Atualmente o ser humano passa por
um processo de evolução inversa. Voltamos a andar curvados e a viver em função
de uma nova caverna sem revestimento. Vive-se com o olhar voltado para baixo e
a tela nos aprisiona a cada dia. As conseqüências são nítidas em vários aspectos,
mas, para mim, o que mais me preocupa é a falta de empatia pelo outro que
parece inexistir em algumas situações. Empatia que significa
simplesmente conseguir se colocar na situação do outro.
Ironicamente,
conseguimos imaginar a vida do outro por meio de cada foto no Instagram,
inúmeros segundos no snap ou cada reflexão no twitter de conhecidos ou desconhecidos
que admiramos e paramos de olhar ao nosso redor. Muitos não sabem o que
acontece na própria cidade, passam meses sem rever algum familiar ou não ajudam pessoas
que estão com dificuldade em carregar algumas sacolas na rua, por exemplo. Falo
isso porque me deparei com um senhor nessa situação dias desses e fui até a ele
oferecer alguma ajuda. Não precisava relatar isso, porém foi algo que fiquei
pensando por uns dias. Ninguém sabe o fardo do outro e o nosso egoísmo aumentou
tanto nesse contexto em que likes são prioridades para tantas pessoas.
Estamos perdendo esse contato tão
pequeno, mas que pode ser tão significativo para alguém. Esperamos sempre algo
em troca e nos esquecemos de observar e se permitir trocar experiências.
Colocamos fones de ouvido no transporte público, não ajudamos alguém com
necessidade, falamos menos pessoalmente. Sinto que estamos ficando menos
humanos. Choramos com vídeos no youtube, em reportagens na televisão e não
somos voluntários em projetos ou praticamos essas simples ações diárias.
Generalizações são péssimas, mas essa é uma crítica a mim e a nossa geração
como um todo. Postamos “Mais amor, por favor” e não refletimos isso na nossa
rotina. Não nos doamos. Falta de tempo é sempre a resposta, mas nada que
reavaliar planos não resolva essa questão.
Acredito que o real sentido da
vida esteja nessa participação na vida de alguém. Poder contribuir e, em quase
todos os casos, o retorno acaba sendo tão superior ao que se ofertou. Todos nós
temos alguma habilidade, algum ensinamento ou conhecimento desconhecido por
tantas pessoas e que pode ser compartilhado e distribuído na vida e não numa
mera rede social. Precisamos nos desligar um pouco, sabe? A internet gera esse
falso contato e desfaz a nossa real necessidade.
Até que ponto seguidores são
importantes? Não digo que a internet seja fútil, mas a superficialidade
capturou há tantos. Está cada vez mais difícil integrar esses universos. Não reconhecemos a dor do outro e, principalmente na internet, ainda há a questão do apontamento. Quando foi que nos tornamos superiores? Por que a minha cultura, as minhas crenças e os meus valores precisam ser impostos em detrimento do que ele acredita? Somos singulares, mas não únicos. Eu posso ser o idoso, a criança, a mulher, o transexual e o homem. Iguais. Temos que reaprender a olhar no outro o nosso reflexo.
Criar um sentido para trabalhar, estudar e levantar da cama todos os dias deve
ser um objetivo. Por quê? Para quê? Por
quem? O que posso melhorar? Quem eu posso ajudar? Sentir é muito maior que ver.
Afinal, vemos tudo e não enxergamos, de fato, nada.
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