domingo, 28 de outubro de 2012

3- Virar a Página É O Mais Fácil


"Talvez em algumas das frases seguintes, você acabe esbarrando na história que ficou para trás. Talvez você tenha vontade de reescrever algumas coisas. E descobre: escrever a página dois talvez doa mais do que deixar que a página vire"
Karine Rosa



A página branca continua branca. Eu ainda não tenho coragem de preenche-la. Nossa história ainda está presente em mim. Eu digo todos os dias que não, que você é passado, que já te superei, que já virei a página e estou seguindo meu caminho. Mas não é bem assim. Eu ainda volto a página de vez em quando. Sua história ainda me causa uma dor no peito.

A dor não é mais aguda. Houve um tempo que foi. Houve um tempo que eu achei que sua perda me mataria. Eu perdia o ar. Abandonava o prumo. Desequilibrava mesmo, literalmente. Deixava as lágrimas caírem. Eu chorei muito por você e você não faz nem ideia disso. Agora a dor é mais branda. Dói. E vai doer para sempre. Perder alguém que ama é sempre um trauma. Somos marcados por todas as pessoas que chegam. Somos feridos por todas as pessoas que se vão. E essas marcas são para sempre, essas marcas doem também.

A dor vem quando preciso de colo. Quando preciso de carinho. Quando tenho algo para contar. Aconteceram tantas coisas boa na minha vida e você não tem nem ideia disso. Um dia você disse que eu podia contar com você para sempre. Que estaria aqui para sempre.  Que secaria minhas lágrimas e colocaria aqueles sorrisos que só você conseguia no meu rosto para sempre. Você não ficou. E não foi culpa sua e não estou te culpando. Também não é culpa minha e parei de me culpar. É só a vida, nos ensinando a virar a página. O para sempre sempre acaba. Nos acabamos.

Você foi apenas uma estação em minha vida. Uma estação inesquecível, umas férias de verão que nos marca para sempre, um livro que você nunca esquece-se da história. Você é uma das minhas histórias favoritas. Mas estações não são eternas e precisam mudar. As férias não duram muito. E lugar de livro é na estante. Você está na minha estante agora.

Vou folheá-lo de vez em quando. Reviver essa história. Olhar as fotos das férias que se foram. Não é masoquismo, é só um saudosismo idiota e sem cura. Vou arrancar alguns sorrisos. Talvez você ainda me arranque algumas lágrimas secas. Vai doer porque agora tenho consciência de que acabou. Um câncer incurável nos atacou pelo caminho. Não te odeio pelas dores que me causou. Ainda te amo pela felicidade que me trouxe um dia. Tudo na vida acaba e eu sempre soube.

Virei a página há muito tempo. Mas virar a página é o mais fácil. Preciso agora apontar um caminho. Trilha-lo. Pôr um peso na sua página e parar de lê-la. Pegar uma caneta e começar a escrever na página branca que tanto encaro. Sem dor, sem nostalgia, sem culpas.

Fazer uma nova história. Com novos pontos, novos personagens, novos enredos. Preciso abandonar seu livro e achar outros para ler. Vou começar a escrever na página branca a minha frente. Que dessa vez a história seja maior que apenas uma estação. E que eu não precise virar outra página mais para frente. Porque talvez nem tudo precise acabar, nem todos os livros precisam ser colocados em estantes e nem todo fim precisa nos ferir. Vou começar a escrever na página branca com outra caneta. Tomara que eu consiga. Estou rezando para que consiga. E parar de reviver uma história que não tem mais solução, porque os pontos já foram dados e não podem mais ser mudados. Lá na frente te conto se consegui.

  Ou não.


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