No dia em que deixei de
amar fazia frio e uma chuva torrencial inundava as ruas da cidade. Me afundei
embaixo das cobertas, mas dessa vez não procurei seu cheiro na fronha do meu
travesseiro ou um fio de cabelo esquecido em cima do lençol. Eu só queria me
aquecer mesmo. Ouvi aquela playlist
do Los Hermanos que tanto embalou a nossa história e pela primeira vez desde
que você partiu não teve choro, lamentações ou lembranças dos muitos momentos
mal resolvidos que já existiram entre nós. Só tinha eu, aquele barulhinho
gostoso das gotas colidindo com o vidro da janela e o Rodrigo me dizendo que o
vento vai dizer lento o que virá.
No dia em que deixei de
te amar eu senti uma vontade louca de tomar um café, daqueles bem fortes. Fui
até a cozinha e enquanto a cafeteira fazia o seu trabalho eu me surpreendi
lembrando que antes de te conhecer eu não suportava nem o cheiro daquela
bebida. Cheiro esse que, por sinal, é um dos meus aromas preferidos hoje em
dia. Você me ensinou a beber café. Me ensinou também a andar de bicicleta sem
me preocupar com os tombos, experimentar novos sabores de sorvete (afinal, nem
só de chocolate esse mundo é feito, não é mesmo?!), ler aqueles autores que eu
tinha certeza que eram um porre e tomar alguns porres às vezes, porque ninguém
merece ser lúcido o tempo todo. E junto com essas lembranças não veio aquela
típica dose de rancor por pensar “Ele foi embora e ainda faz questão de deixar
tanto dele dentro de mim”. Dessa vez me senti feliz por saber que hoje eu sou
mais do que era quando te conheci. Com você eu aprendi a gostar dos excessos.
No dia em que deixei de
te amar, resolvi assistir uma das minhas comédias românticas preferidas e te
digo que me trouxe uma paz interior enorme o fato de apenas assistir o filme.
Não fiquei procurando nossas juras de amor no meio daqueles diálogos que só são
tão perfeitos porque foram inventados, nem imaginando se você me daria um anel
como aquele quando me pedisse em casamento ou se nossos filhos seriam tão
lindos quanto aquele bebê que só aparece no fim da história. Naquele momento
éramos só eu, a Clarissa e a coleção de bichinhos de pelúcia do Aron.
No dia em que deixei de
te amar eu me deitei com a sensação de que me faltava algo. E faltava mesmo,
mas a verdade é que eu não queria mais encontrar o que tinha perdido. Ao longo
desses anos eu me acostumei a passar todos os dias e todas as noites preenchida
pelo nosso amor. Me acostumei a pousar a cabeça no travesseiro imaginando como
eu era feliz do seu lado, como nós éramos perfeitos um para o outro e nos
últimos meses, o que eu faria para te ter de volta. Mas naquela noite esses
pensamentos não existiam mais. Só existia o meu coração, e dentro dele um
buraco enorme que um dia foi ocupado pelo amor que eu nutria por você.
Eu sabia que aquele
espaço vazio continuaria ali por muito tempo, talvez até para sempre. Aquele
lugar era seu e nem se eu quisesse poderia entrega-lo para outra pessoa. Mas
isso nem incomoda sabe, acho que viver com esse buraco dói menos do que viver
com aquela frustração do amor que não é mais correspondido. Naquela noite eu me
deitei e adormeci após alguns minutos, sem precisar daquele vício de pensar
em você para embalar meu sono. E na manhã seguinte eu acordei tranquila com a
certeza de que naquele dia eu tinha deixado de te amar.
Texto lindo! Parabéns <3
ResponderExcluirObrigada <3
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