sábado, 18 de abril de 2015

Ar rarefeito


Ouvi uma música nova esses dias e inconscientemente pensei em te enviar. A gente sempre fazia isso porque nossos gostos são tão parecidos e a letra e melodia eram tão delicadas que quase não evitei. Mas travei. O que fluía tão bem encontrou uma pedra no caminho. Não nos falamos há meses, porém ainda resta aquele sentimento de quase. Nós quase demos certo e isso quebra cada parte do meu corpo.

Conversávamos sobre tudo e sobre nada. Um nunca precisou se esconder para o outro e ficávamos confortáveis, em silêncio, sem nenhuma tecnologia em mãos. Apenas juntos. Teve uma época que nos tornamos inseparáveis e você era a primeira pessoa que desejava contar coisas novas. Poderiam ser alegres ou não tão agradáveis, mas eu sabia que falar com você amenizaria qualquer dor. 

O tempo passou, queríamos ter seguido pelo plano A, mas o destino acabou nos arrastando ao B, C e, quando nos demos conta, o laço foi sendo desfeito. Nós não percebemos quando ele começou a ficar frouxo e só acordei quando o seu nome nas minhas redes já era um dos últimos. Nesse dia eu queria voltar àquele tempo e não dava mais. A gente deixou a chama se apagar e hoje só há vestígios de tudo o que poderia ser. Tudo o que quase fomos. Milhares de restos de afeto pelas minhas veias, pelos meus ossos e pelo meu estômago que aparenta rejeitar tudo.

Esse quase entala a minha garganta de vez em sempre e adentra frequentemente as minhas madrugadas. O meu erro foi ter soterrado esse sentimento sobre todas as outras questões cotidianas e ter deixado frestas. Frestas essas suficientes para que tudo escape e estoure como aqueles balões infantis cheios de balas sobre todos os meus problemas. Só que a gente cresce e essas balas me perfuraram e se tornaram calos na voz que me deixam sem ar.

Orgulhosos que escolheram viver um pouco menos cada dia a ser o primeiro a romper todo esse eco. Ninguém quis se rasgar, despir-se por completo, destruir o imaginário e não esperar retribuição. Eu sei o quanto é dolorido gritar, mas me sinto ainda pior com esses polos opostos que acabamos nos impondo. Eu odeio física e escolhi Humanas para ter o mínimo de contato com os números, mas eu sei que o nosso campo magnético é o mesmo. Eu giro ao seu redor e qualquer situação faz com que eu retorne a primeira etapa. Eu ando em círculos.

Queria dizer que você está só na minha memória, mas virou lembrança. É algo involuntário. A diferença é que a lembrança surge quando você menos percebe e não acaba somente. Deixa tudo exposto e sangrando. Minha cabeça lateja a todo instante, minhas costelas parecem que só vão melhorar encaixada a você, minhas mãos só ficam frias e só vejo tudo embaçado e sem cor. Estou doente. Será que conseguirei voltar a preencher meus pulmões com esse ar que só encontra barreiras e ficarei viva novamente?

Meu relógio parou no último telefonema. Meus textos ficaram inacabados desde então e nada sai do ponto morto. Só você pode reiniciar. Só você pode escrever o próximo caractere. Dizem que o ponto final é a morte para muitos escritores. Para mim, a falta dele na nossa história que me definha a cada segundo.

 Mas sigo respirando. Ainda.



2 comentários:

  1. Que texto mais lindo, Carol! De verdade, me emocionou <3

    ResponderExcluir
  2. Quando eu crescer quero escrever que nem você Soberana! De verdade, que texto lindo! Parabéns pela escrita, pelo sentimento, pela visão. A-R-R-A-S-O-U

    ResponderExcluir

Comentários

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Compartilhe