sábado, 19 de setembro de 2015

Um Gole Amargo de Você



Bateu saudade. Dessas saudades que a gente não sabe de onde vem ou pra onde vai. Sobre o que ou sobre quem. Dessas que chega do nada, entre uma dose de café, um poema, uma frase bonita de qualquer autor famoso. Dessas. Que bate. E que faz a gente apanhar. Na cama que poderia ter sido nossa – e não foi – deixei que batesse. E não sei se por costume, condicionamento, pulsão de morte, poesia, vai-saber-o-que, mesmo sabendo que a saudade não tinha nada a ver com você, pensei.

No seu sorriso sempre doce que tornou tanto a minha vida azeda.  Em tudo o que a gente poderia ter sido se. E que. Sei lá. Às vezes sinto uma saudade tão grande de você – da sua autoconfiança, da sua força, da sua coragem de ir mais além custe o que custar (mesmo quando o que custa é a sanidade dos outros), daquele seu beijo e do seu abraço, ah, do seu abraço. De tudo o que sinto falta é dele que mais me dói. É dele que, mesmo hoje, nesse calor infernal de trinta graus, sensação térmica de quarenta, nenhum ventilador pra aliviar o calor e a dor, ou um mar para acalmar, ainda assim, é dele que eu precisava. E eu te juro, te abraçaria bem perto, bem apertado, daquele jeito longo que você sempre fazia após um dia de trabalho, a despeito de qualquer suor, merda de calor, e afundaria meu rosto no espaço entre seu ombro e seu pescoço – aquele espaço que eu achei que era tão meu, e nunca foi, e agora pertence a outrem – e deixaria que o mundo acabasse, caísse, desabasse, desandasse, foda-se tudo, cê ta me entendendo? Foda-se tudo, porque eu teria você.

Mas eu nunca tive. Não assim, no duro, no real, aqui, bem nessa cama que tinha tudo para ser nossa. Nunca foi. Nunca fui. Tu foi uma dessas ilusões bonitas que a gente tem antes de dormir e pede tanto antes de fechar os olhos, e até reza mesmo nunca rezando, por-favor-meu-deus-faça-com-que-seja-minha, faça que seja lindo, faça que. E acorda pela manhã cheio de esperança e disca seu número e acha que finalmente funcionou, como se a fada madrinha, Oxun, Yemanjá, eu sei lá, qualquer coisa dessas, existisse mesmo e tenha realizado a fantasia. E sai por aí caçando a primeira estrela e repete débil pra si mesmo primeira-estrela-do-céu-que-eu-vejo-que-deus-realize-o-que-eu-desejo: você. E procura estrela cadente, búzios, tarô, me deixa ver aqui nosso horóscopo. Vai que você é meu signo complementar, e se não for vai que seja amor kármico, e se não for vai que sejamos de elementos bons que se ajustam, vai que.

Nunca foi. Nunca houve um que.

E assim, penso em nós que nunca existiu a não ser aqui, na minha mente tão cansada, no meu corpo tão doente, no meu coração tão solitário, no meu. Nunca aí, em você. Nunca nas mãos dadas, no entrelaçamento de duas histórias, no cruzar com uma pessoa especial que fica por um tempo e depois se vai. Não houve tempo. Não houve um que se vai. Não houve história. Não houve nós. Não houve você.

Houve eu. E um monte de ilusão perdida, jogadas no lixo, abandonadas e renegadas sem nenhuma outra olhada melhor de você. Sem nada de você. Ilusão, cê entende, ilusão real de um real tão bem imaginado que nunca se tornou realidade. Recito isso. Lacan gostaria. Você não, você sempre tão mais Jung, não, é, babe. Eu sempre tão mais você.

Puta merda, saudade doentia que não é de você e que dói como se fosse.

E faço um café, coloco uma música, tento ler uns poemas assim meia boca, assisto um filme, me desligo, tomo um remédio para dormir e não pensar que amanhã eu tenho que fazer tanta coisa, correr atrás da minha vida, resolver mil problemas, ocupar meu tempo para esquecer você. E te revejo em minha mente só para pensar que às vezes, como hoje, sinto tanta a sua falta, mas tanto e tanto e tanto que chega a doer, sufocar, me afogar em mim e buscar me matar.

Mas em outras, ah, em outras, e provavelmente amanhã, quando eu acordar, o sol na cara e a ressaca de um remédio para dormir para lidar, eu sei, vou pensar, penso sempre. Em outras é um alívio tão grande estar tão longe para não ter a chance de mostrar minha fraqueza a alguém tão inatingível como você!



2 comentários:

  1. Oie!! Que texto lindo.. traduz muito do que eu penso e do que eu sinto. Parabens pelo texto. Beijinhos

    http://www.verdadeescrita.com/tatuagem/

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Comentários

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