenta vezes, mas eu não sou do tipo de pessoa que volta e não queria ir assim, sem deixar nada significativo. Por isso deixo o meu apelo e imploro bem baixinho que você pare de besteira e veja que não é justo me tirar do meu lugar mesmo que eu diga que eu quero ir. 

Porque se você permitir eu vou deixar bem mais do que saudade. Vou ter que deixar aquele meu tricot escrito "LIVE TO LOVE" que eu usei em um dos dias que a gente saiu porque ele ficou marcado de você e eu não quero manchas velhas numa vida nova. Também vou ter que deixar o livro que você me deu e o único durante a minha vida toda que não terminei de ler, porque ele me lembra você e eu fico irritada toda vez que olho pra capa vermelha no fundo do guarda roupa. Vou ter que esquecer o número do seu telefone que eu decorei numa balada porque eu queria te ligar de madrugada fingindo que tava bêbada pra ter uma desculpa e minha bateria tava acabando. E vou ter que abrir mão de todas as memórias que eu tive que inventar pra gente já que não deu tempo de ter história nenhuma para eu lembrar.

Pra ser bem sincera eu paguei muito caro naquele tricot então acho mais justo que você me peça para ficar e assim eu posso voltar a usá-lo e terminar o livro e continuar com seu telefone na ponta da língua e com toda a nossa história de amor que eu inventei num dia chuvoso em que você não apareceu.

Mas se não for pedir me avisa logo, que eu largo as minhas tralhas todas, minhas memórias inventadas e ainda peço pra Samara te deixar um recado a lápis no meu papel de trouxa.


Carolina Ruedas (ou só Carol ou só Ruedas) tem 22 anos e tem como maior sonho abraçar um elefante. Enquanto ela não alcança isso, ela escreve no seu blog (ainda bem) crônicas lindas sobre amores não correspondidos e desilusões engasgadas. Se você não conhece a Ruedas, tá na hora de correr lá no blog dela e devorar tudo que ela escreve! 

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