segunda-feira, 6 de abril de 2015

Por que eu odeio a Universidade



Passei pelo menos cinco anos da minha vida estudando para o vestibular, como o mesmo afinco e dedicação de um réu que precisa convencer o júri a não condena-lo a prisão perpétua. Nada pior que acabar presa em cursinhos, no passado, enquanto os amigos saem com liberdade pro futuro. Eu ainda nem tinha dado meu primeiro beijo quando gabaritei meu primeiro simulado. Ninguém nunca me perguntou se eu queria aquilo pra mim, nem me explicaram as alternativas e caminhos que eu poderia seguir. Eu só tive que aceitar aquilo, sem contestação.

Havia um certo tipo de competição entre os estudantes da minha escola, como se seu valor e toda sua honra dependessem inteiramente daquele “aprovado”. Quem nunca sonhou com o dia em que pudesse estudar somente aquilo que gostasse? Em um lugar mágico, cheio de possibilidades, um mundo de descobertas e, ainda por cima, de graça. Quadro branco ao invés de negro, pincéis ao invés de barulho de giz, computador ao invés de cadernos, zero uniforme e professores que não te tratam feito criança imbecil.

Certo?!

Errado. Esqueceram de avisar que na Universidade pública nenhuma pincel de nenhum quadro branco está funcionando. Que o filtro de água seca e que a estrutura é tão ridícula que aulas são canceladas por impossibilidade de serem ministradas. Que raramente vai ter mais de uma tomada por sala para carregar seu computador, e que ainda assim o professor desconfia tanto de você e tem tanto pavor de Facebook que não te deixa usar. Sim, ele continua mandando em você e ditando suas vontades.

Ao invés de criança, aqui você é tratado como um delinqüente que não vale nada: não pode sair de sala para ir ao banheiro nem mesmo pra trocar um absorvente vazando. Se tá frio e chove, você fica sem luz. Se tá calor, você derrete sem um ventiladorzinho sequer. Se escreve um artigo ou faz uma pesquisa de 30 páginas, o professor passa para o monitor da disciplina ler e não perde um minuto pra te dar um feedback ou elogio qualquer.

A impressão que fica é de que eles esperam que sejamos máquinas. Só passamos a existir, aos olhos de um professor, quando ele precisa te humilhar pra usar como exemplo e assustar os outros. Olha só o que eu faço com a ciclana que chegou um minuto atrasada. Olha só como eu exponho o fulano que fez pergunta tosca e tirou nota baixa. 

Operou? Porque sim. Tá doente? Só lamento. Ficou presa no trânsito? Dane-se. O problema é sempre seu, culpa sua. Dizem que isso nos prepara para o mercado de trabalho mas, por experiência própria, nenhum ambiente de trabalho está preenchido com pessoas que possuam tão pouca empatia e respeito pelo próximo.

Eu odeio a minha Universidade. Eu odeio os meus professores. Juntos, eles estragaram um dos meus assuntos preferidos, massacraram horas úteis da minha rotina e tiraram de mim o prazer de estudar, de ler, de descobrir. Tiraram a graça do aprendizado. Eles me desmotivaram e, ao invés de fazer de mim uma boa profissional, fizeram de mim uma profissional frustada que precisou ir buscar OUTRA profissão.

Espero que nem todas as Universidades sejam assim, que alguns professores ainda tenham o mínimo de bom senso e sejam menos arrogantes. Que saibam respeitar o regimento da própria instituição, a qual diz que você pode ter 7 faltas, mas te reprovam com 5 porque sim. Que saibam aceitar um atestado, sem partir do pressuposto de que PODE SER falso. Que ajudem e ensinem ao invés de condenar e tiraniar.

Espero que nem toda didática arcaica das salas de aula te façam querer desistir, ou te obriguem a buscar outras alternativas, como mudar pro exterior e ingressar em uma segunda faculdade, particular. Infelizmente, eu não tive essa sorte e não acertei de primeira. Mas, felizmente, hoje eu tô aqui fazendo meu papel de te avisar e de torcer para que isso não aconteça com você.

Um comentário:

  1. me identifiquei muito com este texto, não conheço você estou concluindo meu curso superior em Jornalismo. E parece que estou saindo de lá é sabendo menos do que eu sabia quando não estudava comunicação. Eu era bem mais produtivo quando não fazia curso superior. A inovação de verdade sai de fora da universidade o conhecimento verdadeiro é produzido fora da Universidade.
    Parabéns pela postagem!

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