terça-feira, 24 de abril de 2012

Eles Se Amam


Eles se amam. Todo mundo vê isso, menos eles. Até houve um tempo que tentaram. Ver. Ver o brilho no olhar que as pessoas diziam que havia quando se olhavam. Ver a química que os amigos falavam que eles tinham. Ver o amor que todo mundo via, menos eles. E talvez o problema fosse exatamente esse: eles queriam tanto ver que esqueceram de sentir.

Ele dizia que todos eram loucos, que entre eles não havia mais do que uma amizade bonita. Ela sorria, sem dizer o quanto aquilo a machucava, fingia que estava tudo bem e desconversava.

Desconversava. Porque talvez, apesar de não ver, ela quisesse sentir o que todos diziam que havia entre eles. Porque, talvez, quisesse ser mais do que a amiga de sempre. Mas não falava. Era orgulhosa de mais para dar seu braço a torcer.

Houve uma vez que tentaram. Ficar juntos, mesmos sem ver. Mas apesar de não verem o amor que todos viam, eles enxergavam coisas de mais. Mais do que podiam aguentar. Ele não suportava o orgulho dela. Ela não suportava o fato de que ele não aceitava estar errado. Poucas pessoas a faziam se sentir culpada por tudo, como ele. Poucas pessoas o tiravam do sério, como ela.

Era amor, diziam. Diziam muita coisa. Diziam coisas de mais. Diziam que, calma, eles se amavam, iriam terminar juntos, não haviam dúvidas quanto a isso.

Ela nunca gostou desse verbo. Terminar. Por fim a alguma coisa. Encerrar. Ciclos. Amizade. Namoro. Momento. Amor.

Terminaram.

Depois de tantos náufragos, tentativas, tristezas e lágrimas, resolveram terminar. Não juntos, como todos diziam. Seguiram seus caminhos separados porque haviam fechado o ciclo. Terminado.

Ele caiu em cima do trabalho, fez disso sua maior obsessão. Trabalho. Trabalho. Trabalho. Para ocupar o lugar que ela deixou. As risadas escandalosas que não ouvia mais. O olhar doce e hipnotizante. As mãos que faziam cafuné em seu cabelo. O vazio que mulher alguma conseguia preencher.

Ela caiu em baladas, tequilas e amizades sem sentido. Para não se lembrar dos sorrisos que preenchiam seus dias. Das conversas que ocupavam suas noites. Do corpo, que mais do que mandava embora sua solidão, a fazia sentir-se segura. Do lugar que nenhum outro homem ocuparia.

Eles se amam. Todo mundo via. Menos eles. Podiam ter dado certo. Podiam ter tido um relacionamento invejável. Podia ser eterno. Podiam não terem que arranjar desculpas para esquecerem um do outro, para não se encontrarem. Podiam não ter que dizer que as pessoas eram loucas, que ali era só uma amizade muito bonita, amor de irmãos. E nada mais. Podiam ter sido tudo. Podiam ter sido de verdade. Podiam ter sido para sempre.

Se não tivessem ficados tão preocupados em ver que esqueceram do que realmente importava: de sentir.

4 comentários:

  1. Putz... cheguei aqui atraves da Kau, que postou no tt o link ... muitooo AyA esse lindo esse post, mas triste de certa forma, pois descreveu o que muitas pensam e lamentam. Uma hist tão linda ter acabado de uma maneira tão ... e ter chegado no que estamos hoje. Enfim... ainda acredito! haha

    ResponderExcluir
  2. :O Caramba! Sem palavras!!!!! triste, mas fato!

    ResponderExcluir
  3. Tive que comentar.

    Menina eu queria saber como você nem me conhecia e escreveu minha história. Sou eu em cada linha, em cada vírgula, em cada ponto. Sou eu, ele, nossa história. Af Fernanda, eu amei esse texto.

    " Ver o brilho no olhar que as pessoas diziam que havia quando se olhavam. Ver a química que os amigos falavam que eles tinham. Ver o amor que todo mundo via, menos eles." A grbtr sem dúvidas.

    Amei esse texto demais. <3

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. (só não sou eu nas baladas, na verdade. mas me embebedei de textos para esquecer, ou tentar Hahaha)

      Excluir

Comentários

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Compartilhe