terça-feira, 3 de março de 2015

Até Que Ponto O Ciúme Pode Ser Saudável?



50 Tons de Cinza chegou aos cinemas e com ele levou dezenas de polêmicas. Eu, que de boba tenho muita coisa, mas não tudo, não ia deixar esse assunto recorrente passar e não falar dele – afinal, achar assuntos é quase tão difícil quanto achar água nas represas e não da para ignorar quando a chuva vem, certo? – Por isso, vou pegar carona na polêmica. Desculpem quem já está cansado do assunto. Mas antes de você abandonar esse texto eu aviso que não vou me focar na história, nem nas cenas de sexo, nem no sadomasoquismo, nem no (pseudo) romantismo que as mais iludidas encontraram nas entrelinhas. Também não vou questionar a qualidade da escrita. Não vou tão longe e me explico: eu não terminei o primeiro livro porque não dei conta, por motivos pessoais e nem tão pessoais assim, que eu posso reservar pra outra crônica, e também não li as duas sequências. Eu vou aproveitar o tema do livro pra falar de outra coisa que o livro permeia o tempo todo: o controle ao outro e o ciúme, disfarçado em uma preocupação fajuta e perigosa.

Na história, Sr. Grey controla não só quantas horas Ana dorme por dia, como também com quem ela tem amizade, onde ela trabalha e, para o meu espanto, rastreia seu celular e vai até outra cidade só pra ver o que ela está fazendo numa viagem. Eu não vou mentir aqui: eu sou ciumenta. Sou ciumenta assumida mesmo. Namoro há pouco mais de um ano e já tive umas boas doses de discussão por conta do meu ciúme ou do ciúme do meu namorado. Não acho que o ciúme é o tempero do amor, mas acredito que quando a gente gosta da pessoa isso é inevitável uma hora ou outra. Não acho bonito, não gosto de sentir, não me orgulho de ser ciumenta. Mas sou. Tento evitar, controlar, respirar fundo? Com certeza. Mas continuo sendo ciumenta. A pergunta que eu faço aqui é um pouco difícil de responder, e não pretendo te dar resposta alguma, só questionar mesmo sem nenhuma conclusão (porque eu mesma não acho conclusão não importa quantas vezes eu me pergunte passada uma crise boba): até que ponto o ciúme, disfarçado em preocupação excessiva ou em qualquer outro disfarce você quiser colocar, é saudável?

Enquanto eu desenrolava esse tema na minha cabeça, no cômodo ao lado minha mãe assistia um desses programas maçantes das emissoras que só dão notícias ruins, e ouvi, aqui do quarto, a notícia de que o namorado, desconfiado que sua namorada lhe traía, a matou há poucos metros de casa sem lhe dar tempo para argumentar. Assim. Simples. Assim. Banal. Assim. Como a gente está acostumado a ver quase todos os dias. Um crime de ódio, de insegurança, de perda de equilíbrio, disfarçado no título bonito de: homicídio passional. Que nada mais é do que uma misoginia com nome bonito: minha mulher não pode se divertir sem mim, ter amigos homens, sair sozinha, usar roupa de tal jeito, nem ao menos falar ao telefone sem eu saber onde ela está. Minha mulher não tem o direito de rir quando eu não sou a causa da sua risada. Nem de viajar sozinha pra outra cidade porque vai que ela conhece uma outra pessoa e eu a perca, não é mesmo? E, bem, se eu desconfiar – veja bem, des-com-fi-ar – que ela me trai eu acabo tudo em alguns tiros, ou algumas facadas, ou seja lá a arma que decidir usar na hora da raiva. Crime passional.

A paixão, coitada, sempre leva a fama por nossos atos irresponsáveis.

Grey é só um personagem de livro que tem como explicação (plausível ou não, não vou entrar nesse mérito aqui) traumas infantis. Infelizmente, seus atos não estão só numa história de livro, como ele está. E, de jeito algum, é romântico. Não é romântico você tentar controlar qualquer atitude, decisão e posicionamento do seu par. Não tem nada de romântico você rastrear onde ele ou ela está. Pasme, não tem nada de romântico stalkear as conversas dele sequer na internet (apesar de que nesse quesito sou ré confessa e sem arrependimento). Como eu disse, nem eu mesma sei a medida de até que ponto o ciúme, a preocupação e o medo de perder é saudável pra alguém.

Sei o que é saudável pra mim e pro meu relacionamento. Ao menos, venho tentando descobrir com o passar dos meses. Não aceito do meu namorado que ele controle com quem eu converse, a não ser que haja um bom motivo pra isso – quando, por exemplo, um amigo é um pouco mais engraçadinho e começa a usar conversas no mínimo com duplo sentido comigo – Meu namorado, por exemplo, tem amigas, conversa com ex, vai a lugares que eu não vou e ta tudo (quase sempre) bem. Eu, do lado de cá, mantenho-me fiel ao que acredito: tenho amigos homens que não abro mão, não deixo que ele opine sobre minhas roupas ou controle o que eu faça longe dele. Tenho minha turma. Ele tem a dele. A gente fica um tempo separado curtindo nossos hobbies diferentes (que são muitos) e depois nos encontramos e falamos sobre as coisas que concordamos (ou nem sempre concordamos). Acho que saudável é manter sua individualidade mesmo sendo um casal, e manter a individualidade é, sem dúvida alguma, não ser controlada pelo seu parceiro ao estar longe – e perto, por favor – dele.

Já deu pra sacar uma coisa: eu não acho o Sr. Grey romântico. Eu acho que ele passa dos limites. Eu acho que muitas vezes eu mesma passo dos limites. Ainda que eu não saiba exatamente qual é o limite. Pode ser que a medida do amor é amar sem medida, como os poetas sempre dizem por aí, e vá lá, talvez o ciúme seja o tempero de uma relação. Mas como qualquer tempero, é necessário ter cuidado com essa medida. Se colocar de menos, a comida fica sem sal. Se colocar demais, faz mal pra qualquer coração.

O que é que faço quando o ciúme me domina? Eu me pergunto quão ridícula eu estou sendo. Amar é ser ridículo, eu sei. Mas, se estourar o limite do aceitável, eu respiro fundo, conto até mil, engulo e reconheço: até pra ser ridículo tem que ter uma certa classe. Infelizmente, esse limite varia de pessoa pra pessoa e aí eu te devolvo a pergunta que eu sempre me faço:

Até que ponto a preocupação não é uma insegurança sua e controle do outro disfarçada em amor? E, principalmente, até que ponto você é capaz de aceita-la quando não vem de você? Espero que você esteja um pouco melhor do que eu e já tenha descoberto. Porque eu não sei. Mas pra mim, te conto, o tempero do amor é saber que o outro é livre. E como ser livre que é, que ele possa decidir todos os dias voltar pro mesmo lugar e repousar nos seus braços, sem que seja necessário que você o prenda numa gaiola pra ele nunca partir.


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