–Oi, sou eu –pausa –Eu nem sei porque estou te ligando. Eu
sei que não vai me responder. Mas é que preciso ouvir sua voz. Sabe? Não sei se
você sabe, mesmo. Eu sei que não vou ouvir essa voz por muito mais tempo. E
isso me deixa louco. Tenho medo de perder até isso de você. Já perdi seus
risos, suas piadas, sua presença aqui em casa, sua alma. Agora vou perder sua
voz. Vou gravar num gravador, só para me
lembrar dela, que parece sexy até mesmo numa mensagem de celular. Tenho medo de
te esquecer. Tenho muito medo, sabia?
Pausa. Respiros profundos.
–Olha, foi um dia lindo hoje. Fez um sol esplendido. Todo
mundo foi a praia. Nem parecia dia de inverno. Eu fui também. Me arrastaram. A
areia estava lotada. A água estava gelada. Do jeito que você gosta. Tomei dois
caldos. Quase afoguei. Continuo aquele mineiro que você conheceu mesmo morando
no Rio há mais de dez anos. E o mar continua meu inimigo. Aí eu saí. A água
tava fria, eu disse, fui pro sol. Mas aí o sol tava quente demais. Odeio inverno.
Umas meninas deram de cima de mim. Não se preocupe. Nenhuma era mais linda que você.
Suspiro.
–Tinha uma que te lembrava. Assim. Se olhasse de longe.
Assim. Olhos escuros, cabelos negros e lisos, sorriso aberto. O papo era que era fraco. Eu quase acreditei que era você.
Mas não era. Ela não tinha seu nome. Tomei uma cerveja, mas estava quebrando o
clima dos nossos amigos. Eles andam muito pacientes comigo, desde que tudo
aconteceu. Amigos de verdade mesmo. Pelo menos essa sorte eu tive. Não queria
estragar o domingo de ninguém, porque eu estragava, mesmo eles dizendo que não.
Me despedi e fui pro carro. Passei no supermercado, mas não lembrei o que tinha
que comprar. Minha memória vai de mal a pior. Comprei foi umas flores lindas
para você. Dessas que toda mulher quer. Vinte e quatro rosas vermelhas. Você ia
amar e me encher de beijos, eu sei. A gente até ia esquecer nossa última briga.
Pausa.
–Depois fui ver sua mãe e seu pai. Ela continua aquela
mulher forte de sempre. Não sei como ela consegue. Eu sei o que vai dizer, é
inacreditável que ela e eu tenhamos ficado amigos. Mas é que a dor une, meu
amor. Ela é uma mulher maravilhosa. A mulher que você certamente se tornaria. O
seu pai é como eu. A gente não é tão forte –e isso não quer dizer que te amamos
mais. Não. É só que pra gente é mais difícil. Ele sugeriu uma partida de
xadrez. Mas nenhum dos dois estava com cabeça. Abandonamos. Dei uma passada
pelo seu quarto. Ele continua igual. Ainda há seu cheiro lá, acredita? Tive
vontade de chorar. Mas me segurei. Você sabe que odeio chorar na frente dos
outros. Sua mãe me abraçou. Disse que vai chegar um dia que vamos conseguir
falar de você sem tanta dor. Mas por enquanto é o silêncio que reina. Você não sabe
como é difícil sem você.
Suspiro.
–Sua mãe deixou eu pegar uma foto sua que eu não tinha.
Estou te olhando agora. Em troca, dei aquelas flores pra ela. Elas iam morrer
aqui em casa. Ela quase sorriu. Fiquei feliz por conseguir alegra-la por alguns
instantes. Logo a gente, que vivia se bicando, lembra-se? Quase posso te ouvir
dizer pra eu me aproximar mais de sua mãe...
Sorriso pequeno.
–Hoje nosso time joga. Ele não anda muito bem no campeonato,
mas eu tenho fé. Eu não ando com muita paciência para tv, na verdade, desde
tudo, não tenho mais paciência para nada. Mas acho que vou ver o jogo. Aí eu te
ligo pra contar. Comprei dois ingressos para aquele show que você tanto queria.
Talvez eu vá. Não sei com quem. Não vai ter graça sem você. Não paguei sua
conta de telefone, até queria, mas preciso parar com esse vício. Dói se eu não te
escuto. Dói, mais ainda, quando desligo. Foi uma decisão difícil, mas não faz
mais sentido. Concorda?
Pausa.
–Hoje faz 250 dias que você se foi, meu amor. Parece que foi
ontem. Dói como se fosse ontem. Eu queria ser forte e seguir em frente, como você
pediu. Mas não consigo. Desculpa. Desculpa. Desculpa. Ás vezes acho que você está
aqui. Outra te sinto tão longe... E dói tanto, tanto... Já passei da fase de me
revoltar, mas não aceito. Você era tão linda Você era tão minha. Éramos tão
felizes. Por que você teve que ir embora? Por que te levaram daqui? Olha, não fica
brava se eu não te ligar mais, nem ache que eu te amo menos. Por favor. Eu te
amo muito. Cada dia mais. Como se isso fosse possível. Eu só vou tentar ser
forte, como você queria. Tá legal? Eu preciso seguir em frente, como você pediu.
Te cuida, viu? Seja lá onde você esteja, te cuida, te cuida bem. Te cuida pra
mim. Que eu vou ficar aqui, me cuidando pra você, pra quando a gente puder se
reencontrar. Te amo. Muito. Muito mesmo, meu amor. Mais do que você sequer pode
sonhar.
Tutututu...
Chorei demais!
ResponderExcluirMinha história escrita por uma pessoa que sequer me conhece!
Hoje faz 2 anos e 1 mes que ela se foi, e meu vicio de ligar so para ouvir a voz dela na caixa postal ainda nao conseguir supera-lo!
A alma escreve historias que pessoas vivem, e outras sentem!
MEU DEUS
ExcluirEU chorei com seu comentário </3
Eu tenho que vir todo dia e leer esse texto, nao me canso dele!
ResponderExcluirComo que pode ser a minha historia ai? Escrita assim? =/
Fernanda, você merece ganhar o premio das melhores escritoras do Brasil, do Mundo.
Ainda não consigo acreditar.
Concerteza se a Juh tivesse aqui, ela iria amar seu talento!
AIMEUDEUS
Excluirmenino, cê não quer se identificar via e-mail não?
eu to morrendo com seus comentários hahaha
Meu Deus! Que texto! Nunca li nada tão tocante tão profundo :')
ResponderExcluirPQP! Que texto perfeito, que história linda e emocionante...
ResponderExcluirtira esse texto por favor, já decorei ele inteiro!
ResponderExcluirJulia Przybytovicz Moraes o nome dela.
Meu nome, Lucas dos Santos.
Gente, sério, fico feliz como escritora mas morro com seus comentários como pessoa!!!
ExcluirFernanda.
ResponderExcluirPARA! Chega de me tortura assim?
Eu preciso viver, mais nao consigo, esse texto e todo o enredo que é minha vida não me deixa!
Parece algo divino encontrar algo assim.
Mais uma vez, parabéns pelo seu trabalho!
Lucas dos Santos
:///
Excluir