sábado, 2 de janeiro de 2016

Blá-blá-blá Literário: Um Mais Um (Jojo Moyes)

Título: Um Mais Um
Autora: Jojo Moyes
Editora: Intrínseca
Ano: 2015
Páginas: 320

Tenho certeza de que não vai ser difícil se ambientar nessa história. Você com certeza conhece alguma mulher, solteira ou separada, que tem de se virar o máximo que pode para conseguir sustentar sua família sozinha. O pai da(s) criança(s) foi embora de casa e, ao sair, esqueceu-se que divorciava da mulher, não dos filhos. A responsabilidade fica para a mãe, que ainda mora em casa. E para conseguir manter a rotina, colocar comida na mesa e pagar as contas, ela precisa se desdobrar em empregos, ser boa em seus próprios consertos, ser ótima dona de casa e ainda ter tempo para sorrir para os outros. Você conhece alguma família assim, não é?

Essa é a história de Jess. Ela conheceu Marty aos dezessete anos, quando era uma adolescente rebelde indomável e acabou engravidando. Eles se casaram. Mas, com o casamento e a gravidez, Jess teve que abandonar a adolescente rebelde e ser responsável. Algo que não pareceu agradar muito o marido, que já vinha de outro relacionamento deteriorado e deixado uma criança para trás. Pouco depois, o filho dele com a outra mulher é abandonado pela mãe e Jess o pega para criar. Eles são uma família moderna, um rearranjo cada vez mais em alta, e para Jess está tudo bem, obrigada, até que Marty não se sente mais feliz no emprego, se mete em projetos que não dão certo, entra em dívidas e cai em depressão. Os dois decidem que é melhor ele passar um tempo com a mãe até descansar. Os dois sabiam que Marty nunca voltaria.

Sozinha, com um enteado adolescente que sofre bullying por ser diferente e uma menina pequena apaixonada por números e tão incompreendida por isso quanto o meio-irmão, Jess precisa trabalhar faxinando casas chiques e sendo garçonete num pub a noite. Apavorada com a ideia de ser roubada agora que não tem marido, Jess compra um cachorro enorme e felpudo para que seja o cão de guarda da família. Mas o cachorro – enorme e felpudo – não faz nada além de dormir (e peidar).

A vida da família não é fácil. Nicky apanha quase todos os dias e a inteligência acima da média de Tenzie para números não melhora as coisas. É difícil fechar a conta no fim do mês e não importa o quanto Jess procure por Marty para ele ajudar os filhos, ele está convicto de que aquela não é mais responsabilidade sua (ainda que um dos filhos seja só seu e de uma outra mulher). Tudo dá uma guinada quando Tenzie recebe uma proposta para estudar numa das melhores escolas da região, com 90% da bolsa, por causa da sua facilidade com a matemática. Isso é uma chance de ouro entre uma vida sempre a beira do vermelho e Jess está disposta a tudo – tudo mesmo – para conseguir arcar com as despesas de uma escola tão cara (mesmo com 90% de desconto).

O outro lado da história talvez requeira mais imaginação. Ele é geek e ganhou a vida fazendo o que ele mais gostava: programação. Ed tem a vida perfeita, e, ainda que diga que não é rico, tem um Audi como carro principal, um carro reserva e alguns apartamentos chiques como patrimônio. Tudo ia maravilhosamente bem, obrigado, até que ele reencontra uma ex paixão dos tempos da faculdade que, na época, não dava nenhuma bola para um nerd tímido. Mas agora Ed é um cara rico e bem arrumado e ele acredita que tem chances com a ex-paixão. O que pode dar errado nisso?

Tudo.

Ed acaba se metendo numa grande confusão que coloca em risco não só todo seu dinheiro, como sua liberdade e seu trabalho. Afastado do que mais gosta de fazer e cobrado o tempo todo pela irmã para ir visitar o pai com câncer, Ed prefere qualquer coisa a ter de voltar para casa e contar aos pais na confusão em que se meteu. E é assim que duas vidas completamente diferentes se encaixam.

Ed está fugindo da família como o diabo foge da cruz e Jess só quer manter sua família da melhor forma possível, com todos os sacrifícios que isso acarreta. Ela precisa levar Tenzie para uma Olímpiada de Matemática na Escócia – se ganhar a olimpíada a menina ganha um prêmio que custeará todo seu primeiro ano na escola particular – e Ed só quer uma desculpa para não precisar ir num almoço de comemoração de casamento dos pais, enquanto se mantém escondido do resto do mundo com a investigação em andamento.

E é por isso que todos – inclusive o cachorro enorme e felpudo – terminam no Audi de Ed, atravessando o país ao lado de estranhos. Uma aventura que só quem está muito desesperado poderia topar sem medo do que poderia acontecer.

Jojo Moyes tem um talento crucial para passar nas suas histórias a moral e os questionamentos que quer que a gente pense e reflita. Embora esse seja um romance bonitinho-fofinho-oin-que-casal-amor está repleto de lições por todos os cantos: sobre o que é família, sobre o que é certo e o que é errado, sobre ser você mesmo ainda que leve uns chutes na cara, sobre acreditar mesmo quando tudo dá errado, sobre esperar a primavera em pleno inverno, com uma sandália de dedo como se isso fosse trazer a estação mais rápido. Seja qual for o ponto crucial, a história se desdobra para que a gente pense sobre questões difíceis: todo mundo sabe que roubar é errado, mas e se for pelos motivos certos? E se for pela sua família? E se for a sua última chance? E se? O tempo todo somos confrontados com nossos próprios julgamentos e nossos próprios preconceitos enquanto nos apaixonamos cada vez mais por cada personagem: o isolamento de Nicky, a esquesitice com números de Tenzie, o cachorro felpudo-enorme-que-só-peida Norman, o medo de decepcionar os pais de Ed, o desespero de Jess de fazer seus filhos saberem o que é certo e ainda assim mostrar que eles têm que sempre acreditar, porque quando se faz uma coisa boa outra coisa boa retorna para você.

O livro só não foi perfeito porque em alguns momentos a escolha de ponto de vista ficou um pouco confusa. Jojo trabalhou com os quatro pontos de vistas e colocou o nome antes do capítulo para nos mostrar sob a partir de que ótica estávamos enxergando a viagem. Porém, em alguns momentos, essa narração era feita em primeira pessoa e outras em terceira pessoa. Nada de muito problemático. Só um pouco confuso para um leitor desavisado. 

Mas fica aqui dois avisos:

Você pode ler o livro como se fosse mais um romance comum. Por outro lado, o que torna Jojo Moyes tão boa no que faz é o fato de nos fazer o tempo todo nos confrontar com nossas próprias opiniões pré-formadas sobre certo e errado. E é mais divertido quando você entra na história sabendo que nada é certo e nada é errado, pois tudo depende do ponto de vista que você vai encarar a história. Por isso, sente-se e desfrute de uma aventura que vai te arrancar risadas em alguns momentos, xingamentos em outros, suspiros numa parte, mas muita, muita reflexão (durante o romance e depois do fim).

E, a partir daí, divirta-se!



2 comentários:

  1. Meu Deus, que resenha gigante, moça hahaha.

    Eu tô ainda pra ler Como eu era antes de você. Não sei muito sobre a trama. E essa, de Um mais Um, não me interessou muito. Não sei. Não fiquei empolgada. Mas achei sua resenha muito boa, tipo, daquelas de revistas críticas hahaha.

    Love, Nina.
    http://ninaeuma.blogspot.com/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. hahaha, eu me empolgo :p Isso é culpa das resenhas críticas que faço de mil filmes pelo período...

      Eu comecei esse livro duas vezes. Nos primeiros capítulos você fica perdida com a história, mas aos poucos você entende o caminho que a Jojo quis dar. É um bom livro, pra se ler quando quiser relaxar.

      Como eu era antes de você é maravilhoso, mas só leia com uma caixa de lenço do lado. Porque puta merda naquele livro.

      Excluir

Comentários

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