quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Eu Ainda Sou Sua



Eu tentei tanto dizer à mim mesma que você se foi
E embora você ainda esteja comigo
Eu tenho estado sozinha por todo esse tempo
My Immortal -Evanescence

Eu ainda sou aquela que odeia café frio e se recusa a requenta-lo porque odeia esse gosto diferente que acusa que nunca mais vai ser o mesmo. Eu ainda sinto muito frio à noite e ando descalça pela casa toda e sou incapaz de lavar meus pés antes de deitar por preguiça mesmo.  Eu ainda odeio levantar cedo, só que agora ninguém escuta mais minhas reclamações de que deveria ser proibido por lei levantar antes das nove.

Eu ainda quase morro de cólica, só que ninguém mais segura a minha mão, me chama de fresca e diz que estou horrível fazendo a histérica. Eu ainda tenho TPMs horrorosas, mas só sobrou meu reflexo no espelho para gritar. Eu ainda continuo aquela chorona incurável. E ainda pareço uma desesperada quando vou em casamento e a noiva vai jogar o buquê. Porque é, eu ainda morro de medo de ser mais uma dessas velhas mal amadas ressentidas por nunca terem casado.

Eu ainda escuto aquela que foi a nossa música todos os dias antes de dormir. A diferença é que agora ela não é mais nossa. É só minha. Você perdeu o ritmo, esqueceu a melodia e me deixou dançando sozinha. Eu ainda acho meu trabalho um saco. É verdade que depois que você se foi eu já troquei de escritório umas duas vezes, mas continua tudo igual, inclusive minha paciência.

Eu ainda me corto frequentemente na cozinha. E, sim, eu ainda sou péssima como cozinheira. Eu ainda sofro de insônias por dias seguidos. Eu ainda estou lendo aquele livro que estava na minha cabeceira antes de nossa última briga. E eu ainda continuo achando o jeito desse escritor ver as coisas um porre. Mas eu ainda não desisti da leitura.

Eu ainda sou viciada no seu sorriso, não acho nada mais lindo do que aquela sua risada sonora. E eu ainda te procuro por aí sempre que me arrisco a conhecer outros caras. Eu ainda acho política um saco e ainda não entendo nada de economia. Mas agora assisto futebol aos domingos em uma homenagem simbólica a você –embora você não mereça nem um pouco minha homenagem.

Eu ainda confiro o celular vinte vezes ao dia para ver se você não mudou de ideia. É, eu ainda te espero voltar pela mesma porta que você saiu. Eu ainda tenho vontades loucas de ir atrás de você. E eu ainda continuo a mesma medrosa de sempre. Eu ainda prefiro o verde ao azul, desde que te encarei pela primeira vez.

Eu ainda sou aquela que te acariciava antes de você dormir. Eu ainda sou aquela que te ajudou quando você mais precisava, aquela que te amou de todo coração e ainda sou quem te segurou com mais força no mundo. Eu ainda sou os sonhos que planejamos juntos, os planos e as metas que traçamos. Eu ainda sou aquela por quem você jurou amor eterno, e eu ainda acredito no eterno –embora nem tanto mais no amor. –Eu ainda sou sua e eu ainda estou esperando você voltar, mesmo sabendo que você não é meu e já esqueceu o caminho que te traria até aqui.

É, como pode ver, eu continuo a mesma boba, ingênua, cega, apaixonada e crente demais no que as pessoas dizem, como você sempre disse que eu era e tantas vezes me pediu pra mudar. E eu ainda estou no mesmo lugar que você me deixou, como uma boneca viva que perdeu sua alma, rezando para que você perceba que ainda me ama e que tudo não passou de um mal entendido. Embora eu ainda tenha a opinião de que relacionamentos são como cafés e que uma vez frio, não importa quão gostoso e irresistível tenha sido, não vale mais a pena esquenta-lo e bebê-lo novamente.

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