quinta-feira, 2 de abril de 2015

Pra Te Dizer Adeus



Eu pensei se valia à pena escrever sobre. Eu pensei se valia à pena cuspir esse engasgo na minha garganta. Pensei se ainda valia à pena falar de você. Sabe? E depois que eu decidi se valia, eu pensei de novo. Repensei. Tri-pensei. Fiquei pensando se ajudaria cuspir esse monstro pra fora. Mas aí lembrei que quando era criança nunca tive medo dos monstros debaixo da cama. Eu sempre os chamava pra brincar, eu sempre achava que eles só eram monstros porque eram sozinhos. Foi assim que eu montei uma família invisível e deixei minha mãe achando que eu tinha enlouquecido. Eu dava as mãos pros meus terrores noturnos e chamava de irmãos. Sempre achei que monstro só cria força se a gente esconde, se a gente não olha, se a gente não encara frente a frente e não pega pra lutar. Foi por isso que eu decidi escrever pra você, mesmo achando que você não vai ler, mesmo achando que você não merece mais um texto.

Já faz tempo que a gente não fala. Já faz tempo que eu pouco sei da sua vida. Te procuro às vezes pela internet, mas você sempre teve muito mais discrição na sua dor do que eu. Eu sempre fui uma catarse sem limite. Eu sempre escancarei sem medo minhas feridas. Desfilei por aí sem esconder espinhas, que dirá machucados inflamados. Nunca tive muita dignidade no sofrimento e é por isso que eu escrevo. Escrever, para mim, é essencial. Por isso faço questão de deixar a dignidade pra você.

Não sei por que você foi embora. Não é desculpa de quem fez uma merda muito grande e não quer enxergar que fez. Eu realmente não sei. Ainda lembro que dias antes de você bater a porta e recusar me atender a gente ainda estava bem. Já me perguntei muito o que foi que eu fiz, onde foi que eu errei. Mas agora não faço isso mais. Acho que aceito que nem sempre se há um culpado por um fim de história. Eu não me sinto culpada por você ter colocado nosso ponto final.

Eu só queria ter tido tempo de te dizer que eu amei você. De verdade. Eu amei você. Eu sei que você acha que eu só era um peso morto na sua vida, preenchendo silêncios porque tinha medo de ser sugada por ele. Eu sei que você pensa que eu não fiz o bastante, não doei o bastante. Me desculpa por isso. É meu jeito torto de amar mesmo. É meu jeito desastrado que mais quebra as coisas do que consegue juntar as pontas. Só preenchia silêncios porque era a única forma que eu encontrei de tentar preencher você. Você e esse vazio apavorante que carrega no seu coração enorme que não consegue conter nem metade dos seus sonhos.

Mas te amei. Te amei de um jeito que talvez nunca mais chegue a amar alguém. E você sabe o que eu penso sobre o amor, que ele é único com cada pessoa porque cada pessoa é única. Eu te amei e a maior prova disso é que te deixei ir, quando você quis ir, mesmo sem brigar, mesmo sem fazer cena e me descobrir na sua frente pra você ver as feridas que estava fazendo em mim com sua partida. Foi meu jeito de lidar com sua discrição. Você não foi porque eu quis. Você foi porque o meu querer não fazia mais sentido pra você.

Então depois da porta batida, do telefone desligado, da recusa de me dar explicação. Depois de tantas despedidas com tantas pessoas que me magoaram de tantas mil maneiras diferentes, eu me permiti ser vencida pelo meu próprio orgulho e me calar. Me permiti me dar ao direito de não ser machucada mais, não mais, não por alguém que eu amei tanto e que me fez tão bem. Não quis estragar o nosso sentimento com um escândalo de novela, com minhas catarses infinitas, com minhas feridas abertas deixadas por você. Você decidiu colocar um ponto final e tudo bem por isso. Queria que você entendesse que eu decidi manter nossa história ao menos bonita, mesmo com o fim e tudo bem por isso também.

Eu te amei tanto que isso compensa a dor que você me causou. Isso compensa as rachaduras e o silêncio das nossas conversas. Isso compensa eu ainda ter seu número e abrir sua janela no whatsapp pensando se vale à pena mandar mensagem. Não vale. Você não cabe mais aqui. Meu coração sempre foi pequeno demais pra você morar nele. Mas te juro: nem indiretas, nem a falta de notícia, nem nada do que fizer vai apagar o que a gente foi. Não tenho nenhuma prova física de que você viveu comigo por todo aquele tempo, mas guardo na memória cada risada, cada telefonema, cada abraço bem dado e conselho não recebido. Guardo comigo as melhores coisas que você me proporcionou e ignoro que você também me deu as minhas piores feridas. Ta tudo bem. É sério. Só quero te ver feliz. Como eu tentei te fazer e não consegui.

Te juro, meu bem, que olhando agora esse monstro que ficou no seu lugar, pegando na mão, encarando, e cuspindo mais um texto sobre tudo isso que nunca fez sentido pra mim, que não guardo mágoa nenhuma de tudo o que você deixou pra trás ao decidir ir embora sem me levar.

Você sabe, eu não dou conta de guardar nem dinheiro. Que dirá mágoa de alguém que eu amei tanto. Como eu tanto amei você.


Um comentário:

  1. Texto lindo!
    Nanda e o seu dom de escrever -e de nos fazer se identificar-...<3

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Comentários

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