terça-feira, 23 de junho de 2015

Filtro da realidade



Atualmente o ser humano passa por um processo de evolução inversa. Voltamos a andar curvados e a viver em função de uma nova caverna sem revestimento. Vive-se com o olhar voltado para baixo e a tela nos aprisiona a cada dia. As conseqüências são nítidas em vários aspectos, mas, para mim, o que mais me preocupa é a falta de empatia pelo outro que parece inexistir em algumas situações. Empatia que significa simplesmente conseguir se colocar na situação do outro.

 Ironicamente, conseguimos imaginar a vida do outro por meio de cada foto no Instagram, inúmeros segundos no snap ou cada reflexão no twitter de conhecidos ou desconhecidos que admiramos e paramos de olhar ao nosso redor. Muitos não sabem o que acontece na própria cidade, passam meses sem rever algum familiar ou não ajudam pessoas que estão com dificuldade em carregar algumas sacolas na rua, por exemplo. Falo isso porque me deparei com um senhor nessa situação dias desses e fui até a ele oferecer alguma ajuda. Não precisava relatar isso, porém foi algo que fiquei pensando por uns dias. Ninguém sabe o fardo do outro e o nosso egoísmo aumentou tanto nesse contexto em que likes são prioridades para tantas pessoas.

Estamos perdendo esse contato tão pequeno, mas que pode ser tão significativo para alguém. Esperamos sempre algo em troca e nos esquecemos de observar e se permitir trocar experiências. Colocamos fones de ouvido no transporte público, não ajudamos alguém com necessidade, falamos menos pessoalmente. Sinto que estamos ficando menos humanos. Choramos com vídeos no youtube, em reportagens na televisão e não somos voluntários em projetos ou praticamos essas simples ações diárias. Generalizações são péssimas, mas essa é uma crítica a mim e a nossa geração como um todo. Postamos “Mais amor, por favor” e não refletimos isso na nossa rotina. Não nos doamos. Falta de tempo é sempre a resposta, mas nada que reavaliar planos não resolva essa questão.

Acredito que o real sentido da vida esteja nessa participação na vida de alguém. Poder contribuir e, em quase todos os casos, o retorno acaba sendo tão superior ao que se ofertou. Todos nós temos alguma habilidade, algum ensinamento ou conhecimento desconhecido por tantas pessoas e que pode ser compartilhado e distribuído na vida e não numa mera rede social. Precisamos nos desligar um pouco, sabe? A internet gera esse falso contato e desfaz a nossa real necessidade.

Até que ponto seguidores são importantes? Não digo que a internet seja fútil, mas a superficialidade capturou há tantos. Está cada vez mais difícil integrar esses universos. Não reconhecemos a dor do outro e, principalmente na internet, ainda há a questão do apontamento. Quando foi que nos tornamos superiores? Por que a minha cultura, as minhas crenças e os meus valores precisam ser impostos em detrimento do que ele acredita? Somos singulares, mas não únicos. Eu posso ser o idoso, a criança, a mulher, o transexual e o homem. Iguais. Temos que reaprender a olhar no outro o nosso reflexo.

Criar um sentido para trabalhar, estudar e levantar da cama todos os dias deve ser um objetivo. Por quê? Para quê? Por quem? O que posso melhorar? Quem eu posso ajudar? Sentir é muito maior que ver. Afinal, vemos tudo e não enxergamos, de fato, nada.

Que tal olhar para cima e para os lados? Garanto que nenhum filtro é suficiente.



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