domingo, 12 de abril de 2015

Sobre Minhas Tentativas de Esquecer Você




Eu tentei. Te juro, cara, que eu tentei. Tentei conhecer outras pessoas, ir a outros lugares, tomar outras bebidas. Eu tentei passar uma tatuagem por cima das marcas que você me deixou, fazer uma flor em cima da dor, cicatrizar o que ainda sangrava o mais rápido possível. Eu colei um band-aid colorido na alma e um sorriso no rosto pra fingir que tava tudo bem. Eu tirei fotos me divertindo, gargalhando, descabelada, bêbada, que era pra esconder o desespero todo que eu tava sentindo por ter perdido você. Eu tentei.

Eu escondi a menina-romântica no guarda-roupa e peguei minha fantasia de mulher fatal. Eu me vesti de onça. Eu pintei minha boca de vermelho. Eu deixei as unhas enormes pra machucar outros caras do mesmo jeito que você me machucou. Eu deixei a provinciana e me vesti de capital. E repeti por aí que sexo não precisa de amor. Logo eu, você se lembra, sem medo de me doar na cama. E fui conhecer outras camas, lençóis sujos e quartos estranhos, sem medo de me entregar porque sabia que eu não tinha mais nada para dar a ninguém – você havia me roubado tudo.

Eu curti sua foto nova de perfil pra mostrar que não me dói nem um pouco sua ausência e que eu ainda consigo me manter normal quando na verdade você ainda me causa um alvoroço difícil de controlar. Eu ignorei as meninas se jogando pra você. Eu continuei a minha vida e fingi que podíamos ser amigos quando, sabemos, casais que se gostaram de verdade nunca mais conseguem ser amigos após o fim. Eu fingi que aceitei o fim.

Eu tentei.

Eu me apaixonei depois de você, viajei, dei as mãos e me joguei das alturas com meia dúzia de caras piores ou melhores que você, tanto faz. Eu achei novos braços, mais fortes e mais morenos. Novos olhos, mais claros e mais sinceros. Novos sorrisos, mais tortos e menos cínicos. Eu vivi outros amores, tu sabe, comecei alguns relacionamentos sem futuro porque eu só conseguia viver o presente. Traguei um cigarro. Troquei de carro. Cortei o cabelo na altura da nuca pra mostrar uma tatuagem nova que você odiaria. A tatuagem e o cabelo, quero dizer. Me embebedei e caí em camas estranhas sem me perguntar se estava protegida o bastante. Eu não tinha nada a perder. Eu já havia mesmo perdido você. 

Eu tentei. Mas eu nunca mais amei.

Eu não fiquei na cama me lamentando sua saída. Eu não fiz escândalo e rasguei suas camisas esquecidas. Eu não te liguei e implorei pra voltarmos. Eu não precisei te apagar da minha vida. Pelo contrário, te mantive ali, na rede social, só pra que você visse o quanto eu conseguia sorrir sem você. O quanto eu me divertia sem você. O quanto a sua partida não causou nada em mim. O quanto suas ofensas não me magoaram. O quanto você ser babaca com alguém que te amou tanto não me quebrou. Eu continuei com uma foto sua sobre meu criado-mudo, para que todo dia antes de dormir eu pudesse olhar pra sua cara cínica-canalha-não-consigo-amar-ninguem-mas-finjo-bem e dizer o quanto meu dia tinha sido maravilhoso sem suas queixas, suas grosserias e sua falta de carinho comigo.

Vivi tantos amores depois de você que me perdi nas contas, mas tudo bem porque eu já havia me perdido em você. Eu fui de todo mundo e não fui de ninguém porque era sua o tempo todo. Eu me entreguei sinceramente na cama sem vergonha e tabu, como não fiz com você, porque eu não tinha nada para entregar. Porque era só sexo. Nunca foi amor. Mas ninguém pode me culpar que eu não tentei. Puta que pariu,  cara, eu tentei esquecer você!

Pena que eu não consegui como você, do lado que está, tão longe de mim, e o resto do mundo acha que eu consegui. Fazer o quê.


Um comentário:

  1. Tudo de que um sentimento precisa parta agigantar-se dentro de nós é que lutemos contra ele.
    GK

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