quarta-feira, 11 de maio de 2016

Depois de você, os outros são os outros.



Já me apaixonei por muitos caras ao longo dessa vida. Talvez a explicação para isso esteja no meu mapa astral, mas quer saber? Tanto faz, eu nem acredito nesse lance de horóscopo mesmo. Já fui conquistada com almoços incríveis porque sabiam da minha enorme preguiça de cozinhar. Já fiquei encantada com um sentimento de proteção, com aquela sensação maravilhosa de olhar dentro dos olhos do outro e encontrar um outdoor que diz “Ei, não se preocupa, estarei aqui sempre que você precisar”. Já me ganharam até com aqueles beijos bem gostosos de mesa de bar, daqueles que você curte ao máximo porque sabe que não precisa se preocupar em ligar no dia seguinte. 

Isso é tudo que consigo falar sobre os outros e se você precisou ficar aqui, sozinho em outro parágrafo, é porque no seu caso as coisas são bem diferentes. Porque encontrar um motivo que explique o porquê de eu ter me apaixonado por você é mais difícil do que encontrar aquela meia que a gente sempre perde quando vai lavar roupa. Mais difícil que comer só o primeiro biscoito recheado do pacote e guardar o resto para depois. As peças do seu quebra-cabeça nunca se encaixavam, por mais que eu tentasse começar pelas bordas para facilitar o trabalho. Você não tinha causa, motivo, razão, circunstância ou qualquer outro sinônimo que se possa utilizar para representar essa dúvida que você deixa pairando no ar.

Você não sabia cozinhar pratos muito elaborados e quando tentava seguir alguma receita o resultado era desastroso, mas se eu dizia que estava com fome você prontamente pegava o telefone e ligava para alguma pizzaria. Você nunca perguntava qual sabor eu queria porque já tinha decorado que marguerita era a minha preferida. Às vezes você não respondia minhas mensagens porque estava envolvido com aquele jogo de computador cheio de tiros, socos e facadas. Às vezes você me fazia esperar por horas, mas quando decidia ligar, não deixava que minhas reclamações se transformassem numa discussão. Você me ouvia sem contestar até que eu me acalmasse e quando isso acontecia não se queixava, apenas respirava fundo e me perguntava o que eu queria fazer no fim de semana.

Você sempre deixava a toalha molhada em cima da cama e o tubo de creme dental aberto em cima da pia, mas nunca reclamava dos fios ruivos que se espalhavam pelo banheiro quando eu secava o cabelo. Você odiava tirar o pó dos móveis, mas se responsabilizava por essa tarefa doméstica para me poupar das minhas crises alérgicas. Você nunca foi um cara muito romântico, mas naquela época em que eu precisei retirar as amígdalas você fez questão de enviar um buquê de lírios lá pra casa. Quer saber de um segredo? Eu sei que não foi você quem escreveu o cartão, mas não se preocupe, amei a surpresa mesmo assim.

Ao seu lado tudo era tranquilo descomplicado. Você fazia o amor parecer uma tarefa fácil, tão simples quanto preparar aquelas lasanhas congeladas que nós comíamos quando já estávamos enjoados das pizzas. Você fazia com que eu considerasse a ideia de passar a vida toda ao lado de alguém um pouco menos absurda. Na verdade, você me ajudou a perder o medo dessa ideia porque me mostrou que não há problema algum em amar alguém exageradamente assim como eu te amo. Continua sendo difícil encontrar motivos específicos para explicar tudo isso, mas a verdade é que talvez eu tenha me apaixonado porque você era leve, porque quando segurava minhas mãos me transmitia um pouco dessa leveza e então me fazia flutuar junto com você.


*O título do texto é um trecho da música Os Outros da banda Kid Abelha.

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